Atendi a ligação, minha voz surpreendentemente firme. "Alina falando."
"Alina Sales?" A mulher do outro lado foi ríspida, seu tom já cansado. "Estou ligando sobre o saldo devedor do Lucas Casey para o protocolo de tratamento preliminar. Temos um valor em atraso de vinte e cinco mil reais."
Encostei a cabeça no couro rachado do assento. Lembrei-me da última vez que ela ligou. Eu estava de joelhos, esfregando uma mancha de sangue de um piso de madeira, e chorei enquanto implorava por apenas mais duas semanas. Ela suspirou e concedeu, mas não sem um sermão sobre responsabilidade fiscal.
"Sim, eu me lembro", eu disse, minha voz vazia.
O tom dela se aguçou um pouco, pega de surpresa pela minha falta de emoção. "Bem, o prazo acabou. Precisamos do pagamento imediatamente, ou teremos que suspender o acesso do Lucas ao programa."
Suspender o acesso dele. A ameaça que foi meu pesadelo pessoal por meia década. Eu costumava acordar suando frio sonhando com isso. Agora, as palavras não significavam nada.
Que programa havia para suspender? Um programa de pílulas de açúcar e soro fisiológico? Um programa projetado não para curá-lo, mas para me testar?
"Por que você está me ligando por isso?", perguntei, uma pergunta genuína. "Meu entendimento era que este era o valor final devido antes do início do tratamento principal. Aquele para o qual eu venho economizando."
A mentira tinha gosto de cinzas na minha boca.
"Sim, mas isso é por serviços já prestados", disse ela impacientemente. "O Sr. Sales - seu marido - geralmente lida com essas ligações, mas não conseguimos falar com ele."
Sr. Sales. Beto. Bernardo Yates. Um homem tão rico que provavelmente usava notas de cem reais para acender a lareira, e ele me deixou implorar e me virar por míseros vinte e cinco mil reais. Não era porque ele não podia pagar. Era parte do teste. Para ver até onde eu iria. Para ver se eu quebraria.
Eu cansei de quebrar.
"Você pode enviar a conta para ele", eu disse calmamente. "Não vou mais cuidar dos assuntos financeiros do Lucas."
Houve um silêncio chocado do outro lado. "Senhora? Não entendo. Você sempre..."
"Eu sei o que eu sempre fiz", interrompi, a frieza na minha voz surpreendendo até a mim mesma. "As coisas mudaram. Envie a conta para Beto Sales. Ou melhor ainda, envie para Bernardo Yates."
Desliguei antes que ela pudesse responder, jogando o telefone no banco do passageiro.
No mesmo instante, uma SUV preta e elegante estacionou na vaga ao lado da minha picape enferrujada. Beto - Bernardo - saiu. Ele parecia impecável em um terno sob medida que provavelmente custava mais que todo o meu guarda-roupa. Quando me viu, um lampejo de surpresa cruzou seu rosto bonito, rapidamente substituído por um sorriso caloroso e preocupado. O mesmo sorriso que me enganou por sete anos.
"Alina! Querida, o que você ainda está fazendo aqui? Eu ia te ligar. Pensei que você ia trabalhar até tarde."
Ele se moveu para abrir minha porta, seus movimentos fluidos e charmosos. O parceiro perfeito e dedicado.
"O trabalho terminou mais cedo", eu disse, minha voz desprovida de qualquer calor. Eu não me movi para sair.
Ele franziu a testa, a sobrancelha se curvando daquele jeito que eu costumava achar tão cativante. "Você está bem? Parece pálida." Ele estendeu a mão para pegar a minha.
Eu a puxei antes que seus dedos pudessem me tocar.
Sua carranca se aprofundou. Um flash de algo - irritação? - cruzou suas feições antes de ser mascarado novamente pela preocupação. "Dia difícil?"
"Pode-se dizer que sim."
Finalmente empurrei a porta da picape e saí, ficando de frente para ele. Ele era mais alto que eu, sua presença geralmente um conforto. Agora parecia uma ameaça.
"Eu ia te buscar", disse ele, com a voz suave. "Você não deveria ter que dirigir todo esse caminho depois de um turno longo. Podemos ir ver o Lucas juntos."
Próxima vez. Ele achava que haveria uma próxima vez. Ele achava que eu simplesmente voltaria para o meu lugar, a mulher amorosa e exausta que vivia para ele e nosso filho. A mulher que faria qualquer coisa por eles.
Essa mulher morreu há uma hora em um corredor de hospital.
O cheiro de água sanitária nas minhas roupas parecia mais forte agora, um contraste gritante com o perfume caro e limpo de sua colônia. Por anos, eu esfreguei, economizei e me sacrifiquei, acreditando que estava lutando pela vida do meu filho. Eu não estava. Eu estava fazendo um teste para um papel que eu nem sabia que estava concorrendo.
E eu tinha acabado de ser informada, em termos inequívocos, que não consegui o papel.
"Não", eu disse, minha voz baixa, mas firme. "Acho que não vou mais ver o Lucas."
Seu sorriso vacilou completamente. "Do que você está falando, Alina? Não seja dramática. Você só está cansada."
Cansada. Sim, eu estava cansada. Eu estava cansada nos meus ossos, na minha alma. Cansada das mentiras. Cansada do teste. Cansada dele.
"Eu estou cansada", concordei. "Tão cansada de tudo isso."
Olhei para além dele, em direção às portas de vidro reluzentes do hospital. Dentro daquele prédio, minha melhor amiga estava bancando a mãe para o meu filho, e o homem que eu amava estava bancando Deus com a minha vida. Uma raiva amarga e ardente começou a derreter o gelo em minhas veias.
Ele me alcançou novamente, sua expressão uma máscara perfeita de preocupação amorosa. "Vamos, vamos entrar. A Júlia fez biscoitos. O Lucas está perguntando por você."
A mentira era tão fácil, tão praticada. Me dava nojo.
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