"Vocês todos deveriam ir apoiar a Karina", eu disse durante o jantar. "É a grande noite dela." Eu nunca pedi que eles escolhessem. Eu nunca quis ser um fardo. Eu só queria, por uma vez, que eles me vissem sem que eu precisasse gritar por sua atenção.
Esse foi o meu erro. Presumi que eles sabiam sobre o prêmio Capes. Presumi que tinham lido o convite que deixei no balcão da cozinha. Presumi que, mesmo que escolhessem a Karina, eles pelo menos reconheciam o que eu havia conquistado.
Mas eles não reconheceram. Para eles, eu estava apenas fazendo birra.
A memória do que aconteceu em seguida era um filme que eu era forçada a rever da minha nova perspectiva etérea. Desdobrou-se em minha mente com uma clareza aterrorizante.
Eu estava no porão, meu laboratório improvisado em casa, fazendo os ajustes finais nos slides da minha apresentação. A casa estava silenciosa. Pensei que eles já tivessem saído.
Então ouvi a porta dos fundos ranger ao abrir. Não o estrondo alto da minha família, mas um gemido metálico e furtivo.
Dois homens que eu nunca tinha visto antes entraram. Eram grandes, vestidos com roupas escuras, seus rostos obscurecidos por sombras e gorros.
"Quem são vocês?", eu perguntei, minha voz tremendo enquanto me levantava da minha mesa. "Como entraram aqui?"
Eles não responderam. Apenas se moveram em minha direção, sua presença preenchendo o pequeno espaço, sugando todo o ar. Um deles ergueu uma chave. Uma chave que reconheci na hora. Era a cópia que eu tinha dado para a Karina, para emergências.
Um pavor gelado, mais frio que a própria morte, me invadiu.
"A patroa só quer que a gente te dê um susto", rosnou o homem com a chave. "Garantir que você perca sua festinha hoje à noite. Fique aqui embaixo, quieta, e não vai se machucar."
"Por favor", implorei, minha mente a mil. "Por favor, apenas vão embora. Não vou contar a ninguém. Eu prometo."
Minhas súplicas não eram nada para eles. Eram apenas ruído. O primeiro homem me agarrou, sua mão como um torno no meu braço. Ele foi rude, me empurrando de volta para a parede de concreto. Ele pegou o celular.
"A chefe quer uma prova", disse ele ao parceiro. "Uma foto. Algo para fazê-la parecer patética."
Eles riram. O som era feio, cheio de malícia. Eles estavam gostando daquilo. Meu terror era o entretenimento deles.
"Fiquem longe de mim", gritei, uma onda de adrenalina cortando o medo. Eu lutei. Chutei, arranhei, fiz tudo o que pude para escapar.
Foi um erro.
Na luta, o segundo homem me empurrou com força. Força demais. Meus pés se enroscaram e eu caí para trás. A parte de trás da minha cabeça bateu na quina afiada de uma prateleira de metal com um estalo doentio.
Uma explosão de dor branca e quente explodiu atrás dos meus olhos. Então, um calor que se espalhava pelo meu cabelo, descendo pelo pescoço. Eu podia sentir a vida se esvaindo de mim, uma torrente pintando o chão de vermelho.
Os homens congelaram. A risada morreu em suas gargantas, substituída por um pânico de olhos arregalados.
"Merda", um deles sussurrou. "Não era para isso acontecer."
Eles não me socorreram. Não chamaram ajuda. Apenas correram. Saíram apressados pela porta dos fundos e desapareceram na noite, me deixando sozinha na escuridão que se espalhava.
Com a última gota de minha força, rastejei em direção à minha mesa de trabalho. Meu celular estava lá. Minha visão estava embaçada, o quarto girando violentamente, mas consegui pegá-lo. Meus dedos, escorregadios com meu próprio sangue, atrapalharam-se com a tela.
Disquei o número da minha mãe na discagem rápida. Chamou uma, duas vezes, e caiu na caixa postal. Tentei de novo. Recusado.
Uma mensagem de texto iluminou a tela. Era do Thiago.
Para de ligar. Já entendemos. Você está com raiva. Cresce.
Lágrimas de puro desespero escorreram pelo meu rosto. Eles achavam que isso era um jogo. Estavam bloqueando minhas ligações, ignorando minha tentativa desesperada de me agarrar à vida.
Meus dedos tremeram enquanto eu discava o último número em que conseguia pensar. Daniel. Meu noivo. O homem que deveria me amar, me proteger.
Ele atendeu no segundo toque.
"Bela?" Sua voz estava distante, distraída. Eu podia ouvir o baixo pulsante da música ao fundo. Ele já estava na festa.
"Daniel", eu ofeguei, a palavra um som úmido e borbulhante. "Me ajuda... estou ferida. Estou sangrando."
Houve uma pausa. Eu o ouvi suspirar, um som de exaustão cansada que estilhaçou o último fragmento do meu coração.
"Anabela, isso pode esperar?", ele disse, sua voz carregada de impaciência. "Você não pode fazer isso hoje à noite. Não na grande noite da Karina. Você está sendo dramática."
"Não... por favor...", solucei. "É grave, Daniel. Eu acho... acho que estou morrendo."
"Não diga isso", ele retrucou, embora não houvesse preocupação em seu tom, apenas irritação. "Olha, eu te levo para um jantar legal amanhã para compensar, ok? Vamos àquele lugar que você gosta. Só... seja adulta por uma noite. Por favor."
A linha ficou muda.
Ele tinha desligado na minha cara.
Deitada ali, na escuridão fria com cheiro de metal, eu finalmente entendi. Não haveria jantar legal amanhã. Não haveria amanhã nenhum. Meu corpo seria encontrado, eventualmente. Um trágico acidente.
E enquanto o último resquício de calor me deixava, um único e arrepiante pensamento ecoou no silêncio da minha mente. Era algo que a Karina havia gritado para mim durante uma briga anos atrás, uma discussão boba e infantil.
Eu queria que você simplesmente desaparecesse! Queria que você estivesse morta!
Bem, Karina, pensei, enquanto meu mundo se apagava.
Você conseguiu o que queria.
---