Na manhã seguinte, recebi uma ligação do Ministro Julian Wilson.
"Kathy, venha ao meu gabinete, por favor."
Julian era meu mentor, um subsecretário no Ministério das Relações Exteriores.
Seu gabinete ficava no último andar do prédio do Ministério. Quando entrei, ele estava revisando alguns documentos, atrás de uma mesa repleta de papéis soltos e livros.
"Sente-se", disse ele, assim que me viu. Ele indicou o sofá. "Chá ou café?"
"Só água, por favor."
O Ministro me serviu um copo e depois se acomodou na cadeira em frente a mim. "Então, me conte o que está acontecendo."
"O que está acontecendo?" Eu não me contive. Contei tudo sobre a crise em Mayland, incluindo as gravações, derramei sobre ele tudo que sabia até aquele momento.
Porém, o Ministro apenas ouviu em silêncio, o rosto sem reação alguma. Quando terminei, ele ficou em silêncio por um longo momento.
"Kathy, você já passou por muita coisa e eu sou testemunha disso."
Suas palavras me desarmaram, e as lágrimas começaram a brotar.
"Ministro Wilson, acha que perdi tudo?"
"Perdeu tudo?" Julian balançou a cabeça. "Você é a melhor intérprete que já conheci em toda minha carreira. Sem você, as consequências da crise em Mayland seriam inimagináveis, poderíamos ter entrado em um conflito armado."
"Mas eu não consigo nem lidar com meu próprio casamento, não consigo nem..."
"Casamento não é como um emprego, Kathy. Não é algo que se possa ter sucesso apenas se esforçando sozinho. É uma empreitada de duas pessoas adultas." Julian levantou-se e caminhou até a janela. "Sempre tive a sensação de que havia algo errado com Jared desde o começo."
Olhei para cima. "Ministro, o senhor já sabia?"
"Um homem que realmente ama sua esposa não a deixa carregar o peso de todas as funções diplomáticas sozinha." Julian se virou para me encarar. "Kathy, sabe o que os delegados dos outros países disseram sobre você após a última Assembleia Geral da ONU?"
Balancei a cabeça.
"Disseram que nós temos tem a melhor intérprete do mundo." Julian voltou e se sentou. "Quanto a Jared? Aos olhos deles, ele é apenas mais um diplomata comum."
Suas palavras me surpreenderam.
"Então, sobre a posição de intérprete principal na Cúpula do G20..."
"Se você quiser, é sua." Julian disse sem hesitação. "Mas Kathy, você está certa disso? Jared também estará presente nessa reunião."
"Tenho certeza, Ministro."
"Certo." Julian assentiu. "Então eu tenho apenas uma condição."
"Diga."
"Não importa o que aconteça, os interesses do país vêm em primeiro lugar. Esqueça interesses pessoais."
"Eu entendo."
Quando saí do gabinete do Ministro Julian, encontrei Robert Walsh no elevador.
Ele estava em seu uniforme tático preto, sua insígnia policial brilhando sob as luzes.
"Senhorita Quinn," ele me cumprimentou com um aceno curto.
"Capitão Walsh."
A viagem de elevador foi silenciosa, preenchida apenas pelo zumbido das máquinas.
"Ouvi dizer que você será a intérprete principal para o G20 deste ano," ele disse.
"Sim."
"Parece que vamos trabalhar juntos novamente." Robert olhou para mim e disse: "Estou à frente da segurança da cúpula."
As portas do elevador se abriram e eu saí.
"Capitão Walsh." Virei-me para ele. "Obrigada. Pelo que você fez em Mayland..."
"Apenas cumpri meu dever." Ele interrompeu, "Não precisa agradecer."
As portas se fecharam, cortando a visão de sua figura resoluta.
De repente, lembrei-me da crise em Mayland, quando todos pensaram que eu estava prestes a desmoronar, e foi apenas a voz de Robert no canal que disse: "Senhorita Quinn, mantenha-se firme. Temos mais cinco minutos."
Sua voz foi minha luz guia na escuridão.