No dia em que os faxineiros estavam programados para chegar, Dante voltou para casa mais cedo. Ele me encontrou no meu quarto, que já estava despojado, parecendo estéril e impessoal, como um quarto de hotel barato entre hóspedes.
Seus olhos varreram as prateleiras vazias e as paredes nuas, um brilho de algo indecifrável em suas profundezas. Confusão? Irritação?
"O que é isso?", ele perguntou.
"Faxina de primavera", eu disse, minha voz uniforme. "Estou doando algumas coisas. Abrindo espaço."
Ele não acreditou em mim, mas não insistiu. Parecia distraído, uma linha profunda gravada entre suas sobrancelhas.
"Minha festa de aniversário é hoje à noite", disse ele. Não era um convite; era uma declaração de fato.
"Eu sei", respondi. "Estarei lá. Para dar um último adeus."
As palavras pairaram no ar entre nós. Ele pensou que eu me referia a um adeus à minha infância, ao meu lugar como sua protegida. Ele não tinha ideia de quão final seria.
"Veremos", foi tudo o que ele disse antes de se virar e me deixar no quarto vazio.
Naquela tarde, encontrei meus antigos cadernos de desenho. Por anos, eu o desenhei. Dante sorrindo, uma visão rara e preciosa. Dante dormindo na cadeira de seu escritório. Dante de costas para mim, olhando para o horizonte da cidade. Página após página da minha obsessão.
Virei para a última página em branco. Com a mão firme, eu o desenhei uma última vez. Desenhei o homem da foto de noivado. Dante ao lado de Isabela, uma coroa na cabeça e um estranho em seus olhos. Ele não era mais meu protetor sombrio; ele era um rei, e ela era sua rainha.
Abaixo do desenho, escrevi uma inscrição simples: Que seu império dure para sempre.
Parecia fechar um caixão.
Naquela noite, a noite antes de seu aniversário, a noite antes da minha liberdade, ele veio ao meu quarto.
O cheiro de uísque me atingiu primeiro, pesado e forte. Ele estava bêbado, tropeçando pela porta que não entrava há anos. Seus olhos estavam desfocados, nublados por uma dor tão profunda que parecia engolir a luz.
"Isabela?", ele arrastou as palavras, estendendo a mão para mim.
Meu sangue gelou. Ele pensou que eu era ela.
Antes que eu pudesse falar, ele me tinha em seus braços, seu aperto desesperado. Ele enterrou o rosto no meu pescoço, seu corpo tremendo.
"Por que...", ele sussurrou, sua voz grossa de angústia. "Por que você não entende o que estou fazendo?"
Ele se afastou, suas mãos emoldurando meu rosto. Seus polegares traçaram minhas maçãs do rosto, um fantasma de uma ternura esquecida. Mas seus olhos não estavam me vendo. Estavam vendo ela.
Então ele me beijou.
Não foi nada como eu jamais imaginei. Foi brutal e desesperado, um beijo nascido do auto-ódio e do arrependimento. Tinha gosto de bebida cara e de uma tristeza tão profunda que parecia que eu estava me afogando nela.
Ele me empurrou para a cama, seu peso me prendendo, seus lábios nunca deixando os meus. Foi uma violação. Um ato de profanação no altar do meu amor morto. E durante tudo isso, enquanto suas mãos se emaranhavam no meu cabelo brutalmente curto, ele sussurrava o nome dela.
"Isabela."