Ele me jogou para trás. Meu corpo bateu com força no chão, o impacto sacudindo meus ossos. O vidro quebrado da garrafa de champanhe cravou nas minhas costas e braços, pontadas agudas de dor que não eram nada comparadas à pressão na minha garganta.
Ele estava em cima de mim em um instante, uma mão ainda esmagando meu pescoço, a outra agarrando um punhado do meu cabelo e puxando minha cabeça para trás.
- Ajoelhe-se - ele ordenou, sua voz um rosnado baixo e aterrorizante. - Ajoelhe-se e implore pelo meu perdão.
Minhas mãos arranhavam inutilmente seu pulso, minhas unhas raspando sua pele. Eu não conseguia respirar. O mundo estava se estreitando para um túnel escuro.
- Eu te dei tudo, Beatriz - ele sibilou, o rosto contorcido em uma máscara de fúria psicótica. - Eu te dei um lar. Um nome. Sua vida é minha para dar, e minha para tirar.
Um sorriso doentio e distorcido se espalhou por seus lábios.
- Mas não vou deixar você morrer. Ainda não. Seria fácil demais. - Ele se inclinou mais perto, seu hálito quente contra minha orelha. - Você é meu brinquedo favorito. E eu não terminei de brincar com você.
A lembrança de uma videochamada passou pela minha mente. Era de Cassandra, uma semana depois de eu ter sido exilada. Ela estava rindo, exibindo uma nova pulseira de diamantes.
- O Nando comprou para mim - ela arrulhou, a voz escorrendo malícia. - Um presentinho de agradecimento. Por me livrar da concorrência.
Ela então virou a câmera, mostrando Fernando ao fundo, olhando pela janela.
- Ele ficou tão desapontado que você não lutou mais pelo seu precioso cavalo - ela disse. - Ele queria te ver quebrar. Ele me disse que adora ver a luz morrer nos seus olhos.
Sua voz caiu para um sussurro conspiratório.
- Cuidado, Beatriz. Se ele se cansar de mim, você pode ser a próxima na lista dele. E ele não ficará satisfeito em apenas te matar.
A memória alimentou uma última e desesperada onda de desafio. Juntei a pouca saliva que me restava na boca, espessa com o gosto metálico de sangue do meu lábio mordido, e cuspi diretamente no rosto de Fernando.
Uma gota vermelha pousou em sua bochecha perfeitamente esculpida.
Seus olhos se arregalaram em choque, depois se estreitaram em pura repulsa. Por um momento, seu aperto em minha garganta afrouxou enquanto ele recuava.
Foi toda a abertura que eu precisava.
Eu arquejei por ar, uma respiração crua e irregular que queimou meus pulmões.
- Com nojo, Nando? - grasnei, um sorriso ensanguentado esticando meus lábios. - Ótimo. Acostume-se.
Imitei seu tom anterior, minha voz um eco quebrado e zombeteiro da sua.
- Eu também não terminei de brincar com você.
Meu olhar passou por ele para os rostos horrorizados na multidão.
- Eu voltei para fazer cada pessoa que me machucou pagar - declarei, minha voz ficando mais forte a cada palavra. - E eu sempre começo pelo que está no topo.
O rosto de Fernando era uma nuvem de tempestade de raiva. Ele limpou a saliva de sua bochecha com as costas da mão.
- Tudo bem - disse ele, a voz perigosamente calma. - Você quer brincar? Vamos brincar.
Ele se levantou, pairando sobre mim.
- Segurança - ele chamou, sua voz ressoando com autoridade. - Vigiem-na. Não a deixem se mover.
Ele então me deu as costas, caminhando até Cassandra, que agora estava sendo cuidada por suas amigas. Ele se ajoelhou ao lado dela, sua expressão suavizando para uma de preocupação gentil enquanto afastava uma mecha de cabelo solta e encharcada de sangue de seu rosto.
- Está tudo bem, querida - ele murmurou, sua voz agora um bálsamo calmante. - Eu estou aqui. Eu vou cuidar disso.
Cassandra se desfez em soluços teatrais, enterrando o rosto em seu peito.
Eu me sentei, meu corpo gritando em protesto. As bordas afiadas do vidro cravaram mais fundo na minha pele, mas eu mal senti. Tudo o que eu podia sentir era o calor escaldante do meu ódio.
Os sussurros começaram novamente, desta vez tingidos com uma espécie de pena cruel.
- Ela é uma tola por desafiá-lo.
- Você viu o jeito que ele olhou para a Cassandra? Ele realmente a ama.
- Pobre garota. Ela nunca teve chance. Ela é apenas uma órfã que ele acolheu. Deveria ter se mantido em seu lugar.
Alguém perto de mim pegou o celular. Um vídeo começou a tocar. O som de um cavalo aterrorizado. Meu cavalo. Cometa.
O som me atingiu como um golpe físico, roubando o ar dos meus pulmões mais uma vez.