O Noivo Que A Deixou Para Morrer
img img O Noivo Que A Deixou Para Morrer img Capítulo 3
3
Capítulo 5 img
Capítulo 6 img
Capítulo 7 img
Capítulo 8 img
Capítulo 9 img
Capítulo 10 img
img
  /  1
img

Capítulo 3

O vento uivava, uma sinfonia fúnebre para minha morte iminente. A pequena luz vermelha do sinalizador era uma promessa secreta, mas uma promessa que se desvanecia a cada segundo que passava. O tempo era meu inimigo. O frio era meu carrasco.

As palavras de Carla ecoavam em minha mente, um mantra cruel de traição. Ele ficou feliz em fazer isso.

O rasgo em meu traje era uma ferida aberta. A camada de GORE-TEX, a barreira impermeável e à prova de vento que era minha última linha de defesa, estava comprometida. Minhas camadas de base estavam agora expostas, rapidamente se saturando com a neve fina e impulsionada pelo vento. Eu podia sentir a umidade se transformando em gelo contra minha pele.

Minha vida estava sendo medida em minutos.

O som fraco de neve sendo pisada me fez forçar minhas pálpebras pesadas a se abrirem. Eram Bruno e os outros, voltando da barraca principal. Por um momento selvagem e insano, uma centelha de esperança se acendeu em meu peito. Ele voltou por mim.

Então eu vi seu rosto.

Carla estava agarrada ao braço dele, soluçando teatralmente. "Ela me atacou, Bruno! Eu só fui ver como ela estava, e ela se lançou contra mim com o piolete dela! Ela enlouqueceu!"

Meu piolete. O que ela usou para rasgar meu traje. O que ela acabara de jogar ao meu lado. Estava ali na neve, uma prova silenciosa e condenatória que estava sendo distorcida em uma arma contra mim.

"Que diabos é isso?", Bruno rugiu, seus olhos caindo sobre o rasgo em minha jaqueta. Ele viu o corte não como uma ferida mortal, mas como prova da minha suposta insanidade.

"Ela mesma fez isso!", outro alpinista interveio. "Ela está tentando incriminar a Carla!"

Tentei falar, negar. "Ela... ela cortou...", as palavras saíram como um grasnido congelado, perdido no vento.

Bruno não me ouviu. Ou não quis. Ele olhou do rosto de Carla, manchado de lágrimas, para minha forma quebrada, e seu veredito foi instantâneo e absoluto.

O olhar em seus olhos foi o que finalmente me quebrou. Não era raiva. Não era confusão. Era uma certeza fria e dura. Ele acreditava nela. Ele olhou para mim, sua noiva, a mulher que ele deveria amar e proteger, e viu um monstro.

"Você sempre teve ciúmes de qualquer um a quem eu dou atenção", ele rosnou, sua voz pingando veneno. "Mas isso? Isso é um novo nível de baixeza, mesmo para você."

"Ela simplesmente não foi feita para esse nível de pressão", disse outra pessoa com um encolher de ombros desdenhoso. "Sempre tem que ser a estrela. Não aguenta quando um rostinho bonito recebe um pouco de atenção."

"Tão antiprofissional", acrescentou outra voz. "Completamente desequilibrada."

As palavras me atingiram, cada uma um golpe físico. Eles estavam construindo uma narrativa ao meu redor, uma jaula de mentiras da qual eu era fraca demais para escapar.

Bruno se ajoelhou ao lado de Carla, envolvendo meu cobertor térmico mais apertado em torno dela. "Está tudo bem, querida", ele murmurou, sua voz grossa com uma ternura que ele não me mostrava há anos. "Estou aqui. Não vou deixar ela te machucar."

O apelido carinhoso, tão casual, tão íntimo, foi a torção final da faca.

Carla fungou, enterrando o rosto no peito dele. Mas por cima do ombro dele, seus olhos encontraram os meus. Eles brilhavam com triunfo.

"Você é um risco, Alex", disse Bruno, sua voz plana e desprovida de qualquer emoção. Ele se levantou, olhando para mim como se eu fosse um equipamento defeituoso a ser descartado. "Você é um perigo para a equipe e um perigo para si mesma."

Minha esperança, aquela pequena e tola centelha, morreu completamente. Não havia mal-entendido a ser esclarecido. Não havia amor a que apelar. Havia apenas a realidade fria e dura de seu desprezo.

Afundei de volta na neve, o último resquício de minha luta se esvaindo. O frio era um conforto agora, uma promessa de um fim para a dor.

"Eu sou o Gerente de Projeto", anunciou Bruno, sua voz assumindo um tom oficial e autoritário para o benefício dos outros. "E estou revogando oficialmente a autorização da Alex Gray para esta expedição. Ela deve permanecer aqui até que possamos providenciar sua evacuação."

Ele estava formalizando minha sentença de morte.

Uma nova onda de tontura me atingiu, e o mundo começou a embaçar. Meu corpo estava desistindo.

Eu estava caindo, caindo em um abismo branco e profundo.

Justo quando minha consciência começou a se desfazer, um novo som cortou o rugido da nevasca. Era um som que não pertencia aqui, um zumbido rítmico e profundo que ficava cada vez mais alto.

Vum. Vum. Vum.

Um helicóptero.

---

            
            

COPYRIGHT(©) 2022