"Clara, querida, eu estava pensando. Quero peônias. Apenas peônias. Naquele tom exato de rosa blush."
"A florista disse que estão fora de estação e são difíceis de encontrar."
"Bem, faça acontecer. Guilherme te paga para resolver problemas, não para me dizer que eles existem."
As ligações eram sempre no viva-voz quando Guilherme estava por perto. Clara podia ouvir sua aprovação silenciosa ao fundo.
As exibições públicas eram piores.
Uma noite, Guilherme ofereceu um jantar para alguns parceiros de negócios. Sharlene estava ao seu lado, brilhando em um novo colar de diamantes.
"Guilherme é tão bom para mim", ela anunciou à mesa, sua mão possessivamente no braço dele. "Ele sabe do que eu gosto antes mesmo de eu saber."
Ela olhou diretamente para Clara, que estava parada junto à parede, pronta para reabastecer as taças de vinho ou tomar notas. "Não é verdade, Clara? Você está com ele há tanto tempo. Deve saber o quanto ele me adora."
Era uma declaração de posse. Um lembrete para todos na sala, especialmente Clara, de seu lugar.
Ela era o acessório. Sharlene era a rainha.
Mais tarde, enquanto Clara servia café, um dos convidados, um homem que conhecia a família há anos, virou-se para ela.
"Você ainda está aqui, Clara. Guilherme tem sorte de ter alguém tão leal."
Antes que ela pudesse responder, Sharlene riu, um som leve e tilintante que irritava os nervos.
"Ah, ela é mais do que leal. Ela é devotada." Os olhos de Sharlene brilharam com malícia. "Às vezes acho que ela é mais apegada a Guilherme do que uma assistente normal deveria ser. É um pouco... intenso."
A insinuação era clara. Ela estava pintando Clara como uma aproveitadora desesperada e obcecada.
Guilherme, que ouviu, se aproximou. Ele colocou a mão no ombro de Sharlene, um gesto protetor. Ele olhou para Clara, sua expressão de desapontamento cansado, como se estivesse lidando com uma criança problemática.
"Clara", disse ele, a voz baixa, mas que se ouvia em toda a sala silenciosa. "Não deixe nossos convidados desconfortáveis. Você conhece seus limites."
Ele estava protegendo Sharlene dela. Ele a estava envergonhando publicamente, validando a narrativa venenosa de Sharlene. Ele a estava chamando de delirante. Doente.
As palavras ecoaram em sua cabeça. Conheça seus limites.
Seu limite era a porta. E ela estava tão perto de atravessá-la para sempre.
O golpe final veio na noite anterior à festa.
Clara estava no grande salão de festas do hotel, supervisionando a montagem final. A sala era um mar de peônias rosa blush. Era lindo. E era sufocante.
Guilherme e Sharlene chegaram para inspecionar o trabalho.
Sharlene bateu palmas de alegria. "Ah, Gui, está perfeito! É tudo que eu sonhei."
Ela ficou na ponta dos pés e o beijou. Foi um beijo longo e apaixonado, uma performance para uma plateia de uma pessoa só.
Clara se virou, seus olhos pousando nos arranjos de mesa.
Guilherme se afastou de Sharlene, um sorriso presunçoso no rosto. Ele caminhou até Clara.
Por um momento, ela pensou que ele poderia oferecer uma palavra de agradecimento. Um simples reconhecimento pelo trabalho que ela havia feito.
Em vez disso, ele pegou um dos guardanapos personalizados. Estava gravado com as iniciais deles: G & S.
"Bom trabalho", disse ele, a voz com um toque de surpresa, como se estivesse chocado por ela ser capaz de competência. Ele então olhou ao redor da sala opulenta, uma expressão satisfeita no rosto. "Isto é o que parece uma celebração de verdade."
Ele estava comparando com algo. Com todos os aniversários silenciosos e pequenas vitórias que ela tentou marcar para ele ao longo dos anos. Os bolos simples que ela comprou, os presentes atenciosos que ela escolheu, todos os quais ele ignorou ou desprezou.
Este espetáculo era real. Seu cuidado silencioso e constante não havia sido nada.
Ela observou enquanto ele voltava para Sharlene, seu braço envolvendo a cintura dela. Ele sussurrou algo em seu ouvido, e Sharlene riu, a cabeça jogada para trás em triunfo.
Eles eram uma imagem perfeita de felicidade. Uma imagem pintada com a dor de Clara.
Ela se forçou a caminhar em direção a eles.
"Tudo está pronto para amanhã", disse ela, a voz firme. "Se não houver mais nada, estou de saída."
"Claro", disse Sharlene, sorrindo docemente. "Você deve estar cansada. Obrigada por todo o seu trabalho duro, Clara."
Era uma dispensa. A rainha agradecendo à serva.
Clara assentiu e se afastou. Ela não olhou para trás.
Ela não podia. Esta era sua última noite no inferno.