Agora, meu único futuro era uma passagem só de ida para Fernando de Noronha. O e-mail de confirmação chegou à minha caixa de entrada algumas horas após minha aceitação. Um carro me buscaria em três dias. Três dias para suportar este lugar que um dia chamei de lar.
Atraída por uma curiosidade mórbida, desci as escadas. A sala de jantar formal brilhava à luz de velas, um banquete se estendendo pela mesa de mogno. Era uma celebração.
Pela "recuperação" de Chiara.
Ela estava aninhada ao lado de Dante, parecendo pálida e adorável em um vestido de seda. Minha mãe a mimava, meu pai a observava com adoração. Eles eram uma família perfeita.
E eu era um fantasma em seu banquete.
Ninguém me notou até que Dante finalmente ergueu os olhos, seus olhos escuros e insondáveis. "Alina. Venha, sente-se."
Era uma ordem, não um convite.
Permaneci firme junto à porta.
Chiara, desempenhando seu papel com perfeição, suspirou fracamente. "Dante, querido, você poderia descascar uma uva para mim? Meus dedos estão tão cansados."
Por uma fração de segundo, ele hesitou. Um lampejo de conflito - uma tempestade que eu reconheci - cruzou seu rosto antes de ser suavizado. Ele pegou uma uva, suas mãos grandes e capazes - mãos que construíram um império do crime, mãos que um dia me seguraram com tanta ternura - descascaram a pele fina com cuidado praticado.
Algo dentro de mim se partiu. Silenciosamente. Irrevogavelmente.
Virei-me para sair.
"Ingrata", minha mãe sibilou, a palavra cortando o ar como um chicote.
"Ela só tem inveja da Chiara", acrescentou meu pai, seu tom gotejando desdém. "Sempre teve."
Eles pensaram que eu não entenderia. Eles presumiram que sete anos em uma penitenciária federal me deixaram sem educação, quebrada. Mas a prisão não me quebrou; foi minha universidade. Eu aprendi a sobreviver. A ouvir. E para navegar nas intrincadas hierarquias e alianças atrás das grades, eu dominei vários idiomas, o espanhol sendo o principal deles.
Eu entendi cada palavra venenosa.
Uma determinação fria se instalou no fundo dos meus ossos. Não voltei para o depósito. Atravessei o grande hall de entrada, passando pelo olhar de desaprovação do mordomo, e saí pelas pesadas portas de carvalho.
O ar fresco da noite bateu no meu rosto. Continuei andando, pela longa e bem cuidada entrada de carros, até que o peso opressivo da propriedade ficou para trás.
Foi só então, quando meus sapatos baratos da prisão tocaram o pavimento público, que me lembrei.
Era meu aniversário.
Outro marco que eles haviam esquecido. Outro pedaço de mim que eles haviam descartado.
Eu não estava apenas indo embora. Eu estava os apagando.