Na véspera da abertura da Cúpula do G20, meu telefone tocou. Era Bailee.
"Senhorita Kathy, podemos nos encontrar?"
A voz dela era a mesma de sempre - frágil, com um toque choroso, quase patético e infantil.
"O que tiver para dizer, diga pelo telefone. Estou sem tempo."
", Eu sei que você entendeu mal o senhor Jared, mas..."
"Bailee," eu a interrompi, impaciência explodindo no meu tom de voz. "Em um contexto profissional, você deve me chamar de senhora Quinn, e ele de Ministro Stanley. Não há mais relação pessoal entre nós dois."
"Mas..."
"Sem desculpas," eu disse, olhando para meu reflexo no espelho. "Além disso, a cúpula começa amanhã. Como membro da equipe de tradução, lembre-se do seu dever e obrigação. Representamos um país e os interesses do seu povo."
"Kathy, você tem que ser tão cruel? Jared se machucou me salvando. Você não pode perdoá-lo só desta vez?"
Perdoá-lo?
Ao ouvir isso, só pude rir.
"Bailee, será que você sabe por que Jared correu para te salvar?"
"Porque... porque era o dever dele proteger uma colega de trabalho..."
"Não." Levantei-me e fui até a janela. "Foi porque você estava chorando ao telefone, dizendo que estava assustada, e que se morresse, nunca mais o veria."
Ouvi o suspiro dela do outro lado.
"Você achou que eu não sabia?", continuei. "Achou mesmo que eu não tinha ouvido as gravações das suas belas e dramáticas declarações de amor? 'Ai, Jared, estou tão assustadinha. Você tem que vir aqui me salvar, meu amor.' 'Se eu morrer agora, você ainda vai sentir minha falta?'
"Eu... eu não..."
"Não importa se você fez ou não," eu disse, afastando-me da janela. "O que importa é que a partir de amanhã, somos apenas colegas de trabalho. Seria bom que você lembrasse disso de agora em diante. Trate-me da forma adequada e dirija a palavra a mim somente quanto for necessário."
Depois de desligar o telefone, recebi uma mensagem no WhatsApp.
Jared escreveu: "Kathy, podemos parar com essa briga para a cúpula amanhã?"
Olhei para a mensagem e não respondi.
Chegou outra. "Eu sei que você ainda está zangada, mas agora não é hora para drama."
Drama?
Eu apaguei o contato dele do WhatsApp.
Às 22h, eu estava revisando os materiais para o dia seguinte quando a campainha tocou.
Olhei pelo olho mágico. Era Jared. Não abri a porta.
"Kathy, sei que você está aí," ele disse do corredor. "Podemos, por favor, conversar um pouco?"
Sentei-me no sofá e continuei lendo meus arquivos.
"Kathy, eu admito que estava errado. Mas podemos, por favor, lidar com isso depois da Cúpula?"
"Você está me impedindo de descansar", finalmente eu disse, "Se você não for embora, vou chamar a segurança."
Ficou silencioso do lado de fora. Depois de um momento, ouvi passos se afastando.
Ele foi embora.
Fui até a porta e olhei pelo olho mágico. O corredor estava vazio.
Fui tomada por uma estranha sensação de perda, mas, também era um alívio imenso.
Pela primeira vez em três anos, eu me sentia livre.
Meu telefone tocou novamente. Era um número desconhecido.
"Senhorita Quinn. É Robert."
"Capitão Walsh? É tarde..."
"Para a Cúpula amanhã. Se algo acontecer, entre em contato direto comigo." A voz dele era baixa e firme. "Minha equipe garantirá sua segurança."
"Obrigada."
"De nada." Ele fez uma pausa. "E senhorita Quinn. Boa sorte amanhã."
Depois de desligar o telefone, olhei para a vista noturna pela janela. Amanhã seria meu campo de batalha.
Eu iria mostrar ao mundo o que é profissionalismo de verdade.