Eu saí correndo pelo corredor, mas precisei encostar na parede para recuperar o ar. O peito subia e descia sem controle, e minhas mãos tremiam como se não fossem minhas. Eu nunca tinha visto... aquilo. O corpo de um homem. O órgão genital tão de perto.
Sempre me mantiveram afastada, trancada, cuidada como uma boneca que não podia sequer saber o que existia além da própria dor, depois casei com o demônio que não tinha pênis. Não gostava de mulher e me mantinha por ódio e status. Digo isso porque desconfiava que ele gostava de homens.
E agora... santo Dio, eu tinha visto. Não em livros, não em cochichos. De verdade.
Um misto de raiva e confusão me atravessava. Como ele podia? Como aquele bastardo aparecia com toda a arrogância do mundo, dizia que iria casar comigo, que eu era a "futura esposa do Don", e logo em seguida deixava outra mulher se ajoelhar diante dele... fazendo algo tão íntimo?
O coração disparava, mas a mente gritava: não importa, Lucia. Você não vai casar com ele de verdade. Não vai e nem pode. Só precisa se acalmar e aguentar.
Foi quando a porta do quarto abriu de repente. Dei um pulo, o corpo inteiro em alerta, e corri para a parede oposta, como se a distância fosse me proteger.
- Estava mesmo com fome? - a voz dele veio baixa, carregada. - Ou foi me espiar?
Senti as pernas falharem.
- N-não... eu estava com fome. - respondi, rápido demais, tentando disfarçar o nó na garganta.
E era verdade, eu não conseguia dormir com a barriga roncando.
Ele se aproximou, devagar, até esticar a mão e prender uns fios do meu cabelo entre os dedos. Olhou nos meus olhos, e parecia que me despia só com aquele olhar.
- Você está ofegante... - murmurou, como se tivesse descoberto um segredo. - Espantou a minha foda. Agora vai comer alguma coisa. E depois... vamos resolver isso.
Arregalei os olhos.
- Resolver como?
O sorriso dele foi lento, perigoso.
- Vai terminar o que começou.
Meu corpo gelou. Não respondi. Apenas deixei que ele me guiasse até a cozinha, os pés quase arrastando no chão frio.
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O ambiente era amplo, limpo, mas não parecia ter vida. Peguei alguns ingredientes da dispensa, sem pensar direito, e comecei a jogar coisas na frigideira. O barulho do óleo chiando me fez sentir útil, como se cozinhar fosse um escudo contra ele.
- O que está fazendo? - ele perguntou, encostado no balcão, observando de cara feia.
- Comida. - murmurei, concentrada em fingir normalidade. - Eu disse que estava com fome.
Coloquei alho, cebola, tomates, pedaços de pão duro e até batata no meio, tudo junto, eu queria muito comer.
- Basta! - a voz dele cortou o ar. Deu dois passos, tirou a frigideira da minha mão e jogou tudo na pia. - Vai matar alguém desse jeito.
Abri a boca, indignada, mas ele apenas riu. Riu.
- Senta aí. - apontou para a cadeira. - Vou fazer ovos mexidos. Aprendi com a minha mãe.
Eu ainda o olhava desconfiada, mas acabei obedecendo, me sentando devagar, o roupão apertado no corpo.
Ele abriu a geladeira, pegou ovos, leite e manteiga, e começou a preparar com movimentos seguros, quase... leves. Não era o mesmo homem que me arrastara pelo quarto horas atrás.
- Não imaginei que um Don soubesse cozinhar. - soltei, sem pensar.
Ele ergueu uma sobrancelha, mexendo os ovos na frigideira.
- Não sou Don, ainda. Mas minha mãe sempre disse que um homem que não sabe se virar sozinho, não merece comandar nada. Temos várias cozinheiras, mas não vou acordar ninguém porque quero comer ovos a esse horário.
Mordi o lábio, surpresa com a resposta.
O cheiro começou a preencher a cozinha. Simples, mas acolhedor. Ele serviu em dois pratos, trouxe até a mesa e sentou-se de frente para mim.
- Prova. - ordenou, mas sem dureza.
Levei uma garfada à boca. O gosto era suave, diferente do que eu esperava. O peito afrouxou um pouco.
- Não está ruim.
Ele riu baixo.
- "Não está ruim"? - repetiu, com sarcasmo. - Melhor do que sua catástrofe na frigideira, com certeza.
Revirei os olhos, mas, pela primeira vez, um sorriso ameaçou escapar. Só que o escondi rápido, abaixando a cabeça.
Por alguns minutos, só ouvimos o barulho dos talheres. A tensão parecia menor, como se a cozinha fosse um território neutro, onde ninguém precisava gritar ou se desafiar.
E então percebi. Ele não era só aquele monstro arrogante que me arrastava pelos corredores. Havia algo mais ali. Algo que me confundia.
E isso, talvez, fosse ainda mais perigoso.
Quando terminei de comer, ele me olhava estranho. Seus olhos verdes pareciam me despir.
- O que foi? - perguntei com os olhos baixos.
- Quero você na minha cama, e agora.
Ferrou.