A mansão era enorme. Corredores intermináveis, retratos de rostos austeros, o aroma constante de incenso e madeira polida. Tudo exalava controlo.
Dele.
Virei uma esquina e dei de cara com uma mulher que carregava uma bandeja de prata.
Cerca de cinquenta anos, com um rosto bondoso, mas olhos cansados.
Ao ver-me, curvou a cabeça com um respeito que soava como uma advertência.
"Senhorita Sandoval", disse ela suavemente. "O Sr. Moretti pediu que a senhora tomasse o café da manhã no jardim sul."
"Ele pediu ou ordenou?", perguntei com um leve sorriso.
Ela me olhou por mais um segundo, como se calculasse se responder poderia lhe custar algo.
"Aqui, ordens sempre soam como pedidos, senhorita", respondeu ela finalmente.
A frase me arrepiou.
Era poética, mas também um aviso.
Continuei caminhando ao lado dela até chegarmos ao jardim.
De lá, eu podia ver os altos muros, o portão de ferro, os guardas discretos.
A liberdade estava a poucos metros de distância, e ainda assim, parecia mais distante do que nunca.
"Há quanto tempo a senhora está aqui?", perguntei enquanto ela me servia café.
"Tempo suficiente para entender que esta casa escuta, mesmo quando parece adormecida."
"E o que a mantém aqui?"
"Prudência", respondeu ela com um sorriso triste.
Eu estava prestes a fazer mais perguntas quando uma voz quebrou o silêncio.
"Ela parece confortável."
Dante estava parado no limiar de pedra, imaculado como na noite anterior, o sol incidindo sobre seu terno preto.
Olhei para ele.
Havia algo nele que não se encaixava na palavra "criminoso".
Ele era meticuloso demais, controlado demais.
E isso o tornava mais perigoso.
"Estou apenas observando", respondi. "Estou tentando entender o lugar onde vou morar... ou sobreviver."
Ele se aproximou lentamente.
Seus passos eram silenciosos, mas sua presença preenchia o ar.
Quando falou, foi naquele tom baixo que parecia deslizar sobre a pele.
"Você não precisa entender. Apenas obedeça."
"Sou péssima em seguir ordens, Sr. Moretti."
"Então você terá que aprender rápido."
"E se eu não quiser?" "Nem todas as lições são aprendidas de bom grado", disse ela, aproximando-se o suficiente para que sua sombra cobrisse a minha. "Algumas são aprendidas por necessidade."
O ar entre nós ficou denso.
Não havia uma ameaça explícita, mas algo mais forte: curiosidade, atração, um perigo compartilhado.
"Posso ao menos perguntar que tipo de dívida estou pagando?", sussurrei.
Seus olhos suavizaram um pouco, como se a pergunta a tivesse magoado mais do que ela admitisse.
"O tipo de dívida que se herda", respondeu ela.
E saiu.
Dante
Ela não deveria me provocar.
Não assim.
Mas ela provoca.
Com cada palavra calculada, com cada desafio envolto em polidez.
Não há medo em seu olhar, apenas cálculo.
É isso que a torna diferente.
Da galeria do segundo andar, observei-a caminhar pelo jardim.
Ela se movia como alguém que pertencia àquele mundo, não como uma prisioneira.
Se eu não soubesse quem ela era, teria pensado que era a dona da mansão.
"Ele parece gostar dela", disse uma voz atrás de mim.
Era Luciano, meu segundo em comando. Sempre direto, sempre um passo atrás.
"Não confundo curiosidade com gostar", respondi.
"Mas ele está observando-a. E isso, em você, Moretti, já é perigoso."
Não o corrigi.
Ele tinha razão.
Luciano continuou:
"A garota tem garra. Ela pode ser útil... ou se tornar um problema."
"Todos os problemas têm solução", eu disse.
"Não se o problema te afetar profundamente."
Virei-me lentamente para ele.
"Cuidado, Luciano. Você fala como se achasse que uma mulher pode me destruir."
"Ela não é uma mulher qualquer. Você sabe disso."
O silêncio voltou, pesado.
E pela primeira vez em muito tempo, eu não sabia se o silêncio estava do meu lado.
Elena
Naquela noite, sentada sozinha no meu quarto, entendi algo que antes tentava negar: Dante Moretti não me trancara como castigo.
Ele fizera isso porque, de alguma forma, me escolhera.
E nesse pensamento, em meio ao medo e à intriga, nasceu algo mais perigoso que o ódio: a curiosidade de saber o que se escondia por trás do seu controle.