A Promessa Que Quase a Destruiu
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Capítulo 2

Na manhã seguinte, Clara começou a se apagar.

Ela começou com a fotografia.

Era uma pequena foto emoldurada de Júlio, guardada na gaveta de sua mesa de cabeceira. O sorriso dele era caloroso, seus olhos cheios de uma luz que há muito havia se extinguido. Por cinco anos, essa foto foi sua âncora. A razão pela qual ela suportou.

Seus dedos tremeram quando ela a pegou. Ela olhou para o rosto dele, memorizando cada linha, cada detalhe. Então, ela deslizou a foto para fora da moldura.

Rasgá-la teria sido um ato de paixão, de raiva. O que ela sentia era a calma fria e silenciosa de uma decisão tomada.

Ela pegou um isqueiro.

A chama pegou o canto da fotografia. Ela se curvou, tornando-se marrom, depois preta. O rosto sorridente de Júlio se distorceu, depois desapareceu em cinzas.

Ela deixou as cinzas caírem em uma pequena caixa de joias vazia. Uma caixa que Júlio lhe dera. Ela fechou a tampa, o clique suave ecoando na sala silenciosa. Um enterro.

Em seguida, ela foi para o armário. Estava cheio de roupas que Guilherme havia aprovado. Trajes simples, escuros e profissionais. O uniforme de Clara Bastos, a assistente eficiente.

Ela tirou todas, dobrando-as cuidadosamente e colocando-as em caixas de papelão. Ela as doaria. Elas pertenciam a uma pessoa que não existia mais.

Seu celular vibrou. Uma mensagem de Sharlene.

Uma foto.

Era um close de um anel de diamante deslumbrante no dedo de Sharlene. Sua mão estava entrelaçada com a de Guilherme.

A legenda dizia: Ele tem o melhor gosto, não é? Mal posso esperar pelo nosso futuro. <3

Clara encarou a tela, seu rosto uma máscara em branco. A parte dela que poderia ser ferida por isso já estava morta.

Ela apagou a mensagem sem responder.

Mais tarde naquele dia, Guilherme a convocou. Ele estava em sua academia particular, o suor brilhando em sua testa enquanto ele socava um saco de pancadas.

Ele não parou quando ela entrou.

"Sharlene não gostou do buffet que você escolheu para a festa", disse ele entre as respirações. "Ela diz que o cardápio deles é sem graça."

"Entendo", disse Clara.

"Ela quer a comida do D.O.M. Providencie."

O D.O.M. era o restaurante mais exclusivo da cidade. Era também o lugar onde Júlio a levara para o primeiro aniversário deles.

Guilherme sabia disso. Ele esteve lá. Um adolescente mal-humorado forçado a acompanhar seu irmão mais velho.

A memória era um fantasma na sala. Júlio rindo, erguendo uma taça para ela. Para nós.

Agora, Guilherme queria servir essa memória em uma bandeja em sua festa de noivado.

Foi um ato final e deliberado de apagamento. Uma declaração de que até mesmo seu passado não era dela. Pertencia a ele, para ser reaproveitado ou descartado como ele bem entendesse.

Ele parou de socar e se virou para ela, enxugando o rosto com uma toalha. Ele pegou uma garrafa de água, abriu-a e bebeu profundamente.

Então ele a estendeu para ela.

"Aqui", disse ele, a voz neutra. "Você parece pálida. Beba."

Era a mesma marca de água que ele sempre bebia. A mesma marca que ele uma vez jogou na cabeça dela em um acesso de raiva, deixando um hematoma que ela teve que cobrir com maquiagem por uma semana.

Ela pegou a garrafa. Seus dedos se fecharam ao redor do plástico frio.

Ela encontrou o olhar dele, seus próprios olhos vazios.

Ela desatarraxou a tampa e bebeu.

A água estava fria, sem gosto. Deslizou por sua garganta, um batismo oco. Com este ato, ela aceitou tudo. A dor, a crueldade, o completo e absoluto descaso por sua existência.

Era a confirmação final de que ela precisava.

Não havia mais nada a salvar. Nada a que se agarrar.

            
            

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