Sete Anos de Mentiras, Meu Retorno Vingativo
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Capítulo 4

Ponto de Vista: Alina

"Eu te acompanho até a saída", disse Beto, a voz tensa com uma irritação que ele tentava suprimir. Ele me seguiu para fora da sala, fechando a porta para a cena doméstica aconchegante lá dentro.

Sozinhos no corredor, sua pretensão de paciência evaporou. "Que porra foi essa, Alina?"

"O que foi o quê?", perguntei, minha voz tão vazia quanto eu me sentia.

"Sua atitude. Você entra aqui parecendo que está indo a um funeral. Você é fria com o Lucas e praticamente fuzila a Júlia com o olhar. Qual é o seu problema?"

Ele parou na minha frente, com as mãos na cintura. Ele não era mais o parceiro preocupado. Ele era o juiz desapontado.

"Estou cansada, Beto", eu disse, a desculpa soando frágil e patética na minha língua. "Foi um trabalho complicado. Eu provavelmente... estou com cheiro."

Seus olhos percorreram meu jeans gasto e minha camiseta desbotada. Uma leve ruga de desgosto apareceu na ponte de seu nariz. Foi uma microexpressão, uma que eu teria perdido antes, uma que eu teria interpretado mal como preocupação. Agora, eu a vi pelo que era: nojo.

"Bem, você precisa aprender a deixar isso na porta", disse ele, em tom ríspido. "Vá para casa. Tome um banho longo. Se esfrega até ficar limpa. A gente se vê amanhã."

Se esfrega até ficar limpa. As palavras pairaram no ar entre nós, pesadas de significado não dito. Por sete anos, pensei que comentários como esses - suas sugestões para que eu usasse um sabonete especial, que mantivesse minhas roupas de trabalho em um cesto separado, que lavasse as mãos antes de tocar no Lucas - nasciam de uma preocupação com a higiene.

Agora eu sabia a verdade. Ele não estava preocupado com germes. Ele tinha vergonha de mim. Ele tinha vergonha do trabalho que estava financiando seu jogo doentio e perverso.

Ele viu o olhar no meu rosto, o horror crescente, e sua expressão se suavizou em uma máscara de arrependimento. "Me desculpe", disse ele, me alcançando. "Não foi isso que eu quis dizer. Só estou preocupado com você. E você precisa ser justa com a Júlia. Ela tem sido uma rocha para nós. Você não pode simplesmente entrar e tratá-la daquele jeito."

Ele me acusou de tratá-la mal? A mulher que estava conspirando ativamente para arruinar minha vida e roubar meu filho? A injustiça daquilo era tão imensa que parecia um peso físico me pressionando, esmagando os últimos resquícios da minha vontade de lutar.

Toda dúvida, todo último pingo de esperança de que tudo isso fosse um terrível mal-entendido, foi pulverizado.

Meu olhar caiu em seu pulso. Estava nu.

"Onde está?", perguntei, minha voz um sussurro rouco.

Ele pareceu confuso. "Onde está o quê?"

"O relógio", eu disse, meus olhos fixos em seu pulso vazio. "Aquele que eu te dei no seu aniversário, mês passado."

Levei seis meses economizando, secretamente guardando alguns reais aqui e ali do meu orçamento já apertado. Era um relógio lindo, clássico, nada muito chamativo, mas elegante. Custou-me quase quinze mil reais - uma fortuna para mim. Foi o presente mais caro que já dei a alguém. Eu queria que ele tivesse algo bom, algo para mostrar o quanto eu o apreciava.

Um lampejo de pânico cruzou seus olhos. "Ah, aquilo. Está... está na joalheria. Para limpar. Você sabe como sou meticuloso com minhas coisas."

A mentira era tão suave, tão praticada. Mas eu sabia a verdade.

Eu tinha visto mais cedo naquele dia. Quando estava saindo do meu último trabalho, cortei por um beco para chegar à minha picape. Ao lado das lixeiras transbordando de um prédio de apartamentos de luxo, vi uma caixa familiar. Era a caixa do relógio. E dentro, aninhado entre borra de café e restos de comida, estava o relógio para o qual eu havia economizado. O relógio que eu lhe dei com o coração cheio de amor.

Ele não o levou para limpar. Ele o jogou no lixo.

Ele jogou meu sacrifício, meu amor, minha patética tentativa de lhe dar um pedaço de luxo, no lixo como se não fosse nada. Porque para ele, não era nada. Eu não era nada.

Ele viu a morte em meus olhos e deve ter percebido que sua mentira não estava funcionando. Ele suspirou, um som de pura exasperação.

"Olha, Alina, me desculpe", disse ele novamente, tentando uma tática diferente. Ele deu um passo à frente, tentando me puxar para um abraço. "Eu ia te contar. Foi um pouco... demais. Você não deveria ter gasto esse tipo de dinheiro comigo."

Coloquei minhas mãos em seu peito e, gentilmente, mas com firmeza, o empurrei para longe.

O choque em seu rosto foi absoluto. Em sete anos, eu nunca havia negado afeto físico a ele. Eu sempre fui a que o procurava, desesperada por um pingo de conforto.

Ele me encarou, a boca ligeiramente aberta. Por um momento, ele pareceu genuinamente perdido.

"Você só está cansada", disse ele novamente, mais para si mesmo do que para mim. Era a única explicação que sua mente conseguia conjurar para o meu comportamento. A possibilidade de que eu soubesse a verdade estava tão fora de seu campo de pensamento que nem sequer registrou. Ele tinha todo o poder. Eu era apenas a faxineira pobre e simplória.

"Vá para casa, Alina", disse ele, sua voz recuperando a autoridade. "Descanse um pouco."

Ele se virou e caminhou de volta para a sala, confiante de que seu pequeno problema havia sido resolvido. Confiante de que amanhã, eu estaria de volta, pedindo desculpas e sendo submissa.

Ele estava errado. Não haveria amanhã para nós.

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