Corrrentes De Cristal
img img Corrrentes De Cristal img Capítulo 4 O preço da liberdade
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Capítulo 6 Linha de Fogo img
Capítulo 7 Após o incêndio img
Capítulo 8 A Linha Que Se Rompe img
Capítulo 9 As Rachaduras no Poder img
Capítulo 10 Sombras Entre Nós img
Capítulo 11 O preço da verdade img
Capítulo 12 Amor y destrucción img
Capítulo 13 Alianza en las cenizas img
Capítulo 14 A Queda e a Ponta da Adaga img
Capítulo 15 Ecos após o incêndio img
Capítulo 16 Trono de Dois img
Capítulo 17 Ecos na tempestade img
Capítulo 18 Após o Silêncio img
Capítulo 19 Fogo e Estratégia img
Capítulo 20 Guerra e Juramento img
Capítulo 21 Antes do Incêndio img
Capítulo 22 O Retorno de Moretti img
Capítulo 23 A escuridão respira novamente. img
Capítulo 24 Renasça img
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Capítulo 4 O preço da liberdade

Elena

Eu não tinha sido convidada para jantar. Tinha sido convocada.

Uma diferença sutil, mas significativa. Um convite implica escolha; uma convocação, obrigação.

E nesta casa, as palavras têm peso.

A sala de jantar era iluminada por um lustre de cristal que pairava como uma ameaça.

Uma longa mesa, posta com precisão militar: dois copos, dois pratos, dois silêncios frente a frente.

Dante já estava sentado, o rosto banhado pela luz tênue que o fazia parecer uma escultura esculpida em sombras.

"Sente-se", disse ele sem levantar os olhos.

Eu me sentei. Não porque ele me ordenou, mas porque eu queria observá-lo atentamente.

O poder, quando estudado de frente, deixa de ser um mito.

Torna-se humano.

O jantar começou sem palavras.

O som de metal sobre porcelana era a única coisa que preenchia o ar.

Até que eu não aguentei mais.

"Você sempre janta em silêncio com aqueles de quem compra?"

Seus olhos se ergueram lentamente, como se minha voz tivesse cruzado uma linha invisível.

"Eu não compro pessoas, Elena."

"Não? Então como você chama isso?", perguntei, gesticulando para o lugar, o luxo, minha própria presença.

"Eu chamo isso de... consequências."

Essa palavra inflamou minha raiva.

"Consequências de quê? Da dívida ou do seu ego?"

Ele pousou os talheres calmamente.

Cada movimento seu parecia calculado para provocar mais do que mil palavras.

"Seu pai devia uma quantia que não podia pagar com dinheiro", disse ele finalmente. "Ele me ofereceu a única coisa que tinha: sua lealdade. Quando você o traiu, a dívida passou para você."

"Meu pai não me contou", sussurrei.

"Porque ele sabia que eu não entenderia."

"E você acha que eu entendo agora?"

Dante me olhou com algo diferente desta vez.

Não era escárnio, nem frieza.

Era... culpa.

"Ele não teve escolha", disse ele finalmente.

"Nem eu, aparentemente."

Inclinei-me para ele.

Não havia medo em mim, apenas uma clareza cortante.

"E você? Por que aceitou? Eu poderia ter tirado tudo de você. Propriedades, contatos, dinheiro... mas você escolheu isso." Gesticulei brevemente. "Me escolher."

"Porque", sua voz baixou, "eu não gosto de perder."

"Então isso não é justiça. É punição."

"Não", respondeu ele firmemente. "É controle."

As palavras pairaram no ar como uma lâmina invisível.

Encaramos um ao outro em silêncio.

Eu, desafiadora; ele, resistindo.

E naquele silêncio, aconteceu o que nenhum de nós havia planejado: a rachadura.

Vi o cansaço em seus olhos. A sombra de algo quebrado.

Ele não era o vilão dos contos de fadas. Ele era um homem que aprendera a sobreviver destruindo o que amava.

Sua voz suavizou um pouco:

"O pai dela não a vendeu. Ele tentou salvá-la... à sua maneira."

O ar me atingiu os pulmões.

Pela primeira vez, não soube o que dizer.

A fúria se misturava a uma estranha confusão, quase dolorosa.

Dante se levantou.

Deu alguns passos e parou atrás de mim.

Eu podia sentir sua respiração, o calor de sua presença.

"Não espero que você entenda, Elena", sussurrou ele perto do meu ouvido. "Mas um dia você verá que nem tudo que parece uma prisão... é."

Sua voz roçou minha pele.

Sua proximidade não era agressiva; era perigosa por outro motivo: porque eu não queria me afastar.

Quando ele se afastou, o ar se agitou novamente.

Fiquei sozinha, encarando o reflexo no meu copo, sentindo algo invisível começar a mudar de forma dentro de mim. Não foi submissão.

Foi curiosidade. A mesma curiosidade que destrói, que nos atira ao fogo só para ver até onde uma alma pode queimar antes de se despedaçar.

Dante

O jantar foi um erro.

Pensei que poderia controlá-la, dominar a conversa como domino os negócios.

Mas Elena não é um negócio.

Ela é um espelho que reflete tudo o que neguei ser.

Quando ela me perguntou por que a aceitei, não consegui mentir.

Porque sim, eu poderia ter destruído o pai dela.

Mas a verdade é que eu queria vê-la.

Desde a primeira vez que ouvi sua voz naquela gravação das negociações, sua calma, sua sagacidade... eu sabia que ela não era como as outras.

E isso, no meu mundo, é uma maldição.

Agora eu a observo à distância, me perguntando se a curiosidade que ela desperta em mim não é outra forma de fraqueza.

Porque cada vez que ela me desafia, algo dentro de mim se quebra um pouco mais.

E a pior parte de tudo...

é que eu não quero consertar.

            
            

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