Ele encontraria outra garota.
E eu... eu seria expulsa, de volta à escuridão de onde ele me arrancou, mas desta vez sem esperança e com um alvo nas costas.
Eu era sua posse.
Uma posse que havia superado sua utilidade primária.
Ele deu um passo em minha direção, sua mão se estendendo como se para tocar meu rosto.
Era um gesto familiar, um que costumava fazer meu coração palpitar.
Desta vez, dei um passo para trás.
Sua mão congelou no ar.
"Sou sua assistente executiva, Sr. Medeiros", eu disse, minha voz plana e profissional, um tom que eu geralmente reservava para seus negócios. "Você dá uma ordem, eu a executo. Esse é o acordo."
Seus olhos se estreitaram, estudando-me como se estivesse me vendo pela primeira vez.
O silêncio se estendeu, denso com palavras não ditas.
Eu podia sentir seu olhar sobre mim, analítico e frio, despindo os anos de história compartilhada, de camas compartilhadas, deixando apenas a natureza crua e transacional de nosso relacionamento.
Finalmente, ele soltou um suspiro lento. "Tudo bem."
Ele caminhou até mim, seus movimentos mais uma vez fluidos e confiantes.
Ele ficou atrás de mim, suas mãos pousando em meus ombros.
Senti o calor de suas palmas através da seda fina do meu roupão, um fantasma de uma intimidade que agora estava morta.
Eu me encolhi, meus músculos se contraindo involuntariamente.
Seu aperto se intensificou por um segundo, um comando silencioso para ficar quieta.
"É apenas um papel, Alina", ele murmurou, sua voz agora suave e persuasiva, a voz que ele usava para fechar negócios e dobrar as pessoas à sua vontade. "Pense nisso como atuação. O Heitor é apenas um alvo. Isso não muda nada entre nós."
Uma risada amarga ameaçou borbulhar na minha garganta.
Não muda nada?
Tinha mudado tudo.
"Quando isso acabar", ele continuou, seus dedos traçando a linha da minha clavícula, "você pode ter o que quiser. Aquela vila em Fernando de Noronha que você gostou? É sua. A nova coleção da Cartier? Vou comprar tudo para você."
Levantei a cabeça, encontrando seu olhar no reflexo da janela escura.
"Obrigada, Sr. Medeiros", eu disse, minha voz vazia. "Vou cumprir minhas funções da melhor maneira possível."
O calor de seu corpo atrás de mim, um conforto que eu busquei por anos, agora parecia uma jaula.
O cheiro familiar de seu perfume, sândalo e algo unicamente dele, era sufocante.
Afastei-me e caminhei em direção à porta, precisando escapar da intimidade enjoativa do quarto.
"Alina."
Sua voz me parou no limiar.
Era o jeito que ele dizia meu nome, o mesmo tom baixo e íntimo que ele usava no escuro, logo antes de me puxar para perto dele.
Eu me virei.
Ele estava de pé perto da cama, uma silhueta escura contra a paisagem urbana cintilante.
As sombras escondiam sua expressão, mas eu podia sentir seu olhar, intenso e pesado.
"Espero... quando isso acabar", disse ele lentamente, "que você encontre alguém que te faça feliz."
Sua voz era suave, quase gentil. "Podemos nos separar em bons termos. Um rompimento amigável."
Um rompimento amigável.
Depois de sete anos sendo dele, de ter minha vida entrelaçada com a dele tão completamente que eu não sabia onde ele terminava e eu começava.
Pensei no dia em que ele me encontrou, uma coisa quebrada em um porão sujo.
Ele tinha sido meu salvador, meu deus.
Desde o início, eu sabia que éramos de mundos diferentes.
Ele era o sol, e eu era uma sombra, sortuda por sequer existir em sua luz.
Cada dia que passei com ele, cada toque, cada refeição compartilhada, parecia um presente roubado.
Algo que eu não merecia, mas era gananciosa o suficiente para pegar.
Eu sempre soube que este dia poderia chegar.
Só nunca pensei que doeria tanto.
Forcei meus lábios em um sorriso, uma coisa frágil e rachada. "Claro, Damião. Obrigada."