Ela vira o rosto, e por um segundo acho que vai me ignorar. Mas então ela cospe no chão.
Lenta. Deliberada.
Levanto uma sobrancelha.
- Tô cansando disso! - a voz dela sai firme, cheia de desafio.
Um sorriso surge no canto dos meus lábios. Desdém puro.
- Ah, é?
Ela senta na cama, os pulsos livres agora, mas ainda vermelhos da pressão da corda. Me olha como se quisesse me matar.
- Fala de uma vez o que você quer comigo!
Cruzo os braços, me divertindo com a impaciência dela.
- Com você? Nada.
Os olhos dela se arregalam. A indignação está estampada no rosto.
- Já com seu pai...
Ela aperta os lábios, me analisando. Então franze o nariz, como se finalmente tivesse entendido.
- Eu sabia! Você quer dinheiro, né? É isso!? Sempre o maldito dinheiro!
Reviro os olhos.
- Por que não liga logo e pede o resgate? Vamos, acaba logo com isso!
Ela quer me apressar, quer que isso acabe. Só que não vai acabar. Não tão cedo.
Solto uma risada baixa, seca.
- Tá rindo de quê!? O que tem de tão engraçado!?
Cruzo os braços, sem tirar os olhos dela.
- Você.
Ela se debate, ainda sentada, os punhos fechados como se quisesse socar alguma coisa.
- Você acha que é por dinheiro?
Ela para. O silêncio pesa entre nós.
Aproveito a hesitação dela para dar mais um passo. Meu tom se torna mais sombrio.
- Seu pai acabou com a minha vida.
O fogo nos olhos dela vacila.
Meu maxilar trava, a raiva sobe queimando.
- E eu vou acabar com a dele.
Ela se afasta instintivamente quando me aproximo mais. Mas é inútil. Seguro seus pulsos de novo, puxo suas mãos e começo a desfazer os nós. Meus dedos apertam um pouco mais do que deveriam.
- Agora, anda! Come essa merda!
Me afasto. Ela olha para as cordas caídas no chão e então para mim. Então, do nada, se levanta e corre.
Idiota.
Ela não dá nem três passos antes que eu a pegue pela cintura e a tire do chão.
- Agggh!!! Me larga!!
Ela se debate, mas não tem força suficiente pra escapar. Em dois segundos, a jogo de volta na cama.
- Fica aí!
Ela cai com força, os cabelos bagunçados cobrindo parte do rosto. A cama range. Ela me olha com puro ódio, e isso deveria me irritar. Mas não irrita.
- Não adianta tentar fugir! E se não quiser comer, não come, caralho!
O silêncio entre nós é cortante. Ela tira os cabelos do rosto, ainda furiosa.
- Pode tentar resistir, mas você não vai chegar a lugar nenhum.
Não espero resposta. Viro de costas, saio do quarto e bato a porta com força, trancando-a atrás de mim.
Ela pode gritar, se debater, me odiar o quanto quiser.
Isso aqui tá só começando.
.....
Saí do quarto puto. A mão foi direto pra gravata, puxando-a com força enquanto afrouxava o nó. O tecido arranhou minha pele, mas eu nem liguei.
Cada músculo do meu corpo estava tenso. Andei até a sala e me joguei no sofá, furioso. Passei a mão pelos cabelos, tentando controlar a onda de raiva que subia dentro de mim. Os botões da camisa foram os próximos a serem abertos, um por um, rápido e bruto. O peito subia e descia pesado.
Suspirei, soltando o ar devagar, tentando colocar os pensamentos no lugar.
Isso não era o que eu tinha imaginado.
Achei que ela fosse entrar em choque. Que fosse chorar, se vitimizar, implorar. Mas não. Jade era atrevida, teimosa e estava conseguindo me tirar do sério de um jeito que eu não esperava.
A maldita cuspiu no chão, me desafiou na minha cara. Tentou fugir bem na minha frente.
Idiota.
Passei a mão pelo rosto, tentando calcular o que fazer a seguir. Eu não tinha me preparado pra tanta resistência. Não dela.
Mas se ela achava que podia me desafiar assim, estava muito enganada.
....
A ideia veio no meio da raiva. Ela queria ser teimosa? Tudo bem. Mas eu não ia dar mais nenhuma chance pra que tentasse fugir de novo.
Peguei o celular e fiz a ligação. Meu contato atendeu no segundo toque.
- Preciso de um rastreador. Pequeno. Discreto. - Minha voz saiu firme, sem espaço pra discussão.
- Consigo pra você. Encontro daqui a duas horas no mesmo lugar de sempre.
Desliguei sem dizer mais nada.
A noite passou enquanto eu dirigia pra encontrar o cara. Peguei o rastreador, testei, garanti que funcionava perfeitamente. No caminho de volta, o sol já estava nascendo, tingindo o céu de laranja e dourado.
Quando entrei no quarto, ela estava acordada, sentada na cama, os joelhos dobrados contra o peito. A bandeja de comida ainda estava no mesmo lugar, intocada.
Jade me viu e instantaneamente se afastou, os olhos cheios de alerta.
- Não chega perto de mim! - A voz dela era cortante, mas eu só sorri.
Caminhei até ela devagar, predador.
- Só quero conversar.
- Conversar uma ova! - Ela se arrastou pra mais longe, encostando as costas na parede.
Suspirei, parando ao lado da cama.
- Tudo isso deveria ser mais fácil. Mas você não tá cooperando.
- Não quero saber! - Ela cruzou os braços, o olhar queimando.
Meu maxilar travou.
- Mas vai saber. Porque tudo isso é culpa do seu pai.
Ela não respondeu, mas eu vi a hesitação em seu olhar. Mesmo tentando parecer indiferente, aquela informação fez algo dentro dela vacilar.
Aproveitei a brecha e avancei. Ela tentou se afastar de novo.
- Você não vai fugir mais!
Antes que ela pudesse reagir, agarrei seu pulso e puxei. Ela se debateu, mas não tinha chance contra minha força.
- Não! Sai... Sai!!!
Ignorei os protestos, girando seu corpo pequeno e prendendo-a contra mim. Ela se contorcia, mas eu era maior, mais forte. Meus braços a imobilizaram, e antes que ela pudesse gritar mais, puxei o pano embebido em álcool e pressionei contra o nariz dela.
- Shhh... vai ser rápido, princesa.
Ela lutou, tentou me arranhar, mas em segundos os movimentos ficaram mais fracos. A respiração desacelerou e o corpo amoleceu contra o meu.
Eu a deitei com cuidado na cama, afastando os cabelos do rosto dela.
Tão bonita. Mas tão atrevida.
Peguei o rastreador e o inserir atrás da nuca dela, pressionando suavemente, ela jamais saberá pois era tão pequeno quanto um grau de arroz.
Agora ela estava presa a mim.
Mesmo que não quisesse.