Escolhendo o Meu Alfa
img img Escolhendo o Meu Alfa img Capítulo 5 O preço de desejar memórias felizes
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Capítulo 6 Servidão img
Capítulo 7 A casa do herdeiro img
Capítulo 8 Tormento img
Capítulo 9 Potencial img
Capítulo 10 Esforço em vão img
Capítulo 11 Nevasca img
Capítulo 12 Abominável img
Capítulo 13 Passarinho prateado img
Capítulo 14 Falsa empatia img
Capítulo 15 Heroi ou vilão img
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Capítulo 5 O preço de desejar memórias felizes

Uma escultura de gelo perfeita na forma de um lobo em frente ao chalé, irradiava os últimos raios de luz do dia. Olhei orgulhosa para o meu trabalho, fruto de um esforço dedicado, um treinamento secreto que realizei nos últimos dias e também uma surpresa para Ryan. Ele continuou deixando pistas para dizer que continuava olhando para mim e, a cada nova manhã eu saía e explorava o terreno em busca de seus recados.

Entre as mensagens, frases simples como: "Estou com saudade!" ou "Não se esqueça de se alimentar bem" me tiravam sorrisos e me davam forças.

"É hoje", pensei ansiosa olhando para o céu manchado de vermelho, laranja e amarelo do final do terceiro dia consecutivo sem nevar. Também era este o dia marcado como o décimo oitavo aniversário de Mia, o dia em que a verdade precisaria ser dita. Entrei, me banhei em águas frias e vesti o melhor conjunto de frio que Ryan dera para mim. Depois, desci para acender a lareira e preparar algo quente para recebê-lo.

A pequena mesa estava posta, tudo em seu devido lugar, mas ainda não me sentia preparada. Enquanto repassava mentalmente os arranjos, sons de passos fortes ecoaram na varanda e coloquei-me em posição, o coração acelerando enquanto a porta da frente rangia diante de sua abertura.

- Mia, qual é a do lobo de gelo? Como você.... - Ryan entrou dizendo essas coisas com um ar distraído, mas assim que seus olhos encontraram os meus, emudeceu. Um sorriso lindo iluminou seu rosto, e não pude deixar de notar o quão bem apresentável ele estava. Roupas elegantes de alto padrão, um relógio refinado em seu pulso esquerdo e, em sua mão direita, uma pequena caixa de bolo.

Mordisquei o lábio inferior timidamente, enquanto segurava a vontade de chorar.

- Sentiu minha falta? - perguntou colocando a caixa sobre a mesa posta e aproximando-se de mim.

- Sim, muita - sussurrei. Um sorriso sedutor brotou de seus lábios, enquanto suas mãos repousavam em minha cintura.

- Até guardou a melhor carne para fazer o meu prato preferido. Mia, você é realmente um doce. - Ryan riu satisfeito antes de descer os lábios até os meus. Seus beijos ardentes cessaram rapidamente, e então se afastou, puxando uma cadeira, um convite a eu me sentar.

- Obrigada - agradeci enquanto tomava lugar à mesa. Ele circundou a mesa e sentou-se de frente para mim, mirando-me com intensidade.

- Vamos comer logo. Não temos muito tempo até o seu despertar, e você precisa de forças - disse ele, abrindo a tampa da panela. Estiquei a mão no intuito de nos servir, mas ele me bloqueou. - Não, Mia. Hoje é o seu aniversário, então deixe-me servi-la.

- Uhn... - murmurei, abaixando o olhar, pensando que talvez esse seja o último bom momento que eu teria com ele. Eu deveria dizer a verdade, mas se eu fizesse, eu perderia isso. Memórias boas eram tão raras para mim...

Ryan foi generoso ao encher meu prato. Mesmo ficando com a menor parte, saboreou como se fosse o melhor alimento de sua vida. Meu estômago revirou de ansiedade quando ele retirou a louça suja e decidiu cortar o bolo. Este não foi o único bolo que ganhei na vida, já que no ano anterior, ele comemorou o aniversário comigo da mesma forma. Ele era o único no mundo que pensava em mim, e eu valoriza isso. Ainda assim, não conseguia me sentir de todo feliz.

- Mia, qual o problema? Está preocupada com a transformação? Você não precisa, não é tão ruim quanto dizem - disse ele, enquanto colocava uma bela fatia do bolo diante de mim. - Além disso, estarei aqui para te apoiar, tudo bem?

Assenti, forçando um sorriso e peguei o garfo, servindo-me. Era o meu sabor preferido; Maçã com especiarias. Assim que o pedaço começou a desmanchar em minha boca, lágrimas involuntárias escaparam de meus olhos. Tão delicioso...

"Oh, céus, que Ryan continue me amando depois de hoje", rezei com todo o meu coração.

- Oh, Mia, está tudo bem? Já está sentindo algo? - perguntou ele, ajoelhando-se ao meu lado e colocando uma mão sobre o meu queixo.

- Não, estou bem. É só que estou... tão feliz - sussurrei, voltando meu olhar para ele e lançando-me em sua direção.

Ryan me segurou firmemente e aconcheguei-me em seus braços, enquanto ele se levantava e me levava até o sofá. Ele não disse mais nada, apenas marcou presença passando sua mão forte e grande em minhas costas enquanto soprava palavras doces e de conforto em meu ouvido, promessas de que ficaria sempre ao meu lado e de que tudo daria certo.

A espera continuou, o sono me atingindo em meio aos soluços contidos, enquanto os braços de Ryan insistiam em me manter junto a ele. Tais palavras por ele proferidas não se sustentaram, pois ao virar a meia noite, seu aperto se tornou doloroso.

- Mia, poderia haver um erro na sua certidão de nascimento? - questionou-me com a voz mais fria, tão diferente de como estava sendo anteriormente. Não respondi a essa pergunta, o que pareceu ter levantado desconfianças nele.

- Mia! O que está me escondendo? - Com um movimento brusco, ele lançou-me por baixo dele e posicionou o corpo por cima do meu de forma dominadora. Abri bem meus olhos, encontrando um olhar feroz e nada amigável.

- Eu... - minha respiração estava pesada, as palavras se recusando a sair. Ainda assim, sentia que era hora de enfrentar a situação de frente. - Eu já fiz dezoito, mas não sinto meu lobo ainda.

Dizem que dias antes de despertar, os lobisomens começam a ter sensações interiores peculiares, então sempre sabiam dizer que havia algo acordando. Sentimentos contraditórios, desequilíbrio emocional e agitação de espírito devido à concentração de energia mágica antecediam a transformação. Eu, no entanto, não tive qualquer sinal.

- Isso não é possível, você não... - Ryan estava em choque. - Ser órfã não significa que você precisa ser fraca. Como posso acreditar que minha companheira sequer tem um lobo?

A voz dele se elevou, a frieza em seu olhar era algo que eu já presenciara incontáveis vezes, em todos aqueles que me fizeram mal. Havia desprezo neles, o que me levou ao desespero total. Por um instante, senti que deveria fazer de tudo para me justificar, mesmo que eu tivesse que quebrar a promessa que fiz à Dália.

- Ryan, eu não tenho o lobo ainda, mas se puder esperar...

- Mais do que já esperei? - questionou, exasperado. - Mia, mesmo que algum dia no futuro você desperte, lobos tardios são tão atrofiados e fracos que sequer deveriam existir.

- Mas um dia irei despertar e serei forte, Ryan! Por favor, acredite em...

Ele interrompeu-me lançando sua boca sobre a minha, seus lábios se movendo sobre os meus com ferocidade. Meus lábios estavam começando a ficar doloridos quando ele se afastou, sorrindo de um jeito que me assustou.

- Acho que você não tem muitas opções agora, não é? Para o seu bem, é melhor me responder corretamente - ameaçou.

- Você... não me ama mais? - perguntei entre lágrimas. Não adiantava mais tentar convencê-lo, ele claramente não se importava.

- Mia, eu gosto demais de você, ou do contrário não teria cuidado de você por tanto tempo. Mas você não é digna de ser minha companheira. Você só tem duas opções agora: Torne-se minha serva e amante e viva, ou morra lá fora, esquecida por tudo e todos.

"Eu não posso morrer", pensei em desespero. "Eu quero viver!"

- E então, o que será? - Ryan me pressionou, segurando meu queixo com força. - Saiba que se virar minha serva, garantirei que continue tendo tudo o que precisa, nada vai te faltar.

As palavras dele soaram mais suaves, e vi um lampejo de afetuosidade em seu olhar. Diferente de como pensei, ele não simplesmente me expulsou, ele me deu uma opção. Contudo, ser uma serva à mercê dele não estava em meus planos. Todo o calor que meu coração vinha sentindo ultimamente desapareceu, enquanto meus sentimentos congelavam novamente. Dor e solidão, eu já havia aceitado isso há muito tempo. As memórias vívidas de todas as promessas que fiz a mim mesma fizeram com que o meu presente fosse sufocado por esse passado sombrio.

- Apenas me deixe ir - respondi por fim. Mesmo em meios aos perigos externos, sabia que faria de tudo para sobreviver, assim como fiz até agora.

- Como posso te deixar ir assim, Mia? - respondeu ele, decepcionado. Pelo menos, terá que pagar por tudo o que já lhe dei.

Enquanto olhava para ele, via mais do que um desejo avassalador, via perigo. Eu já não sentia nada, não tinha mais apego a sonhos ou ilusões românticas. O preço por achar que podia desejar memórias felizes estava prestes a ser cobrado.

                         

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