Leandro: "Eu me lembro de você, Serafina. Do gala. Sua análise foi impecável. Fiquei tão impressionado que pedi para tirarem uma foto espontânea sua naquela noite. Está em uma estante no meu escritório. Venha para o Rio. Amanhã. Conversaremos."
Uma foto. Ele tinha uma foto minha. Uma onda de validação tão poderosa que quase fez meus joelhos dobrarem me percorreu. Ele não tinha esquecido.
Minha determinação se instalou em meus ossos, fria e dura como aço. Minutos depois, eu havia reservado um voo só de ida para o Rio de Janeiro para a noite seguinte.
Heitor não voltou para casa naquela noite. Quando liguei para sua assistente, Clara, a voz dela foi seca. "Ele está em uma reunião de estratégia até tarde com a Sra. Moraes, Fina. É para o novo projeto."
A mentira era tão descarada que era quase engraçada.
Ele finalmente entrou pela porta na manhã seguinte, cheirando ao perfume enjoativo de Olívia e à sua própria satisfação presunçosa. Ele beijou minha testa, um gesto que agora fazia minha pele arrepiar.
"Tenho uma surpresa enorme para você hoje à noite, meu bem", disse ele, seus olhos brilhando. "Algo que vai mudar tudo para nós."
Eu apenas sorri, uma expressão plácida e vazia que eu havia aperfeiçoado ao longo dos anos. "Mal posso esperar."
Naquela noite, ele me levou a um grande evento que celebrava o domínio de seu clã. O ar estava denso com fumaça de charuto, colônia cara e o murmúrio baixo de homens perigosos fechando negócios. Heitor estava em seu elemento, pavoneando-se.
Então, ele agarrou minha mão e me puxou em direção ao palco.
"O que você está fazendo?", sibilei, tentando recuar.
"A surpresa", ele sussurrou, um sorriso triunfante se espalhando por seu rosto.
Ele me conduziu ao centro do palco, sob o brilho total dos holofotes. A sala ficou em silêncio. Ele se virou para mim, o rosto uma máscara de adoração para a multidão, e se ajoelhou. Ele ergueu uma caixa de veludo, um diamante ridiculamente grande piscando lá dentro.
Meu estômago se revirou. Era isso. A armadilha pública.
Quando ele abriu a boca para falar, uma comoção irrompeu da multidão. Uma mulher gritou.
Era Olívia Moraes. Ela estava agarrando o peito, o rosto pálido, antes de desmaiar dramaticamente no chão.
Caos.
Heitor não hesitou. Ele largou a caixa do anel, que bateu e rolou pelo palco. Ele me abandonou, ainda de pé ali no holofote, e saltou para a multidão. Ele alcançou Olívia em segundos, pegando sua forma inerte em seus braços, bancando o herói para as câmeras e para o submundo reunido.
Enquanto ele a carregava em direção à saída, ela levantou a cabeça do ombro dele. Seus olhos encontraram os meus do outro lado da sala.
E ela deu um sorrisinho vitorioso.
A humilhação foi um golpe físico, mas por baixo dela, uma calma estranha se instalou em mim. Ele havia tomado a decisão por mim. Ele havia facilitado as coisas.
Virei-me e saí do palco, desaparecendo de volta nas sombras. Eu estava indo para o Rio de Janeiro.