Entrei em uma pequena sala de estar, pressionando a testa contra o vidro frio da janela, tentando respirar. O corredor adjacente à sala estava mal iluminado. Passos e vozes baixas se aproximaram. Eu congelei. Eram Alex e Ária.
Recuei para as sombras, meu coração batendo forte contra minhas costelas. Eu os vi, silhuetas contra uma fresta de luz da festa principal. Ele a tinha pressionada contra a parede. Sua boca estava na dela, um beijo desesperado e faminto que não tinha nada a ver com os selinhos castos que ele me dava para as câmeras.
"Você parece tão real", ele gemeu contra os lábios dela, a voz grossa com uma paixão que ele nunca havia demonstrado por mim. "Ela é apenas... uma escultura perfeita e fria."
Uma escultura. Era tudo o que eu era para ele.
"Você vai ser boazinha para mim, não vai?", ele murmurou, a mão deslizando pelo braço dela. "Vou te dar aquela pulseira da Cartier que você queria. A com os diamantes. Apenas seja uma boa menina."
Ele estava comprando a submissão dela, tratando-a como um brinquedo de luxo. A transação era clara.
Meu sangue virou gelo. Respirei fundo e voltei para a festa, minha máscara de perfeição serena firmemente no lugar. Encontrei Ária perto do bar, um sorriso triunfante no rosto. Uma marca escura e raivosa - um beijo - era visível na lateral de seu pescoço. Uma marca de posse dele, exibida para eu ver.
Então, ela me viu. Seus olhos se estreitaram e, com uma audácia que me chocou, ela veio direto até mim. Na frente de três dos Capos mais leais de Alex e seus soldados, ela estendeu seu copo vazio.
"Pegue outra bebida para mim", disse ela, a voz escorrendo desprezo. Era um desafio público. Uma vagabunda exigindo ser servida pela rainha.
Os Capos enrijeceram. Isso era uma quebra de protocolo imperdoável. Um insulto direto à esposa do subchefe.
Eu a encarei, minha expressão indecifrável. Não me movi.
Um lampejo de pânico cruzou seu rosto. Ela não esperava minha recusa silenciosa. Ela deu um passo desajeitado para trás, esbarrando na imponente torre de taças de champanhe que era a peça central da festa.
A torre de taças de cristal balançou por um segundo aterrorizante antes de desabar em um estrondo ensurdecedor. Champanhe e cacos de vidro explodiram pelo chão. Tentei recuar, mas uma onda de líquido pegajoso e projéteis afiados voou em minha direção. Um pedaço de vidro cortou meu braço, e o choque me fez tropeçar e cair no chão.
A dor subiu pelo meu braço, mas não era nada comparada à agonia que se seguiu.
Alex, que estava do outro lado da sala, nem sequer olhou para mim. Seus olhos estavam fixos em Ária. Ele empurrou as pessoas para fora de seu caminho, um rugido gutural no peito, e se jogou na frente dela, protegendo-a com seu próprio corpo dos vidros que caíam.
Ele a protegeu.
Na frente de toda a sua família, seus soldados, seus rivais, ele escolheu sua amante em vez de sua esposa. Ele me deixou sangrando no chão enquanto a embalava em seus braços, sua voz frenética. "Você está bem? Se machucou?"
Minha dignidade jazia estilhaçada no chão junto com o cristal. Eu não era nada.
Levantei-me, ignorando as mãos que se estendiam para me ajudar. Saí da festa, o sangue pingando do meu braço no chão de mármore branco. Dirigi, mais uma vez, até a clínica da família.
Enquanto uma enfermeira enfaixava minha ferida, eu o vi através do vidro de um quarto particular no final do corredor. Alex estava lá, pairando sobre Ária, que estava reclinada em uma cama com um olhar dramático de angústia. Ele acariciava o cabelo dela, sua expressão cheia de uma preocupação terna que ele nunca, nem uma vez, demonstrou por mim.
Ele havia feito sua escolha. Eu não era mais apenas um peão; eu era um fardo. Um obstáculo a ser removido. O plano de "purificação" de Donato não era mais apenas uma fuga. Era minha sobrevivência. Eu não seria mais o canário na gaiola da família De Luca.
Saí da clínica e voltei para a cobertura vazia e silenciosa. A dor no meu braço era uma pontada surda, mas no meu peito, um fogo frio havia sido aceso. Não era o fogo da paixão que Alex tanto desejava.
Era o fogo da vingança.