Vittorio Leonel não estava mentindo quando expressou seus desejos insanos por mim. Pensar que, após pagar à minha família uma quantia que lhes garantiu um bom futuro, é gratificante. Mas não foi somente isso: ele se encarregou de comprar uma moradia melhor e mais confortável em outro país, onde nunca mais teriam contato comigo. Isso me quebrou por dentro.
Contudo, o que me conforta é saber que eles estão bem.
- Bom dia! - meu marido diz, ao sair do banho. Timidamente, sento-me na cama, cobrindo a minha nudez com um lençol branco.
- Bom dia! - respondo, igualmente tímida. Entretanto, ele se aproxima, sobe na cama e se inclina para beijar a minha boca.
- Quero tomar o café da manhã com as minhas esposas reunidas essa manhã. Acho que já está na hora de você começar a fazer isso, querida.
Não, eu quero ficar bem aqui dentro do meu quarto, protegida de todos lá fora. Tenho vontade de dizer, mas sei que ele odeia ser contrariado. Eu vi, com os meus próprios olhos, o que Vittorio Leone é capaz de fazer quando isso acontece.
- Claro.
- Ótimo! Quero que fique linda para mim. Então escolha o seu melhor vestido para esta manhã. - Ele volta a me beijar.
Devo dizer que Vittorio é um homem extremamente bonito e atraente. Que o seu corpo é moldado pelos exercícios frequentes que faz em uma academia mantida aqui mesmo na mansão. Sua aparência é realmente de tirar o fôlego. A forma como se veste atrai olhares famintos das mulheres. A sua voz. Seu olhar. Tudo é um belo conjunto de sedução, de sensualidade e perversidade. Entretanto, sua presença também causa medo e insegurança. Todos nessa casa o temem, sem exceção. E eu não serei burra em contrariá-lo.
Minutos depois, descemos os degraus da mansão de mãos dadas e logo seguimos para uma sala, onde uma mesa farta, com suas esposas e filhos já nos aguarda. Em silêncio, os assisto interagir como uma família normal e feliz. No entanto, me pergunto: como isso pode acontecer? Quero dizer, como elas não se incomodam com essa união louca e sem sentido? E ainda, como conseguem agir como se fossem grandes amigas?
De repente, alguém adentra a sala e se aproxima do Senhor da casa para dizer-lhe algo ao pé do ouvido. A face tranquila de Vittorio Leone muda subitamente, tornando-se tenebrosa. Ele calmamente passa a ponta do guardanapo no canto da boca e o larga em cima da mesa, ficando de pé no segundo seguinte. As mulheres fazem o mesmo e sem saber como agir, levanto-me no mesmo instante.
- Terminem seu café da manhã - Vittorio ordena. - Eu preciso resolver uma coisa. - Então, inesperadamente, ele se aproxima de mim e me beija demoradamente.
- Fique tranquila, Coelhinha - Vittorio sussurra cuidadoso. Seu polegar se arrasta docemente pela minha bochecha, enquanto o seu olhar intenso se fixa no meu. Entretanto, mesmo usando um tom tão baixo, ele consegue causar-me medo.
Vittorio me vê como um maldito bichinho assustado, e isso me deixa irritada.
- Seja bem-vinda à casa, Abby! - Uma loira sentada do outro lado da mesa diz, despertando-me. - Meu nome é Bertha. E essa é a Lise, minha filha.
Forço um sorriso sem graça.
- É um prazer, Bertha! E, oi, Lise! - falo meio sem jeito.
- Essa é a Nádia...
- A primeira esposa - A morena completa a frase de Bertha rudemente. - E, eu sou a mãe do primogênito de Vittorio Leone - ralha, como se exibisse um troféu reluzente em ouro.
Bertha revira os olhos.
- Relaxe, a Nádia é assim mesmo. Ela vive se vangloriando de ser "a mãe de um menino".
- Soube que você será a bonequinha de porcelana do Vittorio - Nádia comenta venenosa, abrindo um sorriso forçado em seguida.
- Sorte sua não ter que gerar filhos para ele. - Bertha sibila. - O Vittorio costuma ser bem... exigente com isso - retruca, levando uma porção de frutas à boca.
- É, sorte sua - Nádia concorda um tanto debochada. Incomodada, ajeito-me na cadeira.
- O que tem para fazer nesta casa? - procuro saber, mudando de assunto.
- Ah, a Ava vai te mostrar tudo. Ela será a sua dama de companhia dentro e fora de casa. A pessoa que te mostrará tudo, inclusive o que fazer para se divertir. - Uma espiã. Penso, pois sei que ela estará vinte e quatro horas colada em mim apenas para garantir que estarei sempre na linha.
Uma biblioteca. Uma piscina enorme com cascatas, um gazebo, uma pequena trilha para corridas matinais, uma ampla sala de cinema, outra de massagem e tem até uma sauna. Optei pela leitura e pelas corridas matinais. Isso deverá me ajudar a manter minha mente ocupada.
- Você vai mesmo ler tudo isso? - Ava, uma jovem de aparentemente vinte anos pergunta, sentando-se ao meu lado em um banco largo de madeira, fazendo-o balançar um pouco.
- Eu amo ler romances. Então, sim, pretendo ler cada um deles.
- Será que eu consigo fazer o mesmo? - Ela avalia a espessura dos livros com curiosidade.
- Você pode tentar.
- Ps. Ainda Te Amo! - ela experimenta o título. - É, parece interessante. - Ava abre o livro e, em poucos segundos, encosta-se no encosto almofadado do banco e começa a ler. Não seguro um sorriso satisfeito e me concentro em meu romance preferido.
***
No dia seguinte...
A porta do meu quarto se abre no exato momento em que termino de amarrar o cabelo em rabo de cavalo. Inevitavelmente, observo Vittorio entrar no cômodo e embora ele esteja assanhado, e com a roupa bagunçada, meu marido exala uma sensualidade ímpar. Em silêncio, ele se aproxima por trás, me prende ao seu corpo e beija arduamente minha nuca.
- Você está tão linda, Abby! - sussurra áspero.
A verdade é que eu não suporto o seu toque e gostaria de me livrar de seu agarre. De afastá-lo de mim. Mas resolvo aceitar as suas investidas sem qualquer resistência.
- Estou pensando em iniciar algumas corridas matinais - comento como quem não quer nada, quando a sua mão segura firme na minha garganta, apertando-a com uma firmeza singular, enquanto a sua língua desliza sorrateira pelo lóbulo da minha orelha, causando-me arrepios e certa repulsa.