As palavras eram para ser um elogio. Pareciam um epitáfio. Você sempre soube. Tempo passado.
Ela digitou uma resposta simples e educada.
Obrigada, Jeremy. Apenas fiz meu trabalho.
Ela acrescentou: A propósito, não vou mais trabalhar para ele depois de hoje à noite.
Ela apertou enviar antes que pudesse hesitar. Foi a primeira vez que ela contou a alguém. Dizer aquilo tornou real.
A resposta de Jeremy foi instantânea. O quê? Por quê? Aconteceu alguma coisa?
Ela encarou a pergunta. Como ela poderia explicar cinco anos de desespero em fogo lento em uma mensagem de texto? A verdade era uma história pesada demais para contar.
É só hora de mudar, ela digitou. Uma mentira branda e corporativa para cobrir uma ferida aberta e crua.
Ela largou o celular e deixou as memórias virem. Não as dolorosas. As boas. As que faziam partir parecer como arrancar um membro.
Um sonho da noite anterior veio à tona. Júlio, sorrindo para ela do outro lado de um café ensolarado. Ele não dizia nada, apenas olhava para ela com aquele olhar familiar e amoroso. O calor do sonho ainda persistia, um membro fantasma doendo pelo que foi perdido.
Ela acordou com lágrimas nas bochechas.
A crueldade não era apenas o abuso. Era a esperança que ele lhe dera primeiro. A memória daquele amor foi o que Guilherme e Sharlene haviam sistematicamente desmontado, peça por peça. Eles não apenas a machucaram; eles profanaram uma memória.
Ela se levantou e foi até o armário. Havia uma caixa restante. Estava cheia de coisas pequenas e inúteis. Uma flor seca de um buquê que Júlio lhe dera. Um canhoto de ingresso de um show. Um chaveiro barato que Guilherme ganhara em um parque de diversões e jogara para ela quando tinha dezesseis anos, um raro momento de charme juvenil antes que a amargura se instalasse completamente.
Ela segurou o chaveiro na palma da mão. Um pequeno carro de corrida de plástico.
A ironia não passou despercebida.
A campainha do apartamento tocou, assustando-a. Ela verificou o interfone. Era Guilherme.
Ela o deixou entrar. Ele entrou em seu apartamento, seus olhos percorrendo o quarto esparso, as caixas empacotadas.
"Que diabos é isso?", ele exigiu, gesticulando para as caixas. "Você está se mudando?"
"Sim", ela disse simplesmente.
Seus olhos se estreitaram. Ele viu a caixa de bugigangas na mão dela. Ele se aproximou e arrancou o chaveiro de sua palma.
"Este lixo?" Ele zombou, o lábio se curvando em desdém. "Você ainda está guardando este pedaço de plástico inútil?"
Inútil.
A palavra pairou no ar.
Ele estava certo. Era inútil. Tudo isso. O chaveiro, as memórias, os cinco anos que ela lhe dera. Era tudo inútil para ele.
"Você está certo", disse ela, a voz estranhamente calma. "É lixo."
Ela pegou a caixa da mesa, caminhou até o duto de lixo no corredor e esvaziou seu conteúdo dentro. O som dos pequenos itens batendo no duto de metal foi o som de seu passado desaparecendo para sempre.
Ela se virou para ele, o rosto uma tela em branco.
"Você precisava de alguma coisa?"
Ele a encarou, um lampejo de confusão em seus olhos. Ele esperava lágrimas, um protesto, algo. O vazio calmo dela parecia perturbá-lo.
"Os anéis", disse ele, recuperando a compostura. "O joalheiro está aqui. Traga-os para cima."
Ele se virou e saiu sem outra palavra.
Ela era apenas a empregada, afinal. Mesmo em seu último dia.