Lá dentro, a gala estava a todo vapor. O salão que eu havia projetado era de tirar o fôlego, com tetos altos e janelas que emolduravam o céu estrelado. Dante desempenhou seu papel perfeitamente, sua mão sempre na base das minhas costas, seus olhos cheios do que parecia ser adoração.
Ele fez um grande discurso, elogiando meu talento e nosso "laço inquebrável". Então, ele me presenteou. Era um anel, uma peça deslumbrante com uma enorme obsidiana negra polida no centro.
Meu sorriso vacilou. Obsidiana negra era a pedra característica da Alcateia do Riacho de Prata. A alcateia de Cassandra. Ele estava me celebrando com um símbolo dela.
A sala aplaudiu, alheia. Senti um pavor frio subindo pela minha espinha.
Então, aconteceu. Uma pequena figura atravessou a multidão de pernas, indo direto para o palco. Era Ruan.
Ele se lançou nas pernas de Dante, agarrando-se a ele como uma lapa.
"Papai!" ele gritou, sua vozinha amplificada pela acústica do salão. Ele apontou um dedo gordinho diretamente para mim. "Papai! A mamãe disse que essa é a mulher má! A que quer te levar para longe de nós!"
Um suspiro coletivo percorreu a sala. A conversa educada morreu, substituída por uma tempestade de sussurros chocados e Elos Mentais frenéticos. A fachada perfeita do Alfa Dante e sua companheira de alma foi rasgada em pedaços na frente de toda a elite dos lobisomens.
O rosto de Dante era uma máscara de horror. "Ruan, fique quieto", ele sibilou. Ele tentou usar seu Comando de Alfa, o poder irresistível em sua voz que compelia à obediência. *"Fique em silêncio!"*
Mas o Comando não teve efeito em seu próprio sangue. Ruan apenas chorou mais alto.
Cassandra escolheu aquele momento para fazer sua entrada, correndo para frente com um olhar de pânico fingido. "Oh, meu Deus! Ruan, querido, venha para a mamãe!" ela arrulhou, tentando arrancá-lo de Dante. Mas o menino não soltava.
Meus olhos foram atraídos para o pulso do menino. Ele usava uma pequena pulseira feita de couro trançado e enfiada com presas de lobo polidas. Minha respiração engasgou. Eu havia feito aquela pulseira para Dante dois anos atrás, um amuleto de proteção tecido com minhas próprias mãos. Agora estava no pulso de seu filho ilegítimo.
Dei um passo à frente, precisando de um olhar mais atento, precisando ter certeza. "Aquela pulseira..." comecei a dizer.
Meu movimento foi um erro. Foi puro instinto. O lobo interior de Dante, primitivo e impensado, viu apenas uma ameaça se movendo em direção ao seu filhote. Não me viu, sua companheira. Viu perigo.
Ele me empurrou. Com força.
"Fique longe dele!" ele rugiu.
Eu estava completamente despreparada. Perdi o equilíbrio, tropeçando para trás. Minha cabeça bateu na quina de pedra afiada da enorme lareira. Uma explosão de dor explodiu atrás dos meus olhos.
Mas uma dor pior, uma sensação nauseante e dilacerante, rasgou meu abdômen. Olhei para baixo. O branco puro do meu vestido já estava florescendo com uma mancha horrível de carmesim.
O mundo começou a girar. A última coisa que vi antes que a escuridão me consumisse foi Dante. Ele não estava olhando para mim. Ele estava agachado, cuidando de um pequeno arranhão no joelho de seu filho, completamente alheio à sua companheira sangrando no chão. Ele pegou o menino nos braços e, com Cassandra ao seu lado, abriu caminho para fora da sala, deixando-me para os olhares desdenhosos e piedosos da multidão.