Lembrei-me de seu pedido de casamento. Ele me levou ao esqueleto inacabado do primeiro prédio que eu projetei. Em meio ao concreto e às estruturas de aço, sob um céu riscado pelo pôr do sol, ele se ajoelhou e me disse que queria construir uma vida comigo, uma vida tão forte e duradoura quanto as estruturas que eu criava. Em nosso casamento, ele jurou ser minha fundação, meu abrigo contra a tempestade.
O amor, percebi com uma clareza devastadora, era a arquitetura mais frágil de todas. Podia ser demolido em um instante.
A porta se abriu e Gustavo entrou. Ele não olhou para mim. Ocupou-se com uma pilha de papéis na mesa de cabeceira.
"A médica te diagnosticou oficialmente com depressão pós-parto severa," ele disse, seu tom clínico. "Ela diz que seu estado emocional é volátil. Imprevisível."
Eu não disse nada.
"Dado o que aconteceu esta noite... com o Léo..." ele continuou, finalmente encontrando meus olhos. "Não acho que você esteja apta a ser a cuidadora principal dele agora. Não é seguro."
Uma premonição fria desceu pela minha espinha.
"O que você está dizendo?"
"Estou dizendo que a Flávia vai cuidar dele," ele afirmou, como se fosse a conclusão mais lógica do mundo. "Ela sente uma grande responsabilidade pelo que aconteceu e está ansiosa para se redimir. Ela será uma cuidadora maravilhosa."
A mulher que acabara de derrubar meu filho de uma janela. Ele queria que ela fosse sua cuidadora.
"Absolutamente não," eu disse, minha voz tremendo com uma raiva tão profunda que parecia que poderia rachar a terra. "Você não vai deixar aquele monstro chegar perto do meu filho."
"Não seja histérica, Alana," ele suspirou, passando a mão pelo cabelo perfeitamente penteado. "Você não está pensando com clareza. Isso é o melhor para o Léo."
"Melhor para o Léo?" eu ri, um som áspero e quebrado. "Ou melhor para a sua campanha? Melhor para manter os Rodrigues felizes?"
"Você não vai falar comigo assim!" ele avisou, sua voz baixa e ameaçadora. "Não há nada acontecendo entre mim e a Flávia."
Ele ainda estava mentindo. Mesmo agora.
"Vou viajar por alguns dias," ele anunciou, mudando de assunto. "Uma conferência em Brasília. Quando eu voltar, espero que você tenha uma atitude melhor."
Ele saiu sem olhar para trás.
Na noite seguinte, eu estava zapeando os canais da TV do hospital sem ânimo quando um flash de rostos familiares me chamou a atenção. Era um segmento de um programa de fofocas. "A estrela política em ascensão, Gustavo Ortiz, foi vista em clima de romance com a estagiária de campanha Flávia Rodrigues na inauguração exclusiva de uma nova vinícola no Vale dos Vinhedos..."
Lá estavam eles. Não em Brasília. No Sul. Gustavo tinha o braço em volta dos ombros de Flávia, a cabeça inclinada perto da dela, sussurrando em seu ouvido. Ela estava rindo, a cabeça jogada para trás, olhando para ele com pura adoração. Pareciam um casal. Pareciam felizes.
Uma calma estranha me invadiu. A dor era tão vasta, tão abrangente, que se tornara uma espécie de dormência. Pensei em seu toque, antes tão terno, agora reservado para outra. Pensei em suas mentiras, antes tão convincentes, agora tão transparentemente ocas.
Quando recebi alta do hospital, voltei para uma casa que não parecia mais minha. Comecei a fazer as malas. Não para ir embora, ainda não. Mas para apagar. Tirei nossas fotos de casamento, nossas fotos de férias, cada memória sorridente da vida que construímos. Coloquei-as em caixas e as guardei no sótão, enterrando o passado.
No fundo do armário do quarto de hóspedes, escondido atrás de uma pilha de caixas de sapatos velhas, minha mão roçou em algo duro e encadernado em couro. Era um diário. O diário de Flávia.
Meu coração martelou contra minhas costelas. Eu não deveria. Era uma violação de privacidade. Mas privacidade era um luxo que eu não podia mais me permitir. A segurança do meu filho estava em jogo. Eu o abri.
As páginas estavam cheias de uma caligrafia arredondada e feminina, uma crônica de uma obsessão de anos.
*12 de junho, seis anos atrás: Vi o Gustavo de novo no evento do papai. Ele está ainda mais bonito do que eu lembrava. Ele está namorando uma arquiteta qualquer. Ela não é a pessoa certa para ele. Ele precisa de mim.*
*3 de março, quatro anos atrás: O Gustavo veio visitar o papai. Ele parecia tão cansado. Fiz o chá favorito dele. Ele me disse que eu era uma boa ouvinte, que podia me contar qualquer coisa. Ele tocou minha mão. Nunca vou esquecer.*
Minha respiração falhou. Virei a página, minhas mãos tremendo.
*5 de agosto, dois anos atrás: Ele se casou hoje. Vi as fotos online. Ela usava branco, fingindo ser tão pura. Ela não faz ideia. Ela não faz ideia de que na noite antes de pedi-la em casamento, ele estava comigo. Ele estava na minha cama. Ele me disse que estava confuso, que sentia um dever para com ela, mas que seu coração... seu coração era meu.*
O diário escorregou dos meus dedos, caindo no chão com um baque suave. Não era apenas um caso. Não era apenas um flerte político. Era uma mentira. Nosso casamento inteiro, desde o início, foi construído sobre uma base de engano. Ele esteve com ela na noite anterior a me pedir para ser sua esposa.
Peguei o livro, meus movimentos rígidos, robóticos. Fui para a última entrada, datada da noite em que Léo nasceu.
*O Gustavo ligou. A arquiteta está em trabalho de parto. Ele está irritado, diz que o momento é péssimo. Ele está comigo agora. Ele me abraçou e me disse para não me preocupar. Ele disse: 'Assim que isso acabar, vou encontrar uma maneira de ficarmos juntos. De verdade. Eu prometo.'*
Uma promessa. A mesma promessa que ele havia feito a mim. Ele era um colecionador de promessas, espalhando-as como sementes, sem se importar com quais criavam raízes e quais murchavam e morriam.
Peguei meu celular e fotografei cada página. Evidência. Prova. Meu bilhete de saída deste inferno.
De repente, ouvi passos no corredor. Enfiei o diário de volta em seu esconderijo bem a tempo da porta do quarto se abrir.
Era Gustavo. Ele estava de volta mais cedo.
"O que você está fazendo aqui?" ele perguntou, seus olhos cheios de suspeita.
"Apenas... procurando um cobertor velho," menti, minha voz notavelmente firme.
Ele pareceu aceitar. Olhou ao redor do quarto, uma expressão estranha no rosto. Ele notou o diário, meio escondido por uma caixa de sapatos, e por uma fração de segundo, vi um lampejo de pânico em seus olhos. Mas eu o havia empurrado tão bem para trás que ele deve ter pensado que estava imaginando coisas. Ele relaxou.
"Vamos," ele disse, seu tom suavizando. "Vamos. É hora de buscar o Léo no hospital."
Dirigimos para o hospital em silêncio. Na UTI neonatal, a enfermeira-chefe nos encontrou na recepção, seu rosto marcado por confusão e alarme.
"Sr. e Sra. Ortiz," ela disse, a voz tremendo ligeiramente. "Pensei que vocês já o tivessem buscado."
O mundo girou.
"O quê? Do que você está falando?" perguntei, minha voz mal um sussurro.
"Uma mulher veio há cerca de uma hora," a enfermeira gaguejou, torcendo as mãos. "Ela disse que vocês a enviaram. Ela tinha a papelada oficial, sua assinatura... ela o levou."
O chão correu para me encontrar. Gustavo me segurou pouco antes de eu desmaiar, seus braços uma jaula que eu não queria mais.
"Não se preocupe, Alana," ele disse, a voz tensa com uma calma forçada que eu sabia ser para seu próprio benefício. "Eu vou encontrá-lo. Eu vou encontrar nosso filho."