Promessa selada
img img Promessa selada img Capítulo 5 O aconchego e a solidão
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Capítulo 6 Rotinas e inquietações img
Capítulo 7 Uma visita inesperada img
Capítulo 8 O vestido img
Capítulo 9 Movimento calculado img
Capítulo 10 O casamento img
Capítulo 11 O almoço img
Capítulo 12 Despedidas img
Capítulo 13 O silêncio entre eles img
Capítulo 14 O castelo de mármore img
Capítulo 15 Primeiros ajustes img
Capítulo 16 O novo lar e o velho olhar img
Capítulo 17 O jardim e o vazio img
Capítulo 18 O sabor da solidão img
Capítulo 19 O café e a surpresa img
Capítulo 20 Uma pequena trégua img
Capítulo 21 Quebrando rotinas img
Capítulo 22 O piquenique img
Capítulo 23 Segredos e sonhos img
Capítulo 24 O convite img
Capítulo 25 O pior vizinho do mundo img
Capítulo 26 Memórias img
Capítulo 27 Planos para o final de semana img
Capítulo 28 O Santuário dos Bichos img
Capítulo 29 Apenas o começo da jornada img
Capítulo 30 O jato img
Capítulo 31 O ritmo do passado img
Capítulo 32 Finalizando a noite img
Capítulo 33 A viagem está apenas começando img
Capítulo 34 A voz da compaixão img
Capítulo 35 O começo de uma nova jornada img
Capítulo 36 A rotina e a fuga img
Capítulo 37 A fortaleza em ruínas img
Capítulo 38 O desabafo img
Capítulo 39 A essência e a força img
Capítulo 40 O confronto img
Capítulo 41 Ânimos alterados img
Capítulo 42 Uma carta img
Capítulo 43 A conversa no jardim img
Capítulo 44 Planos para o futuro img
Capítulo 45 O voto de confiança img
Capítulo 46 Uma vida monocromática img
Capítulo 47 Gaiola aberta img
Capítulo 48 Um toque familiar img
Capítulo 49 O beijo img
Capítulo 50 Primeiras mudanças img
Capítulo 51 Novidades img
Capítulo 52 A rainha em seu próprio reino img
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Capítulo 5 O aconchego e a solidão

O cheiro de terra molhada e a brisa fresca da noite trouxeram uma paz que Isabela não sentia há dias. Deitada em sua cama, no quarto com vista para os pastos onde os cavalos descansavam, ela sentiu a familiar segurança do seu mundo. Mas um pensamento intrusivo, de olhos castanhos e terno de alfaiataria, a assombrava.

Sua mãe, Clarice, entrou em seu quarto e sentou-se na beira da cama, a mão macia e carinhosa em seu cabelo. Clarice tinha a mesma doçura nos olhos que Isabela carregava na alma, e uma sabedoria tranquila que sempre a confortava.

"Eu sei que você está assustada, meu amor," a mãe começou, a voz suave. "Seu coração é grande demais para caber em uma gaiola. Ele vai encontrar um jeito de respirar, mesmo lá."

Isabela se virou, os olhos cheios de lágrimas. "Mas por que, mãe? Por que ele me escolheu? O testamento, o dinheiro, tudo isso parece tão sem sentido. E ele... ele é uma máquina, não uma pessoa."

Clarice sorriu, um sorriso que iluminou o quarto. "Talvez, meu amor, esse avô tenha visto algo em você que nem você mesma vê. O amor pelos animais, a paixão, a força. Ele viu algo que faltava na vida daquele neto."

"Não vai adiantar nada. Ele é frio, calculista. Eu mal consigo respirar perto dele. E essa promessa de 'fidelidade'..." Isabela suspirou, a voz cheia de desespero. "Parece que estou vendendo minha alma, mãe."

"A alma é a única coisa que não se vende, Isabela. Você pode ter um papel assinado, um contrato, mas a sua alma, o seu coração... esses são seus. E ninguém pode tirá-los de você. Nem mesmo ele."

O abraço de sua mãe era o único antídoto para o medo que sentia. Ela se agarrou a ele, sentindo a esperança florescer, um pequeno e frágil broto, em meio ao solo árido daquele acordo.

Por outro lado, a mansão dos Albuquerque era um monumento à ausência.

Rafael estava sozinho, como sempre. A mãe, falecida há muito tempo, e o pai, um fantasma que só voltava de suas viagens pelo mundo quando precisava de mais dinheiro. O único laço de afeto que Rafael já havia tido, o avô materno, o patriarca Fernando, também se fora.

Rafael subiu as escadas, a mão deslizando pelo corrimão de madeira escura. Cada centímetro daquela casa, cada quadro, cada objeto de arte, lembrava-o de seu avô. Um homem que o amou e o preparou para o futuro, que o ensinou a ser um homem de honra, mas que, no fim, o deixou com um fardo que Rafael não queria carregar.

O avô era a sua rocha, seu mentor, a única pessoa que o entendia de verdade. Foi ele quem o apoiou quando sua mãe, uma mulher sensível e deprimida, definhou e morreu, sozinha, abandonada pelo marido que vivia na boemia. Rafael, ainda um adolescente, viu a dor e a solidão consumirem-na, enquanto o pai, um boêmio inconsequente, vivia para o hedonismo e o dinheiro. A avó materna de Rafael, devastada pela morte da filha, se recolheu em sua dor e se tornou uma figura ausente em sua vida. A frieza de Rafael era sua armadura, sua forma de nunca mais sentir a dor da perda e da traição.

Ele entrou no escritório do avô. A sala estava intocada, um santuário de memórias. Rafael caminhou até a mesa e pegou uma foto: o avô, sorrindo, ao lado de um cavalo. A ironia da situação o atingiu como um soco. O testamento, a escolha de Isabela... tudo para garantir que o neto aprendesse a viver, a amar, a ser mais do que uma máquina.

"Você sempre soube, não é, vovô?" sussurrou ele para a foto. "Você sabia que eu precisava ser consertado."

Ele fechou os olhos, o rosto impassível. Sentiu o vazio, o silêncio da casa, a falta do calor que nunca teve. E, pela primeira vez em muito tempo, a imagem da mulher de olhos verdes e sorriso iluminado, que o enfrentou sem medo em sua própria fortaleza, o fez questionar se a solidão, que tanto o protegia, não era, na verdade, a sua maior prisão.

                         

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