Uma das enfermeiras, uma mulher com olhos frios e mortos, ergueu um instrumento que enviou uma nova onda de terror através de mim. Era um dispositivo de eletrochoque portátil. Ela pressionou as almofadas de metal frio contra minha barriga ainda lisa.
"Não se preocupe", disse ela, sua voz desprovida de qualquer emoção. "A voltagem é baixa. Não vai matar o pequeno parasita. Mas vai doer. Muito."
A máquina zumbiu para a vida. Meu mundo explodiu em um universo de dor pura e absoluta. Eram um milhão de agulhas esfaqueando cada terminação nervosa de uma vez. Meu corpo convulsionou violentamente, cada músculo gritando em agonia. Então outra injeção, outra onda de tormento. O ciclo se repetiu, várias e várias vezes, até que minha mente se estilhaçou e meu corpo me traiu, o fedor do meu próprio medo e dejetos enchendo a pequena sala estéril.
A tortura continuou até o anoitecer. Eu era uma coisa quebrada, deitada na minha própria sujeira, quando a porta se abriu. Carla Gomes entrou deslizando, uma visão de perfeição cruel, seu rosto brilhando com um prazer malicioso.
"Ora, ora", ela cantarolou, cutucando meu lado com a ponta pontiaguda de seu sapato de grife. "Olhe para a grande Beatriz Alencar. Não tão poderosa agora, não é?" Ela me chutou então, um golpe seco e certeiro no meu abdômen. Eu gritei, o som um arquejo estrangulado.
Seus olhos estavam cheios de um ódio frio e reptiliano. "Não se preocupe. Não vou deixar você abortar. Seria fácil demais. Só quero ter certeza de que seu monstrinho nasça... com defeito. Um lembrete constante de quem venceu."
Uma raiva primal, nascida dos cantos mais profundos do instinto protetor de uma mãe, explodiu dentro de mim. "Você é um monstro, Carla", cuspi, as palavras com gosto de sangue e bile. "Uma besta desalmada do caralho."
Seu rosto se contorceu em uma máscara de fúria. "Eu sou um monstro? Seus pais eram os monstros! Eles usaram a influência deles para arruinar minha família, para nos tirar do mercado para que o escritório precioso deles pudesse prosperar. Eles tiveram o que mereceram. E o Léo? Ele sempre foi destinado a ser meu. Ele me ama. Enquanto você estava sendo eletrocutada como um rato de laboratório, ele estava comigo, segurando minha mão, me dizendo o quanto ele me adora e ao nosso filho."
Ela se inclinou para perto, sua voz um sussurro venenoso. "Você e seus pais nunca vão ganhar de mim. Nunca."
Com um grito gutural, eu avancei, minhas mãos amarradas alcançando sua garganta. Mas assim que meus dedos roçaram sua pele, a porta se abriu com violência.
Leonardo estava lá, seu rosto uma tela de choque e confusão.
Ele não hesitou. Correu para frente, me empurrando para trás e puxando Carla para um abraço protetor. Bati no chão com força, o impacto sacudindo cada osso machucado do meu corpo.
Ele olhou para mim então, para minhas roupas sujas, as marcas de agulha no meu braço, a pele em carne viva e esfolada nos meus pulsos. Por uma fração de segundo, vi um lampejo de horror em seus olhos, um fantasma do homem que um dia amei. Ele deu um meio passo em minha direção, a mão estendida.
Mas então Carla começou a soluçar, um lamento patético e teatral. "Léo, ela me atacou! Ela tentou machucar nosso bebê!"
Eu apenas o encarei, uma risada amarga e quebrada borbulhando do meu peito.
Ele olhou do rosto imaculado e manchado de lágrimas dela para minha forma devastada no chão. Sua expressão endureceu.
"Bia", ele disse, sua voz tingida de decepção, como se eu fosse a culpada. "Eu sei que você está chateada, mas a Carla está grávida. Você precisa ser mais compreensiva. Todos nós temos que fazer sacrifícios por esta família."
A palavra 'sacrifícios' pairou no ar, um monumento grotesco à sua hipocrisia. Eu ri então, um som cru e descontrolado que ecoou na sala silenciosa, lágrimas escorrendo pelo meu rosto.
"Você está certo, Léo", engasguei, minha voz pingando desprezo. "Você está absolutamente certo. A culpa foi toda minha."
Lancei-lhe um olhar tão cheio de ódio que pareceu fazê-lo recuar. "Espero que você apodreça no inferno. Espero que viva uma vida longa e miserável, assombrado pelo que fez."
Seu rosto empalideceu, um lampejo de dor genuína em seus olhos. Ele me pegou do chão, seu toque de repente gentil. "Bia, me desculpe. Eu sei que tenho sido um canalha. Me perdoe. Por favor, me perdoe. Podemos recomeçar. Pelo bebê."
Suas desculpas eram vazias, sem sentido. Eu não respondi. Simplesmente deixei que ele me carregasse para fora daquela sala, para fora do hospital, e de volta para a jaula dourada que ele chamava de nosso lar. Minha mente estava assustadoramente calma. A luta havia acabado. Tudo o que restava era a fuga.