Sacrificou Tudo Por Um Homem Desalmado
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Capítulo 3

Ponto de Vista: Beatriz Alencar

Acordei com o cheiro estéril de antisséptico e o bipe baixo e rítmico de um monitor cardíaco. Meu corpo parecia pesado, esvaziado. Através da parede fina do quarto particular, eu podia ouvir a voz de Leonardo, baixa e ansiosa, falando com um médico.

"Ela está bem? O que aconteceu?"

"Sua esposa está grávida, Sr. Monteiro", a voz do médico era calma, profissional. "Cerca de seis semanas. O sangramento foi causado por estresse emocional severo e esforço físico. Ela precisa de repouso absoluto. Vocês tiveram muita sorte de não perder o bebê."

Grávida. A palavra não fazia sentido. Era um milagre pelo qual eu havia parado de rezar anos atrás. Minha mão instintivamente foi para minha barriga, um tremor de incredulidade e uma onda feroz e desconhecida de proteção me invadindo. Um bebê. Nosso bebê.

A resposta de Leonardo foi um som engasgado. "Grávida? Eu... eu não sabia. Vou cuidar dela. Eu juro."

Mas sua voz não tinha o choque alegre que eu esperaria. Estava tensa, forçada. Enquanto eu estava ali, um som novo e estridente chegou até mim do corredor - a voz aguda e indignada de Carla Gomes.

"Como assim não posso entrar? Léo! Você está aí? Esqueceu que prometeu me levar para minha consulta?"

Meu sangue gelou. Ela estava aqui.

"Carla, agora não", a voz de Leonardo era um sussurro áspero.

"Agora não?" ela gritou. "Você me deixa na clínica para correr até aqui por ela? E eu? E o nosso bebê? Você vai nos abandonar só porque aquela vadia estéril milagrosamente engravidou?"

O veneno em suas palavras era chocante, mas foi a resposta de Leonardo que estilhaçou os últimos vestígios da minha esperança.

"Claro que não", ele a acalmou, sua voz gotejando uma ternura que ele não me mostrava há anos. "O filho dela... é um erro. Uma complicação. Não muda nada. Você e nosso filho são o futuro da família Monteiro."

Um erro. Uma complicação.

"Mas e se ela usar o bebê para te segurar?" a voz de Carla estava tingida de falsa preocupação. "E se ela não te der o divórcio?"

Houve uma longa pausa, e então a voz de Leonardo, mais fria do que eu já tinha ouvido, cortou o silêncio. "Ela não vai. A Bia não é nada sem mim. Ela é uma gênia da tecnologia decadente vivendo da minha generosidade. Uma parasita. Ela precisa de mim mais do que eu preciso dela. Ela vai fazer o que for mandada."

Parasita. A palavra ecoou no espaço oco onde meu coração costumava estar. A fortuna que eu despejei em sua empresa, o legado de meus pais sobre o qual ele construiu seu novo império - tudo isso distorcido em uma narrativa feia de dependência. Ele não apenas me traiu; ele me apagou.

"E a herança?" Carla pressionou, sua ganância mal disfarçada. "O império da construção Monteiro... deveria ir para o nosso filho. Não para... aquilo."

"Vai", disse Leonardo, sua voz plana e final. "O filho dela não tem direito a nada. Confie em mim."

Carla deu uma risadinha, um som triunfante e feio. "Ah, Léo, eu sabia que você me amava mais."

Ouvi o som distinto de um beijo, seguido por seus passos se afastando. Pressionei minha mão contra o batente da porta, minhas unhas cravando na madeira, a dor física uma âncora entorpecente em um mar de agonia emocional. O legado da minha família, o império que meus pais construíram, seria entregue ao filho da mulher que ajudou a destruí-los.

Uma raiva, fria e pura, queimou dentro de mim. Não se tratava mais apenas de um casamento desfeito. Tratava-se do meu filho. Dos meus pais. Do meu mundo inteiro.

Ele achava que eu não era nada sem ele. Estava prestes a descobrir o quão errado estava. Eu não deixaria meu filho nascer nesta teia de mentiras e crueldade. Nós desapareceríamos. Nós seríamos livres.

Mais tarde naquela tarde, Leonardo voltou, seu rosto um retrato perfeito de preocupação. Ele carregava uma garrafa térmica de sopa que alegava ter feito ele mesmo.

"Bia, meu amor", ele disse, sua voz tingida de um calor ensaiado. "O médico me deu a notícia. Um bebê! Você acredita? Vamos ser uma família." Ele era um ator brilhante. Até tinha nomes escolhidos, pintando um belo quadro de um futuro que eu agora sabia ser uma mentira.

Eu entrei no jogo, um sorriso frágil no rosto, minha mente a mil. Deixei-o cuidar de mim, deixei-o acreditar que sua performance estava funcionando. No dia seguinte, fingindo precisar de um check-up de rotina, fui escoltada do meu quarto por uma enfermeira. Leonardo, sempre o marido preocupado, começou a me seguir, mas seu telefone tocou. Era Carla, claro. Ele me acenou para continuar, prometendo me alcançar.

Ele nunca o fez.

Enquanto eu estava sentada na cadeira de coleta de sangue, outra enfermeira se aproximou, seu sorriso tenso e artificial. Eu não a reconheci. Antes que eu pudesse questionar, senti uma picada aguda no meu braço. Não era a picada familiar de uma agulha tirando sangue. Isso era diferente. Mais frio. Uma sensação estranha e lenta começou a subir pelo meu braço.

Meus olhos se arregalaram de terror. Isso não era um exame de sangue.

            
            

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