A Promessa Que Quase a Destruiu
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Capítulo 4

No dia da festa de noivado, Clara começou a cortar os últimos fios.

Ela acordou e desativou suas contas de redes sociais. Aquelas cheias de postagens selecionadas e profissionais relacionadas aos negócios de Guilherme. Um fantasma digital desaparecendo no éter.

Foi um pequeno ato de rebelião, mas foi dela.

Seu celular vibrou. Uma mensagem de Jeremy Santos, um dos amigos de Guilherme.

Ei, Clara. Vi a montagem da festa no story da Sharlene. Parece incrível. Você sempre soube como fazer o Guilherme parecer bem.

As palavras eram para ser um elogio. Pareciam um epitáfio. Você sempre soube. Tempo passado.

Ela digitou uma resposta simples e educada.

Obrigada, Jeremy. Apenas fiz meu trabalho.

Ela acrescentou: A propósito, não vou mais trabalhar para ele depois de hoje à noite.

Ela apertou enviar antes que pudesse hesitar. Foi a primeira vez que ela contou a alguém. Dizer aquilo tornou real.

A resposta de Jeremy foi instantânea. O quê? Por quê? Aconteceu alguma coisa?

Ela encarou a pergunta. Como ela poderia explicar cinco anos de desespero em fogo lento em uma mensagem de texto? A verdade era uma história pesada demais para contar.

É só hora de mudar, ela digitou. Uma mentira branda e corporativa para cobrir uma ferida aberta e crua.

Ela largou o celular e deixou as memórias virem. Não as dolorosas. As boas. As que faziam partir parecer como arrancar um membro.

Um sonho da noite anterior veio à tona. Júlio, sorrindo para ela do outro lado de um café ensolarado. Ele não dizia nada, apenas olhava para ela com aquele olhar familiar e amoroso. O calor do sonho ainda persistia, um membro fantasma doendo pelo que foi perdido.

Ela acordou com lágrimas nas bochechas.

A crueldade não era apenas o abuso. Era a esperança que ele lhe dera primeiro. A memória daquele amor foi o que Guilherme e Sharlene haviam sistematicamente desmontado, peça por peça. Eles não apenas a machucaram; eles profanaram uma memória.

Ela se levantou e foi até o armário. Havia uma caixa restante. Estava cheia de coisas pequenas e inúteis. Uma flor seca de um buquê que Júlio lhe dera. Um canhoto de ingresso de um show. Um chaveiro barato que Guilherme ganhara em um parque de diversões e jogara para ela quando tinha dezesseis anos, um raro momento de charme juvenil antes que a amargura se instalasse completamente.

Ela segurou o chaveiro na palma da mão. Um pequeno carro de corrida de plástico.

A ironia não passou despercebida.

A campainha do apartamento tocou, assustando-a. Ela verificou o interfone. Era Guilherme.

Ela o deixou entrar. Ele entrou em seu apartamento, seus olhos percorrendo o quarto esparso, as caixas empacotadas.

"Que diabos é isso?", ele exigiu, gesticulando para as caixas. "Você está se mudando?"

"Sim", ela disse simplesmente.

Seus olhos se estreitaram. Ele viu a caixa de bugigangas na mão dela. Ele se aproximou e arrancou o chaveiro de sua palma.

"Este lixo?" Ele zombou, o lábio se curvando em desdém. "Você ainda está guardando este pedaço de plástico inútil?"

Inútil.

A palavra pairou no ar.

Ele estava certo. Era inútil. Tudo isso. O chaveiro, as memórias, os cinco anos que ela lhe dera. Era tudo inútil para ele.

"Você está certo", disse ela, a voz estranhamente calma. "É lixo."

Ela pegou a caixa da mesa, caminhou até o duto de lixo no corredor e esvaziou seu conteúdo dentro. O som dos pequenos itens batendo no duto de metal foi o som de seu passado desaparecendo para sempre.

Ela se virou para ele, o rosto uma tela em branco.

"Você precisava de alguma coisa?"

Ele a encarou, um lampejo de confusão em seus olhos. Ele esperava lágrimas, um protesto, algo. O vazio calmo dela parecia perturbá-lo.

"Os anéis", disse ele, recuperando a compostura. "O joalheiro está aqui. Traga-os para cima."

Ele se virou e saiu sem outra palavra.

Ela era apenas a empregada, afinal. Mesmo em seu último dia.

                         

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