Dirigi de volta para a cobertura, o lugar que eu antes chamava de nosso lar. Agora, cada objeto parecia zombar de mim. A foto na lareira de nós sorrindo em uma praia, o braço dele firmemente em volta de mim. O delicado colar de pedra da lua que ele me deu em nosso primeiro aniversário, uma pedra que deveria simbolizar a bênção da Deusa da Lua em nossa união.
Uma onda de repulsa física me invadiu.
Encontrei uma caixa de grandes sacos de lixo pretos debaixo da pia. Com uma fúria que eu não sabia que possuía, comecei a purga. As fotos foram as primeiras, o som de vidro quebrando uma satisfação sombria. O colar de pedra da lua veio em seguida, sua corrente de prata tilintando contra os cacos de vidro. Cada presente, cada lembrança, cada coisa que me ligava a ele e aos cinco anos de mentiras foi para os sacos.
Quando terminei, o apartamento parecia austero e vazio, despojado de todo calor. Comecei a arrumar minhas próprias coisas - minhas roupas, meus livros de arquitetura, minhas ferramentas de desenho. Minha vida.
Dante não voltou para casa naquela noite.
Ele finalmente apareceu na noite seguinte, entrando como se nada estivesse errado. Ele me abraçou por trás, enterrando o rosto no meu pescoço.
"Senti sua falta", ele murmurou, sua voz um ronronar baixo.
Mas tudo o que eu conseguia sentir era o cheiro dela. O perfume enjoativo de Cassandra, um cheiro de beladona e falsidade, grudado em sua pele. E por baixo, o cheiro fraco e leitoso de um filhote.
Eu enrijeci e me afastei.
"O que há de errado?" ele perguntou, a testa franzida com falsa preocupação.
Decidi testá-lo uma última vez. "Eu estava pensando", disse eu, mantendo a voz firme. "Talvez você estivesse certo em esperar, mas... eu realmente quero um filhote, Dante. Para solidificar nosso laço. Para nos tornar uma família de verdade."
Sua expressão se contraiu. "Selena, já conversamos sobre isso. A alcateia precisa da minha total atenção. Há ameaças de renegados na fronteira. E as tensões com a Alcateia do Riacho de Prata são... delicadas. Não é o momento certo."
Outra mentira. O momento certo simplesmente não era comigo.
Como se fosse um sinal, seu comunicador particular vibrou no balcão. Ele olhou para a tela e rapidamente a virou.
"É o meu Beta", disse ele, seu tom seco. "Um relatório de emergência. Tenho que ir."
Ele beijou minha testa, um gesto que pareceu frio e sem sentido, e saiu apressado pela porta.
Esperei até ouvir as portas do elevador se fecharem antes de ir até o balcão. Ele estava com tanta pressa que deixou seu comunicador reserva para trás. Minhas mãos tremiam enquanto eu o pegava.
A tela se iluminou com uma nova mensagem. Era de Cassandra.
"Ruan está com febre. O lobo dele está inquieto. Ele não para de chamar pelo pai Alfa dele."
Uma dor aguda e cólica tomou meu abdômen. Dobrei-me, ofegante. As mentiras, o estresse, o coração partido - tudo era um peso físico me pressionando. Tropecei até o banheiro e vomitei, meu corpo convulsionando com a força da minha dor.
No dia seguinte, não fui ao meu estúdio. Fui à Curandeira da alcateia, sozinha.
Ela era uma senhora idosa e gentil que me conhecia desde que entrei na alcateia. Depois de alguns exames, ela voltou para a sala de exames, seu rosto radiante.
"Parabéns, minha querida", disse ela, sua voz calorosa. "Você está carregando um filhote forte e saudável."
Ela deu um tapinha na minha mão.
"Seis semanas. O Alfa ficará emocionado. Um herdeiro está a caminho."