APAIXONADA PELO MELHOR AMIGO DO MEU PAI - PARTE 1.
img img APAIXONADA PELO MELHOR AMIGO DO MEU PAI - PARTE 1. img Capítulo 5 O PERFUME DA DESPEDIDA.
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Capítulo 6 ESTRELAS NÃO DIZEM ADEUS. img
Capítulo 7 ENTRE ECOS DA SAUDADE. img
Capítulo 8 MEMÓRIAS img
Capítulo 9 A ÚLTIMA PRIMAVERA. img
Capítulo 10 O LEGADO. img
Capítulo 11 O DIA EM QUE ELE VOLTOU. img
Capítulo 12 ANOS DEPOIS DA TEMPESTADE. img
Capítulo 13 O PRIMEIRO AMOR. img
Capítulo 14 TREZE ANOS E SEGREDOS. img
Capítulo 15 O MELHOR DIA DA MINHA VIDA. img
Capítulo 16 AOS DEZESSEIS. img
Capítulo 17 O AMOR QUE SÓ EU CULTIVEI. img
Capítulo 18 DIVIDINDO-O. img
Capítulo 19 ELA VEIO PARA MUDAR TUDO. img
Capítulo 20 DOENTE DE AMOR. img
Capítulo 21 O QUE NUNCA FOI MEU. img
Capítulo 22 QUANDO ELA INVADIU NOSSO PEQUENO MUNDO. img
Capítulo 23 O PREÇO DO CIÚMES. img
Capítulo 24 MEU PRIMEIRO AMOR IMPOSSÍVEL. img
Capítulo 25 O ABISMO. img
Capítulo 26 SE LIBERTANDO DAS GRADES DA DOR. img
Capítulo 27 O CASAMENTO DE HANIEL. img
Capítulo 28 SOFRENDO POR AMOR. img
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Capítulo 5 O PERFUME DA DESPEDIDA.

Mally O'Brian.

"Aqueles que amamos nunca morrem, apenas partem antes de nós." - Provérbio Irlandês.

O silêncio da casa é insuportável, diferente do silêncio confortável de algumas noites passadas. É um silêncio que vibra com a ausência dela. A luz do sol entra pelas janelas, mas não consegue aquecer o frio que se instala em meu coração, um frio que não vem do ar, mas de um vazio profundo, um buraco negro que se abriu em meu peito. Quando saí da escola à tarde naquele dia, estranhei a tia Rouse estar me esperando. Assim que me aproximei, já percebi que havia algo errado. Seus olhos estavam vermelhos, suas mãos tremiam ligeiramente quando segurou as minhas. Entrei no carro e viemos para casa, o trajeto todo em silêncio, apenas o som do motor e meus pensamentos correndo descontroladamente.

O cheiro familiar da casa está diferente, mais fraco, como se o perfume suave da mamãe tivesse se esvaído junto com sua presença, deixando para trás apenas um eco tênue, uma lembrança quase imperceptível que me faz procurar por ela em cada canto.

Estou sentada na sala de estar, abraçando meus joelhos, o tecido da minha roupa áspero contra a pele. Os dias se misturam, borrados em uma sequência confusa de desespero e negação. Um relógio na parede marca o tempo indiferente à minha dor, cada tique-taque uma lembrança cruel de que o mundo continua girando mesmo quando o meu parou.

Hoje não fui para a escola, faz dois dias que mamãe foi levada para o hospital, e ficar apenas esperando me deixa ansiosa, nervosa e com um medo avassalador – o medo dela não voltar. Papai disse que os médicos queriam fazer mais exames, que ela estava muito fraca, mas que ainda havia esperança. Mas os olhos dele diziam outra coisa, uma verdade que ele tentava esconder de mim.

Minha pele está fria, meus dedos estão gelados. Tento esfregá-los para gerar algum calor, mas é inútil. Esse frio vem de dentro, de um lugar que nenhum cobertor ou lareira conseguiria alcançar. Observo as fotos na parede, momentos congelados de uma felicidade que agora parece ter pertencido a outra vida, a outra pessoa.

Tia Rouse está andando de um lado para o outro, seus passos quase ritmados, um contraponto ansioso ao silêncio opressivo. Suas mãos se movem nervosamente, ajeitando objetos que não precisam ser ajustados, arrumando almofadas já arrumadas, numa tentativa desesperada de manter a sanidade em meio ao caos emocional.

O telefone toca, um som estridente que corta o ar como uma faca afiada, me fazendo focar nele com os olhos arregalados. Meu coração dá um salto doloroso no peito e, por um instante absurdo, penso que pode ser ela ligando para dizer que tudo não passou de um pesadelo e que agora está bem, que voltará para casa conosco.

Tia Rouse o atende, sua mão trêmula envolvendo o aparelho. Ela ouve por alguns segundos e fecha os olhos com força, fazendo meu coração acelerar como um animal assustado. Seus lábios se apertam, e percebo que está tentando conter as lágrimas. Ela sussurra algumas palavras que não consigo ouvir, depois desliga e coloca o telefone no gancho com um cuidado excessivo, como se temesse quebrá-lo, ou talvez como se estivesse ganhando tempo.

Finalmente, ela se vira para mim, e seus olhos estão marejados, cheios de uma compaixão que faz meu estômago se contrair dolorosamente. Meu coração em meu peito parece uma britadeira. Me endireito, olhando-a com firmeza, engolindo em seco e esperando o pior.

- Querida - ela diz, a voz tremendo -, seu pai pediu para eu te levar ao hospital. Ele quer que você se despeça da mamãe.

As palavras ecoam na minha cabeça como um eco distante. Despedir? Isso significa... isso significa que ela vai...?

Queria dizer que ainda preciso dela. Que ainda não sei fazer trança sozinha. Que ainda tenho medo do escuro. Que ainda espero por ela na porta da escola, mesmo quando sei que não vai aparecer. Como posso me despedir se ainda tenho tantas perguntas que só ela sabe responder?

- Ela ainda está... ela ainda pode me ouvir? - pergunto, minha voz saindo mais pequena do que pretendia.

Tia Rouse se aproxima e se ajoelha na minha frente, segurando minhas mãos com gentileza.

- Sim, querida. Ela está muito fraca, mas ainda está conosco. Seu pai achou importante que vocês tenham um momento juntas.

Me levanto, as pernas pesadas como se fossem feitas de chumbo. Tia Rouse pega sua bolsa, ajeitando-a no ombro com um movimento mecânico. Seguimos para a porta da sala, meus passos automáticos, desconectados da minha vontade. Assim que passo por ela, solto o ar que nem percebi estar segurando, como se tivesse acabado de emergir de águas profundas.

A viagem até o hospital é um borrão de imagens e sons confusos, um turbilhão de emoções que me deixa tonta e sem fôlego. Observo a paisagem que passa rapidamente pela janela – casas, árvores, pessoas nas calçadas, todas vivendo suas vidas normais, todas inconscientes da tempestade que me consome por dentro. Como podem continuar assim? Como o mundo pode permanecer o mesmo quando o meu está desmoronando?

Lá fora, o mundo continua. Aqui dentro, o tempo parece suspenso, como se o universo estivesse prendendo a respiração. É como se eu estivesse presa em um filme triste, enquanto todos ao redor seguem em comédias leves.

O ruído do motor do carro, a música baixa do rádio que tia Rouse ligou numa tentativa vã de preencher o silêncio, as buzinas ocasionais de outros veículos, tudo se mistura em um único e angustiante som. Fecho os olhos por um momento, tentando organizar meus pensamentos, mas só consigo ver o rosto dela na última vez que nos vimos – pálido, mas ainda sorrindo para mim. Abro os olhos rapidamente, como se pudesse escapar da memória.

O carro faz uma curva suave e o hospital aparece à nossa frente, um edifício branco e imponente que, para mim, parece mais uma prisão, um lugar que rouba vidas ao invés de salvá-las. Tia Rouse estaciona, seus movimentos cuidadosos, quase hesitantes. Ela desliga o motor e ficamos sentadas em silêncio por alguns segundos. Vejo suas mãos apertando o volante, os nós dos dedos brancos pela pressão.

- Você está pronta? - ela pergunta, a voz suave e cuidadosa.

Não, quero gritar. Nunca estarei pronta para isso. Nunca estarei pronta para dizer adeus a ela. Mas apenas aceno com a cabeça, incapaz de confiar na minha voz neste momento.

Descemos do carro e o ar frio me envolve como um lençol de gelo, penetrando meus ossos, me deixando trêmula. Não sei se tremo pelo vento frio ou pelo medo do que me espera dentro daquelas paredes brancas.

Passamos pelas portas automáticas e o cheiro característico de hospital invade minhas narinas. O som de passos apressados, vozes baixas e o ocasional bipe de equipamentos médicos criam uma sinfonia angustiante que me faz querer tapar os ouvidos e correr.

O corredor parece se estender infinitamente à nossa frente, cada passo é um esforço monumental. Cheira a álcool em gel e medo. Tia Rouse não fala, apenas anda abraçada comigo, segurando meu ombro com força, os nós dos dedos brancos e tensos, como se estivesse tentando me segurar, me ancorar em meio à tempestade que está em meu peito.

Passamos por quartos com portas fechadas, cada uma escondendo histórias de dor, esperança, luta e perda. Algumas enfermeiras que já me conhecem de tantas idas e vindas me olham com um misto de compaixão genuína, outras com a indiferença profissional de quem vê isso todos os dias. Elas sabem, percebo. Para elas, somos apenas mais uma família enfrentando o inevitável.

Finalmente, chegamos ao quarto dela. A porta está entreaberta e posso ouvir o som dos monitores cardíacos, um ritmo que antes era constante e agora parece mais lento, mais frágil, um acompanhante constante da minha angústia, um lembrete da fragilidade da vida. Hesito por um instante e sinto a mão da tia Rouse apertar gentilmente meu ombro, um gesto silencioso de apoio.

Respiro fundo e empurro a porta, entrando no quarto onde minha vida está prestes a mudar para sempre. O ambiente é dominado por um cheiro metálico que se mistura com o doce e familiar perfume da mamãe, um perfume que agora parece mais fraco, como se estivesse se despedindo junto com ela.

Meu pai está sentado ao lado da cama, segurando a mão dela entre as suas. Ele ergue o olhar quando entramos, e seus olhos, geralmente tão cheios de vida e força, agora estão opacos, vermelhos de tanto chorar, como se uma parte dele já tivesse se despedido. Ele tenta sorrir para mim, mas é um sorriso que não alcança seus olhos, um sorriso quebrado, fraturado pela dor.

- Mamãe... - falo me aproximando, minha voz, um sussurro trêmulo que mal reconheço como minha.

                         

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