O Retorno Bilionário da Herdeira Indesejada
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Capítulo 3

Ponto de Vista de Elisa:

Antes que eu pudesse responder, Henrique estava descendo as escadas, seus movimentos rápidos e silenciosos. Ele agarrou meu braço, seus dedos cravando na minha pele como garras, e me levantou. Eu não fiz nenhum som, minha respiração presa na garganta.

Ele me arrastou pela casa silenciosa e cavernosa até um escritório escuro, com painéis de madeira, que cheirava a couro e uísque. Ele me empurrou para uma cadeira em frente a uma mesa enorme e ligou um grande monitor.

A tela se iluminou com uma transmissão ao vivo de uma câmera de segurança. O quarto era austero e branco, clínico. No centro, amarrado a uma cama de metal, estava Beto Medeiros. Seus olhos estavam abertos, encarando o teto sem expressão. Tubos entravam e saíam de seu corpo. Ele estava paralisado, uma estátua viva.

Enquanto eu observava, um enfermeiro corpulento entrou no quarto. Ele trocou bruscamente uma das bolsas de soro de Beto, batendo em seu braço com força desnecessária. Então, ele pegou um copo de água, segurou-o a centímetros do rosto de Beto e o derramou lentamente no chão. Um sorriso cruel brincava em seus lábios. Beto não podia se mover, não podia falar, não podia nem piscar para afastar a única lágrima que escorria por sua têmpora.

"Esta é uma clínica particular", disse Henrique, sua voz um sussurro baixo e arrepiante bem ao lado do meu ouvido. "Muito cara. Eu pago para mantê-lo vivo. Exatamente assim. Para que ele possa sentir cada segundo de sua existência miserável."

Ele se inclinou mais perto, seu hálito frio contra minha bochecha.

"Ele é um lembrete constante do que acontece com as pessoas que machucam minha esposa. Você", disse ele, a voz baixando ainda mais, "também é um lembrete constante. Toda vez que ela olha para você, ela o vê. Ela revive oito anos de inferno."

Ele se endireitou, sua sombra pairando sobre mim.

"Então, este é o acordo. Você ficará fora da vista dela. Você não falará com ela. Você não olhará para ela. Você se tornará invisível. Se você causar a ela mais um segundo de dor, se eu a ouvir chorar seu nome durante o sono mais uma vez... eu vou fazer você desaparecer. Você me entendeu?"

A imagem de Beto, indefeso e atormentado na tela, estava gravada em minha mente. Eu só consegui assentir, meu corpo tremendo tanto que pensei que poderia desmoronar. Ele não era meu pai. Ele era meu captor. Mas vê-lo daquele jeito... era uma promessa. Uma ameaça do que aquele homem poderoso e implacável poderia fazer.

Fui confinada aos aposentos dos funcionários, um quarto pequeno e estéril no porão, ao lado da lavanderia. Minha vida se tornou a existência de um fantasma. Eu comia minhas refeições em uma tigela de cachorro de aço deixada no chão do lado de fora da minha porta – arroz sem graça e vegetais cozidos no vapor, o que o médico havia prescrito. Eu nunca via minha mãe. Eu nunca via Henrique. Eu só via os rostos ressentidos dos funcionários e o sorriso cruel e zombeteiro de Sofia.

Numa tarde ensolarada, eu estava sentada nos degraus dos fundos, tentando absorver um pouco de calor. Sofia saiu marchando, Zeus trotando em seus calcanhares. Ela segurava uma tigela de cachorro nova e brilhante, feita de cerâmica.

"Eu estava procurando por isso", disse ela, apontando um dedo para minha simples tigela de aço no chão.

"Essa... essa é a minha tigela", sussurrei.

"Mentirosa!", ela gritou. "Você roubou a tigela do Zeus! Você é nojenta! Você provavelmente tem doenças!"

Antes que eu pudesse reagir, ela pegou um pesado vaso de cristal de uma mesa de pátio próxima e o quebrou na minha cabeça. Uma explosão de luz branca explodiu atrás dos meus olhos, seguida por um calor surdo e crescente. Toquei minha testa e meus dedos saíram pegajosos de sangue.

O rosto de Sofia estava contorcido com uma raiva aterrorizante e exultante.

"Você é um monstro, igual a ele! Eu queria que você estivesse morta!"

Ela apontou para mim, sua voz ecoando pelo gramado perfeitamente cuidado.

"Zeus! Pega ela!"

O Doberman, treinado e leal, não hesitou. Ele avançou, seu corpo poderoso me derrubando dos degraus. Caí com força na grama, o ar sendo expulso de mim. Os dentes do cachorro se fecharam no meu pulso, não uma mordidinha de brincadeira, mas uma mordida de verdade. A dor, aguda e imediata, subiu pelo meu braço.

Eu não gritei. Não consegui. Tudo o que pude fazer foi olhar para cima, meu olhar procurando, suplicando. Eu a vi. Minha mãe, Eleonora, estava em uma janela do segundo andar, olhando para a cena. Nossos olhos se encontraram por uma fração de segundo. Vi um lampejo de algo – choque, talvez até horror. Um grito desesperado e silencioso por ajuda se formou em meu coração. *Mamãe, por favor.*

Então, lenta, deliberadamente, ela estendeu a mão e fechou as cortinas, mergulhando seu quarto, e meu mundo, na escuridão.

A última gota de esperança dentro de mim murchou e morreu.

Zeus começou a me arrastar pelo gramado, seus dentes ainda presos no meu braço. A grama estava fria contra minha cabeça sangrando. Senti-me estranhamente calma. Era isso, então. Era assim que terminava.

De repente, um carro freou bruscamente na entrada da garagem. Uma porta bateu.

"O que, em nome de Deus, está acontecendo aqui?!", uma voz profunda e autoritária bradou.

Um homem mais velho, alto e imponente com uma mecha de cabelo prateado, estava atravessando o gramado. Ele agarrou o cachorro pela coleira e, com uma força que me surpreendeu, abriu suas mandíbulas.

Ele se ajoelhou ao meu lado, seu rosto uma máscara de fúria e preocupação.

"Você está bem, criança?"

Este era Horácio Montenegro, o pai de Henrique. O patriarca.

A próxima coisa que soube foi que eu estava em um hospital. As luzes eram muito fortes, o cheiro de antisséptico muito agudo. Uma enfermeira estava costurando o corte na minha testa, seu toque gentil. Eu não chorei. Nem sequer estremeci. A dor no meu pulso da mordida do cachorro era uma pontada surda, mas a ferida no meu coração pelas cortinas fechadas da minha mãe era um cânion vasto e vazio. Eu não sentia nada.

Tarde da noite, a porta do meu pequeno quarto se abriu com violência. Dionísia, Eleonora e Sofia entraram correndo, seus rostos pálidos de pânico. Os olhos da minha mãe estavam vermelhos e frenéticos. Por um momento louco e impossível, pensei que elas estavam ali por mim.

Mas Sofia passou correndo pela minha cama.

"Vovó, o papai está bem? Ele vai ficar bem?"

Eleonora estava olhando, não para mim, mas para o espaço vazio ao lado da minha cama, as mãos se torcendo.

"Onde ele está? Disseram que ele sofreu um acidente grave."

Uma enfermeira entrou apressada atrás delas.

"A família de Henrique Montenegro?", ela perguntou.

Elas não estavam ali por mim. Estavam ali por ele.

            
            

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