Meu Casamento, Não Com Você
img img Meu Casamento, Não Com Você img Capítulo 4
4
Capítulo 5 img
Capítulo 6 img
Capítulo 7 img
Capítulo 8 img
Capítulo 9 img
Capítulo 10 img
img
  /  1
img

Capítulo 4

Ponto de Vista: Beatriz Barros

A manhã do casamento amanheceu clara e impossivelmente ensolarada no Rio. Uma piada cruel. Meu telefone tocou precisamente às dez horas, exatamente como a cerimonialista havia agendado.

"Oi, amor. Pronta?", a voz de Kadu estava tensa com uma ansiedade que ele tentava mascarar com alegria.

"Estou pronta", eu disse, minha própria voz um lago plácido.

Ele soltou um suspiro, um som fraco de alívio. "Bom. Ótimo. Vou mandar um carro para você ao meio-dia. Te vejo no altar."

"Até lá", menti, olhando meu reflexo no espelho.

Eu estava usando um vestido. Um vestido de noiva. Mas não era aquele que Kadu pagou a contragosto. Era um que eu havia encontrado meses atrás, uma compra secreta, um sussurro de esperança por um futuro diferente. Era simples, elegante e inteiramente meu.

Quinze para o meio-dia, ouvi a buzina de um carro lá fora. No mesmo instante, meu telefone tocou. Era Kadu.

Sua voz era uma torrente de pânico. "Bia, meu Deus, aconteceu uma coisa."

Eu esperei.

"É a Amanda", ele ofegou. "Ela teve um ataque de pânico severo. Hiperventilando, tudo. Tenho que levá-la para o pronto-socorro."

Claro. A donzela em perigo, fazendo sua jogada final e espetacular.

"Não posso deixá-la, Bia, você entende", disse ele, as palavras uma ordem, não uma pergunta. "Você tem que ir para o local sem mim. Chegarei assim que puder. É o nosso dia de casamento, um pequeno atraso não vai importar."

Um pequeno atraso. No dia do nosso casamento. Porque a amante dele teve uma crise de ansiedade convenientemente cronometrada.

"Eu entendo", eu disse, minha voz ainda impossivelmente calma.

Ele fez uma pausa. Mesmo em meio ao pânico, ele sentiu que algo estava errado. Minha concordância foi fácil demais, suave demais.

"Você... você não está brava?", ele perguntou, perplexo.

"Não, Kadu", eu disse, e foi a coisa mais verdadeira que eu disse a ele em meses. "Não estou nem um pouco brava. Vá cuidar da Amanda."

Houve outra batida de silêncio atordoado antes que ele gaguejasse: "Ok. Bom. Te vejo em breve."

Ele desligou. Imaginei-o em seu carro, o alívio tomando conta dele. Ele havia se livrado de uma bala. A sempre compreensiva Bia o havia ajudado mais uma vez. Ele provavelmente se achava o homem mais sortudo do mundo, conseguindo conciliar sua noiva e sua amante no dia do seu próprio casamento.

Ele não fazia ideia.

Ponto de Vista: Kadu Alencar

Acelerei para longe do apartamento de Amanda, meu coração ainda batendo forte. Essa foi por pouco. Perto demais. Amanda, abençoado seja seu coração dramático, fez um verdadeiro show, mas algumas respirações profundas e a promessa de comprar uma nova pulseira Cartier curaram milagrosamente seu "ataque de pânico".

"Tem certeza de que a Bia não se importou?", Amanda perguntou, piscando os cílios.

"Ela está bem. Ela entende", eu disse, dando-lhe um beijo rápido.

Senti uma onda de orgulho. Eu estava conseguindo. O casamento perfeito no Rio, uma noiva feliz e minha melhor amiga cuidada. Eu era o cara.

Meu bom humor durou até eu chegar ao hotel de luxo requintadamente decorado na Zona Sul. O lugar parecia incrível. Mas algo estava errado. O estacionamento estava meio vazio.

Entrei no grande salão de festas. Meus pais e um punhado de parentes estavam lá, circulando sem jeito. Mas as fileiras e mais fileiras de cadeiras montadas para a cerimônia estavam gritante e terrivelmente vazias.

O lado de Beatriz era uma cidade fantasma. Nenhum convidado. Nem seus pais, nem sua irmã, nem seus amigos da faculdade. Nada.

Um pavor frio, agudo e desconhecido, subiu pela minha espinha.

Será que esqueci de passar o endereço final para ela? Não, mandei uma dúzia de vezes. Os convites foram enviados. Ela cuidou de tudo isso. Ela é a planejadora.

Minhas mãos começaram a tremer. Peguei meu celular, meu polegar cutucando a foto de contato dela. Liguei. Direto para a caixa postal.

Liguei de novo. Caixa postal.

De novo. De novo. De novo.

"Kadu, o que está acontecendo?", minha mãe perguntou, seu rosto uma máscara de preocupação. "Onde está todo mundo? Onde está a Bia?"

"Eu não sei", engasguei, meus olhos percorrendo a sala vazia, olhando para o relógio na parede. Eram dez minutos após o horário de início da cerimônia.

O telefone na minha mão tocou. Era ela. Beatriz.

O alívio me invadiu, tão potente que me deixou tonto.

"Bia!", gritei no telefone, uma torrente de palavras raivosas e em pânico jorrando. "Onde diabos você está? Você esqueceu seu próprio casamento? Todo mundo está esperando! Eu estou esperando!"

Houve uma pausa. E então a voz dela, calma e clara como uma manhã de inverno, veio pela linha.

Eu podia ouvir o som fraco do vento. E sinos. Sinos de igreja. E o barulho de neve sob os pés.

"Eu estou aqui, Kadu", disse ela.

Meu sangue virou gelo. Não era o vento de uma praia do Rio. Era o vento cortante e frio de uma montanha.

"Estou em Campos do Jordão."

                         

COPYRIGHT(©) 2022