O Noivo Que A Deixou Para Morrer
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Capítulo 4

O som era impossível, uma alucinação nascida de um cérebro congelado e faminto por oxigênio. Helicópteros não voavam em condições como esta. Era suicídio.

Mas o som ficou mais alto, uma batida percussiva contra a fúria da tempestade. Um poderoso holofote cortou a neve rodopiante, varrendo a paisagem desolada antes de travar em nossa posição.

Bruno e os outros congelaram, seus rostos uma mistura de confusão e alarme. As lágrimas de crocodilo de Carla secaram instantaneamente.

O helicóptero, uma aeronave grande e potente pintada com as marcas de SAR - Busca e Salvamento - pairou habilmente acima de nós, seus rotores chicoteando a neve em um frenesi ofuscante. Uma porta se abriu, e duas figuras começaram a descer de rapel com uma velocidade e eficiência de tirar o fôlego.

Eles atingiram o chão correndo. A figura principal, de ombros largos e movendo-se com uma calma perturbadora, caminhou diretamente em direção ao nosso grupo. Ele ignorou todos os outros e foi direto para o meu buraco de neve.

"Senhor, este é um local de pesquisa restrito", começou Bruno, dando um passo à frente para interceptá-lo. "Você não pode simplesmente..."

O socorrista nem mesmo diminuiu o passo. Ele colocou uma mão firme no peito de Bruno e o empurrou para o lado com uma facilidade que era quase desdenhosa.

Ele se ajoelhou ao meu lado, seu rosto uma máscara de intensidade focada. Ele não usava capacete, apenas um gorro térmico, e seus olhos, de um cinza surpreendentemente claro, avaliaram minha condição em um único olhar abrangente. Ele viu o rasgo em meu traje, o tom azulado dos meus lábios, a quietude aterrorizante do meu peito.

"Hipotermia severa, temperatura central crítica", ele latiu para seu parceiro, sua voz um rugido baixo e comandante que cortou o vento. "Pupilas lentas. Estamos perdendo ela. Pegue a cápsula térmica e o soro, agora!"

Seu parceiro já estava se movendo, trabalhando com uma urgência silenciosa e praticada.

"O que está acontecendo?", gaguejou Bruno, perplexo. "Ela está bem, só está sendo difícil."

A cabeça do socorrista se ergueu, e ele fixou Bruno com um olhar tão frio que poderia ter congelado o inferno. "Sua colega de equipe ativou um sinalizador de emergência há quinze minutos. A assinatura biométrica dela está zerando. Você tem trinta segundos para me explicar por que ela está deitada em um buraco no gelo com um traje comprometido enquanto você está aqui de pé, totalmente funcional."

Sua identificação dizia HEITOR LEVY, LÍDER-SAR.

O rosto de Bruno ficou pálido. "Sinalizador? Isso é impossível, eu estou com o telefone via satélite dela."

Heitor o ignorou. Suas mãos enluvadas eram surpreendentemente gentis enquanto verificavam meu pulso, seu toque uma centelha de calor contra minha pele congelada. "Aguenta firme, Alex", ele murmurou, sua voz perto do meu ouvido. "Nós te pegamos."

Ele sabia meu nome. Claro que sabia. O sinalizador estava registrado em meu nome.

Ele e seu parceiro trabalharam com uma eficiência fluida e aterrorizante. Eles cortaram minha manga arruinada para inserir um acesso intravenoso, inundando meu sistema com uma solução salina morna. Um calor ardente e doloroso começou a se espalhar por minhas veias. Eles me envolveram em um cobertor de hipotermia prateado e crepitante, depois me colocaram cuidadosamente em uma cápsula de transporte isolada.

Enquanto se preparavam para me içar até o helicóptero, Heitor se levantou e encarou Bruno. Sua calma havia desaparecido, substituída por uma fúria rigidamente controlada.

"Quem diabos é você?", exigiu Bruno, tentando recuperar algum resquício de autoridade.

"Eu sou Heitor Levy. Minha equipe é contratada pela AlpiniaTech para emergências em testes de campo de alto risco", disse Heitor, sua voz perigosamente baixa. "O que significa que agora, nesta montanha, eu sou Deus. E você acabou de deixar uma das minhas protegidas para morrer."

Ele ergueu um pequeno telefone via satélite. "Conforme nosso contrato, já coloquei seu CEO na linha."

Uma voz familiar, chiando com estática, mas clara como um sino, irrompeu do alto-falante do telefone. Era Eduardo Bastos, o fundador e CEO da AlpiniaTech, um ex-montanhista com uma política de tolerância zero para incompetência.

"Acosta!", a voz de Bastos era um rugido de pura fúria. "A equipe de Levy acabou de me enviar os sinais vitais da Alex e uma foto do traje dela. Explique-se. Agora."

"Senhor, é um mal-entendido", gaguejou Bruno, o rosto pálido. "Ela estava agindo irracionalmente, era um perigo para a equipe..."

"Ela é a engenheira mais competente que eu tenho!", berrou Bastos. "E você a deixou para morrer em uma nevasca por quê? Uma estagiária ficou com frio? Você está demitido, Acosta. Você e a estagiária. Suas credenciais estão revogadas. Suas carreiras acabaram. Você será cobrado pelo custo total deste resgate e por cada peça de equipamento danificado. Se a Alex não sobreviver, eu pessoalmente farei com que você seja acusado de homicídio culposo."

Carla soltou um guincho horrorizado.

A linha ficou muda.

Heitor guardou o telefone, seus olhos cinzentos cravados em Bruno. "Você também terá notícias da minha equipe jurídica."

Ele se virou sem outra palavra, prendendo-se à linha de içamento ao lado da minha cápsula. Enquanto éramos erguidos para o céu turbulento e cheio de neve, a última coisa que vi foi Bruno Acosta parado sozinho na montanha, seu rosto uma máscara de incredulidade e ruína total.

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