O medo era uma arma, e ali, as armas eram usadas com rapidez.
"Senhorita Sandoval." Sua voz me penetrou antes mesmo que eu o visse. Profunda, precisa.
Virei-me lentamente.
Lá estava Dante Moretti, o homem que agora detinha o que restava do meu futuro. Terno escuro, gravata perfeitamente ajustada, o olhar de alguém que não precisa levantar a voz para dominar uma sala.
Ele era atraente, sim, mas não da maneira como os homens bonitos costumam ser.
Ele era imponente.
Sua presença era ao mesmo tempo uma promessa e uma ameaça.
"Não esperava que você fosse tão pontual", disse ele, sem se mover do lugar.
"Não tenho motivos para fazê-la esperar", respondi.
Ele inclinou levemente a cabeça, me estudando como se eu fosse um relatório financeiro que ele precisava avaliar antes de decidir se investiria... ou destruiria.
"Seu pai disse que você entende de negócios", continuou ele.
"Depende do tipo de negócio", respondi, mantendo o olhar fixo nele. "Se você vai me tratar como uma transação, espero ao menos conhecer os termos."
Um lampejo brilhou em seus olhos, breve, como um raio.
Ali estava: a faísca do interesse.
Ele deu um passo em minha direção. O assoalho rangeu sob seus pés.
Cada movimento seu parecia ensaiado, calculado para testar o quanto eu resistiria antes de ceder.
"Normalmente não explico minhas decisões", disse ele calmamente. "Então não se surpreenda se eu desobedecer ordens que não entendo."
Um silêncio denso se instalou entre nós.
Eu podia sentir sua respiração, o calor do seu corpo se aproximando, a tensão invisível nos envolvendo como as correntes do nome que eu nunca escolhi.
"Ela tem coragem", sussurrou ela finalmente. "Isso pode salvá-la... ou condená-la."
"Suponho que dependa de quem tem as chaves", respondi.
Seus lábios se curvaram levemente. Ela não sorriu, mas seu olhar sim.
E pela primeira vez, eu soube que ela não era indiferente.
Ela apenas estava escondendo isso com maestria.
Dante
A maioria das pessoas treme ao entrar nesta casa. Não ela.
Ela olhava para cada canto como se estivesse medindo meu império, calculando seu preço.
Ela não era a mulher que eu esperava. Seu pai a descreveu como "obediente, grata".
Uma mentira. O que se apresentava diante de mim era fogo contido por uma fachada de gelo.
Quando ela falou, não foi com medo, mas com uma elegância perigosa.
Sua voz carregava a calma de alguém que sabe que está sob controle, mas ainda não se rendeu.
Aproximei-me um pouco mais, apenas para ver sua reação.
Nada.
Nem um passo para trás.
Aquela insolência... Era exatamente o que eu não podia me permitir desejar.
"A partir de hoje", eu disse, "você viverá aqui. Haverá regras. Você não sairá sem permissão. Não tomará decisões sem me consultar."
"Então não se trata de uma dívida", ela respondeu friamente. "Trata-se de posse."
A palavra me atingiu em cheio.
"Posse."
Era veneno e verdade ao mesmo tempo.
"Chame como quiser, Elena. Mas lembre-se disto: aqui, cada movimento tem um preço."
Ela sustentou meu olhar com uma afronta que nenhum homem neste mundo deveria apreciar.
"E você", disse ela lentamente, "qual é a sua?"
Por um instante, esqueci de responder.
Porque a maneira como ele formulou a pergunta soava mais íntima do que qualquer carícia.
Elena
Quando ele me conduziu ao salão principal, o peso invisível de suas regras já pressionava meu peito.
Mas algo dentro de mim sorriu.
Não com ironia, mas com reconhecimento.
Eu já havia me envolvido com homens perigosos antes, mas nenhum como ele.
Dante Moretti não era um monstro de impulsos.
Ele era um predador de sangue frio.
E se eu quisesse sobreviver, teria que aprender a ser seu reflexo.