Na frente de toda a nossa alcateia, ele me rejeitou publicamente, um ato brutal que destroçou nosso laço sagrado e rasgou minha alma em duas. Ele permitiu que sua nova noiva me acusasse de traição, destruísse meu lar e apagasse minha história. Ele ficou parado enquanto seus guerreiros atiravam pedras banhadas em prata na minha cabeça, e depois me ordenou que ajoelhasse e pedisse desculpas por um crime que não cometi.
O homem por quem eu teria morrido me quebrou por poder e ambição. Então ele veio até mim nas ruínas da minha vida e me pediu para ser sua amante escondida, seu prêmio secreto trancado do mundo.
Eu recusei. Escapei de sua tirania, me reconstruí das cinzas e encontrei um novo amor com um verdadeiro Alfa que viu meu valor. Tornei-me uma Luna por direito próprio, poderosa e finalmente livre. Mas a obsessão do meu companheiro rejeitado apodreceu. Um ano depois, ele me atraiu para uma armadilha. A última coisa que me lembro é a picada de uma agulha no meu pescoço e sua voz arrepiante sussurrando: "Está na hora de irmos para casa."
Capítulo 1
PONTO DE VISTA DE ELARA MENDES:
O cheiro de pinho e terra úmida pairava no ar, um conforto familiar que geralmente acalmava minha alma. Naquela noite, não fazia nada para aliviar a batida frenética do meu coração. A lua cheia estava a horas de seu auge, uma promessa de prata suspensa no céu que escurecia.
Era a noite da cerimônia de Ascensão. A noite em que nosso Alfa, Lucian Montenegro, se dirigiria formalmente à alcateia.
E a noite, eu tinha certeza, em que ele finalmente me anunciaria como sua companheira. Sua Luna.
Um arrepio, intenso e doce, percorreu meu corpo. Alisei o vestido simples de cor creme que havia escolhido. Não era tão luxuoso quanto o que as outras lobas usariam, mas eu esperava que ele me visse nele e se lembrasse das noites que passamos perto do riacho, sonhando com nosso futuro.
Ele andava distante nas últimas semanas. Quando tentei alcançá-lo através do nosso link mental, a conexão que compartilhávamos como companheiros, suas respostas eram curtas, secas.
"Lucian? Você vem para as cozinhas hoje à noite?"
Uma pausa que pareceu uma eternidade. "Ocupado, Elara. Assuntos da alcateia."
As palavras eram um muro de pedra, me excluindo. Mas eu inventei desculpas para ele. Ele era um Alfa, o líder da poderosa Alcateia da Lua Negra. Suas responsabilidades eram imensas. Ele carregava o peso de todos nós em seus ombros largos.
Ainda assim, um verme de dúvida começou a se contorcer em meu estômago. Eu precisava de confirmação. Precisava ver por escrito.
Foi isso que me trouxe aqui, aos arquivos silenciosos e empoeirados do Conselho de Anciãos. Os registros oficiais da alcateia eram mantidos aqui, encadernados em antigos tomos de couro.
O velho escriba, um Ômega gentil chamado Silas, ergueu os olhos para mim por cima dos óculos. "Elara. O que a traz aqui em uma noite como esta? Você não deveria estar se preparando para a cerimônia?"
Minhas mãos estavam suadas. "Eu só... eu queria ver uma coisa, Silas. Para confirmar. O registro de companheiras do Alfa."
Seus olhos gentis se encheram de pena, um olhar que eu não entendi. Ele hesitou, depois suspirou e se virou para um livro pesado, de capa vermelha escura, em um pedestal. Ele não precisou procurar a página. Sabia exatamente onde estava.
"Lucian Montenegro", ele leu suavemente. "Companheira: Lady Seraphina Vexler."
O nome me atingiu como um soco no estômago. Minha respiração ficou presa na garganta. Parecia que o mundo tinha virado de cabeça para baixo, me jogando em um vazio frio e escuro.
"Não", sussurrei. "Isso... isso é um erro. Eu sou a companheira dele. A Deusa da Lua me mostrou."
Silas não conseguia me encarar. Ele apontou um dedo trêmulo para o registro. "O laço foi formalizado há dois meses. Um rito de sangue secreto, sancionado pelo próprio Alfa Montenegro."
Dois meses atrás.
Uma memória brilhou em minha mente, tão vívida que me deixou enjoada. Lucian, seus olhos escuros intensos, segurando uma pequena faca de prata. "Apenas uma gota de sangue, meu amor", ele murmurou, sua voz uma carícia de veludo. "Um ritual de lealdade. Para te ligar à alcateia. Para te ligar a mim."
Eu a dei livremente, com amor. Eu acreditei nele.
Meu sangue. Ele usou meu sangue para um contrato do qual eu não sabia nada, para se ligar a outra mulher.
A dor era tão imensa, tão avassaladora, que eu não conseguia respirar. Apertei meu peito, tentando forçar o ar para dentro dos meus pulmões. Eu o alcancei através do link mental, meus pensamentos um grito desesperado.
"Lucian! O que é isso? O que você fez?"
Por um momento, senti sua presença, um calor familiar agora manchado de gelo. Então, com uma finalidade brutal, ele cortou a conexão. O silêncio em minha cabeça era ensurdecedor, um eco oco onde ele costumava estar.
"Quando?", engasguei, minha voz mal um sussurro. "Quando ele vai... ficar com ela?"
Silas finalmente olhou para mim, seu rosto uma máscara de tristeza. "A cerimônia de união formal é hoje à noite, Elara. Na Ascensão."
As peças se encaixaram, formando uma imagem de traição tão monstruosa que roubou o ar dos meus pulmões. O futuro no qual eu havia derramado toda a minha alma, o amor que eu havia nutrido em segredo, tinha sido uma mentira. Ele já havia entregado tudo.
A dor era um maremoto, mas algo mais surgiu das profundezas: uma raiva quente e ardente que queimou as lágrimas.
Ele não faria isso comigo nas sombras. Ele não me descartaria como um brinquedo quebrado.
Virei-me e corri dos arquivos, meu vestido simples parecendo uma fantasia de tola. Eu iria para aquela cerimônia. Eu iria ficar diante do meu Alfa e de toda a alcateia.
E eu iria exigir a verdade.
Quando saí para o ar fresco da noite, uma figura alta saiu das sombras. O Ancião Valério, seus cabelos prateados brilhando no crepúsculo, seus olhos afiados com uma sabedoria que não perdia nada. Ele olhou para mim, e em seu olhar, vi um lampejo de reconhecimento, uma sombra de uma velha tristeza.
"Você tem o fogo de sua mãe", disse ele, sua voz baixa. "E o coração teimoso dela. Entendo por que ele tem medo de você."