"Se não quiser perder um dedo, melhor ficar parada." ele levou a lâmina até o lacre que me prendia e o cortou. Senti o cangue voltando a circular em meus dedos e esfreguei os pulsos doloridas.
Ele voltou a erguer sua faca, virando a lâmina diante do meu rosto enquanto olhava em meus olhos. Eles eram vazios, abismos sombrios que pareciam me sugar para eles. A lâmina fria tocou meu rosto, descendo pela minha bochecha. Engoli em seco e então prendi a respiração.
Sentia meu coração batendo com força em meu peito, o medo e a angústia crescendo conforme a faca escorregava tá o meu pescoço. Aqueles olhos cinzentos não se desviavam dos meus, como se ele estivesse esperando uma reação específica minha.
"Por favor..." uma voz baixa soou do fundo escuro da sala, desviando a minha atenção para ela. Cassian suspirou, parecendo irritado.
"Mandei que ficasse em silêncio." ele disse, se levantando e caminhando até as sombras.
Não demorou para um som estranho tomar conta daquela sala. Um som rouco e gorgorejante, como se a garganta estivesse sendo esmagada por água invisível. Um "glub-glub" desesperado, entrecortado por tosses sufocadas e suspiros agoniados que mal conseguiam puxar o ar. Era o som de alguém lutando contra o peso de um oceano interno, cada gorgolejo carregado de pânico, como bolhas estourando na superfície de um lago escuro.
Silêncio...
Meu coração batia ainda mais rápido. Eu tinha medo de me mover, de respirar. Cassian voltou e não consegui conter o grito de horror que explodiu dentro de mim. Seus braços pingavam o líquido vermelho e espeço, sua camisa grudada ao corpo enquanto cada paço dele deixava uma perfeita marca da sola de seu sapato em vermelho vivo no piso.
O homem que havia me levado até aquela sala se adiantou, trazendo uma toalha e um camisa limpa. A frieza como eles estavam lidando com aquela cena horrenda era assustadora.
"Me admira muito que um pouco de sangue te perturbe tanto, esquilinha. Como pretende ser enfermeira assim?"
"Como sabe..." Minha voz estava trêmula e baixa.
Cassian deu uma risada enquanto limpava seu corpo com a toalha. "Quando se compra algo, deve-se fazer uma pesquisa profunda." ele entregou a faca ao homem e olhou ao redor. "Tragam uma cadeira. Minha convidada não pode ficar sentada no chão a noite inteira."
Algo foi arrastado, criando um som estridente. A cadeira que foi levada não combinava em nada com aquele lugar. Seu estofado era de um branco puro, com detalhes delicados de pequenas flores bordadas em um fio perolado.
Aquele pequeno móvel se destacava contra o piso escuro, paredes com tons profundos de grená e mobília escura. Cassian sentou em sua cadeira de couro escura, já com uma camisa escura limpa, dobrando as mangas até os cotovelos.
Sua presença era esmagadora. Aquele homem emanava poder, segurança e medo, uma mistura perigosa e volátil. Me sentei diante dele, as mãos fechadas sobre os joelhos, contendo os tremores do meu corpo.
"Agora sim, podemos ter uma conversa adequada." ele disse, o sorriso sempre nos lábios. Com calma, Cassian levou a mão ao queixo, esfregando a barba como se estivesse pensando em algo, enquanto a minha mente dispara centenas de pensamentos e perguntas.
O silêncio perdurou e eu não tive coragem de desviar meus olhos de Cassian, com medo de sofrer o mesmo fim da pessoa misteriosa que ainda estava no canto escuro daquele lugar.
"Não há motivo para ser tão cuidadosa." Cassian quebrou o silêncio. "Como eu disse, é minha convidada, Lilian Reed."
"Não sou sua convidada." disse, sentindo uma pontada de raiva ao reviver aquela noite horrível. Mas eu tinha que ser racional e analisar minhas opções.
Cassian era o Boss, o líder da máfia daquele território. Ele era, acima de tudo, um homem que jamais aceitaria sair no prejuízo e eu tinha de usar aquilo a meu favor de alguma forma.
"Acredito que o senhor tenha sido enganado."
"Eu acho que não." ele respondeu sem vacilar. Engoli em seco, tentando pensar em qualquer argumento que pudesse usar ao meu favor.
"Não tenho nada, senhor. Meu pai era um simples vendedor, não nos deixou nada além daquela casa simples. Seus homens podem confirmar." Olhei para os lados, buscando a confirmação do homem, mas ele se manteve calado. Meu coração batia cada vez mais rápido. "Eu sou apenas uma garçonete desse clube e uma estudante, não tenho nada para oferecer."
"Você se subestima muito, esquilinha." Cassian se levantou, caminhando na minha direção.
Sentada naquela cadeira, eu me sentia ainda menor sob a sombra de Cassian. Ele deveria ter por volta de 1,90 m, seu corpo era coberto de músculos firmes e seus olhos cinzentos eram frios e cruéis enquanto ele mantinha um sorriso que deveria ser gentil e caloroso.
Me encolhi na cadeira.
Um suor frio escorreu pela minha espinha, minha garganta se fechou enquanto meu coração martelava contra meu peito. A mão dele segurou meu queixo com força.
"Você tem mais a me oferecer d que imagina." Puxei meu rosto e ele me soltou.
Cassian parecia estar se divertindo com tudo aquilo, enquanto eu só queria sair daquela sala com vida.
"Eu pago." ele arqueou uma sobrancelha, parecendo confuso com as minhas palavras. Engoli em seco antes de continuar falando, juntando toda a coragem que eu tinha dentro de mim. "Eu pago o valor que você pagou para a Diane e o Liam."
A gargalhada de Cassian me pegou completamente desprevenida. Ele realmente parecia estar se divertindo com a situação. O poderoso corvo voltou para sua cadeira, cruzando as pernas e assumindo uma postura completamente relaxada.
"Acho que você não entendeu a sua situação." ele disse, recuperando o fôlego. "Eu paguei muito caro por você, pequena, não acho que consiga cobrir esse valor."
"Eu tenho algumas economias, posso juntar o dinheiro restante, se for necessário."
Cassian entrelaçou os dedos, jogando a cabeça para o lado com seu sorriso vazio enquanto seus olhos pareciam ver dentro da minha alma. Tentei parecer forte, firme na minha decisão e na minha proposta.
"Não acho que você tenha meio milhão de euros para me pagar, esquilinha."
Ao ouvir aquele valor absurdo, senti todas as minhas forças serem drenadas de mim. Aquele valor era absurdo para qualquer pessoa. Minha visão escureceu, minha mente ficou completamente em branco.
Sua presença me envolveu, seu perfume parecia entorpecer meus sentidos. Ele apoiou suas mãos no encosto da minha cadeira, seu corpo pairando sobre mim.
"Entenda de uma vez, Lilian Reed. Você pertence a mim agora. Irá trabalhar para mim e responderá somente as minhas ordens."
Não era possível.
Eu não queria acreditar que toda a minha vida havia terminado daquela maneira.
Ergui meus olhos, percebendo a proximidade de Cassian pela primeira vez. Seus lindo rosto apresentava pequenas marcas e cicatrizes. Em seus lábios, um sorriso de lado surgiu, seus olhos cinzento ganharam um ar que misturava divertimento e curiosidade.
"Parece que vamos nos dar bem, esquilinha."