O Retorno Bilionário da Herdeira Indesejada
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Capítulo 4

Ponto de Vista de Elisa:

O mundo fora do meu pequeno quarto de hospital se dissolveu em um borrão de atividade frenética. Enfermeiras e médicos passavam correndo, suas vozes urgentes. Ouvi trechos de conversas. "...colisão frontal... perdendo muito sangue... Rh-negativo, não temos estoque..."

Horácio Montenegro permanecia como um pilar de pedra no meio do caos, o rosto sombrio. Ele pegou o telefone.

"Um milhão de reais", disse ele ao receptor, a voz fria e clara. "Para qualquer hospital, qualquer banco de sangue, que possa nos conseguir sangue O-negativo nos próximos trinta minutos. Dois milhões se estiver aqui em quinze."

Rh-negativo. As palavras ecoaram na minha cabeça, puxando uma memória da névoa do meu passado. Um médico voluntário, visitando o cativeiro. Ele havia picado meu dedo. "Você tem um sangue especial, pequena", ele me disse, seu sorriso gentil. "Muito raro. Você tem que ter cuidado, mas significa que um dia pode ser uma heroína para alguém."

Uma heroína.

Talvez... talvez essa fosse a minha chance. Se eu pudesse ajudá-lo, o homem que minha mãe amava, então talvez ela me visse. Talvez ela finalmente me quisesse.

Deslizei para fora da cama, meus pés descalços frios no chão de azulejo. Meu pulso latejava e minha cabeça parecia confusa, mas me arrastei para o corredor.

"Eu posso ajudar", disse eu, a voz mal um sussurro. Puxei a manga de uma enfermeira que passava. "Eu posso ajudá-lo. Eu tenho o sangue especial."

Sofia, que estava chorando dramaticamente no casaco caro de Dionísia, virou-se.

"Cala a boca! Você está piorando as coisas!" Ela me empurrou, e eu tropecei para trás contra a parede.

Os olhos da minha mãe, vazios e frios, finalmente pousaram em mim.

"Pare com isso, Elisa", disse ela, a voz monótona e cansada. "Apenas... pare. Você já não causou problemas suficientes?"

Suas palavras me atingiram com mais força do que o vaso, mais força do que os dentes do cachorro. Eu havia causado isso. O acidente, a dor, tudo. Minha existência era o problema.

Nesse momento, um grito de comemoração veio do final do corredor. Um entregador havia chegado, um isopor nas mãos. Eles haviam encontrado um doador. Henrique ia ficar bem.

Os Montenegro avançaram em direção à sala de cirurgia, uma onda de alívio os inundando. Eleonora desabou contra a parede, soluçando de gratidão. Sofia e Dionísia se abraçaram. Eles eram uma família, unidos em sua alegria.

E eu fui esquecida.

Quase.

Enquanto a família celebrava, Horácio Montenegro se virou. Seus olhos, afiados e calculistas, encontraram os meus. Ele não sorriu. Não ofereceu uma palavra gentil. Ele simplesmente gesticulou para a enfermeira que tinha sido gentil comigo.

"Teste o sangue dela mesmo assim", ele ordenou em voz baixa. "Eu quero saber."

No dia seguinte, os Montenegro vieram levar Henrique para casa. Ele estava enfaixado e fraco, mas vivo. Eles o mimaram, um turbilhão de atividade e preocupação, antes de saírem do hospital em sua frota de carros pretos.

Eles me deixaram para trás.

Sentei-me na beira da cama do hospital, vestida com um avental de papel, e os observei partir. Não foi uma surpresa. Nem doeu mais. Era apenas um fato, como o céu ser azul. Eu era uma coisa a ser descartada quando não fosse mais conveniente.

Algumas horas depois, a enfermeira gentil entrou, com um arquivo na mão e um olhar estranho no rosto.

"É verdade", disse ela, quase para si mesma. "Você é Rh-negativo. O-negativo." Ela me olhou com um novo respeito. "Você realmente poderia tê-lo salvado."

Ela pegou o telefone na parede.

"Preciso ligar para a mansão dos Montenegro. Eles precisam saber disso."

Eu a ouvi falando com alguém do outro lado.

"Sim, aqui é do Hospital São Judas... sobre a menina, Elisa... o exame de sangue dela voltou. Ela é O-negativo, doadora universal. Uma combinação perfeita para o Sr. Montenegro..."

Houve uma pausa. Eu podia ouvir uma voz fraca e aguda chiando no receptor. O rosto da enfermeira se abateu.

"Sim, Sra. Magalhães", disse ela, seu tom agora formal e derrotado. "Eu entendo... Não, suponho que não importa mais... Um lar adotivo de primeira linha? Sim, claro. Nós a teremos pronta."

Ela desligou o telefone e não olhou para mim. Dionísia havia descartado a informação. Era uma perturbação. Eles já haviam providenciado para que eu fosse removida.

Resignei-me ao meu destino. Era melhor assim. Se eu fosse embora, minha mãe poderia ser feliz. Ela não teria que ver meu rosto e se lembrar. Minha ausência era o único presente que eu poderia lhe dar.

Uma assistente social com um sorriso cansado chegou pouco tempo depois. Ela me entregou uma pequena sacola com minhas roupas velhas e sujas. Ela me levou para fora do hospital e para um sedã simples. Enquanto nos afastávamos do meio-fio, olhei pela janela de trás para um último vislumbre do lugar onde eu quase fui uma heroína.

Foi quando eu vi. O Bentley preto e elegante de Horácio Montenegro, acelerando em direção ao hospital, movendo-se rápido demais.

Dentro daquele carro, Horácio agarrava seu telefone, os nós dos dedos brancos. Ele estava ouvindo uma voz de um laboratório de DNA, uma voz calma, profissional e prestes a estilhaçar seu mundo.

"Sr. Montenegro", dizia a voz do outro lado da linha, "os testes são conclusivos. Comparamos a amostra do seu filho com a amostra da menina, e também com a amostra de arquivo de Beto Medeiros. O Sr. Medeiros era estéril, senhor. Ele teve caxumba na infância. Há zero possibilidade de ele ter tido um filho."

Houve uma batida de silêncio.

"Senhor", a voz continuou, "a menina, Elisa. O DNA dela é 99,999% compatível. Ela é a filha biológica do seu filho."

                         

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