Desde muito cedo, fui ensinado que estava destinado à grandeza do meu sobrenome e que as pessoas sempre estariam de olho no que eu faria a cada momento do meu dia.
Mas não é somente por ser rico que estou sob os olhares atentos de todos.
Sou um príncipe, o primeiro na linha da sucessão ao trono, embora, jamais tenha desejado ou imaginado usar uma coroa.
Minha madrinha, esposa do irmão do meu pai, o rei, não teve herdeiros legítimos e me criou desde pequeno como se ela também fosse minha mãe.
Amor jamais faltou na minha vida, assim como obrigações. Além dos meus sonhos, ainda havia as aulas chatas e infindáveis sobre política, línguas estrangeiras, diplomacia internacional, matemática, geografia, história nacional e internacional, economia e tantas outras disciplinas que consumiram boa parte da minha infância e adolescência.
Mas quando minha irmã nasceu, finalmente, tudo se tornou divertido e menos solitário.
Só que não posso reclamar, pois quando cheguei à maioridade, descobri meu talento para os negócios e, consequentemente, fui trabalhar com meu pai na empresa de paisagismo da família.
Quando completei vinte anos, o negócio se tornou lucrativo, tanto que houve a necessidade de expandir.
Herdei o talento para os negócios da minha mãe, que hoje está aposentada e vê a empresa que recebi do meu bisavô, espalhada pelo mundo.
Entretanto, ainda sou assombrado pelas obrigações, caso precise me tornar rei. Se assumir o trono ou não encontrar um amor até certa idade, estarei fadado a me casar por conveniência.
Anualmente, meu rosto está estampado em algumas revistas famosas sobre homens ricos e solteiros cobiçados ou em revistas sobre paisagismo.
Sou bom no que faço, estou sempre em busca do que é moderno, novas tendência e novas técnicas. Embora, não goste tanto de redes sociais, uso a minha para promover a minha empresa.
Meu melhor amigo e sócio, Paul, está tentando me convencer a abrir uma filial em Nova York há meses e, embora não seja nem de longe uma prioridade, ele insiste nisso.
Aposto que tem mulher no meio ou ele não teria tanta pressa em me fazer adquirir um escritório muito bem localizado para abrirmos a nova empresa.
Sou um homem viajado e com visão e, mesmo que isso seja um excelente negócio, irá requerer uma inspeção mensal que não tenho vontade de fazer, pois meu foco inicial é abrir uma filial no Japão.
No fim, deixo a cargo do meu amigo decidir o que for melhor para a expansão e volto minha atenção ao problema atual da empresa. Um dos nossos projetos está atrasado há dois meses e a paisagista que deveria estar cuidando do acabamento do projeto pulou fora, nos deixando na mão.
Confesso que estou maluco nesses últimos dias, pois terei que arcar com o valor da multa do contrato, caso minha gerente não encontre outro profissional qualificado para finalizar a obra de uma vez.
Além dos problemas na empresa, tenho um problema pessoal ainda maior, conhecido como minha mãe. Estou com trinta e um anos e ela acha que devo me prender a alguém pelo resto da minha vida.
Há anos, incansavelmente, ela me arruma encontros com possíveis candidatas perfeitas pertencentes ao nosso círculo social.
Admito que a maioria delas já levei para cama e conheço bem o que elas querem: sexo, status social e dinheiro. Não sei como minha mãe ainda acredita que elas são inocentes e ingênuas.
A única mulher que fez meu mundo virar de ponta-cabeça e acreditar no amor conseguiu me magoar profundamente. Ela demonstrou não ser diferente das mulheres interesseiras, que fazem de tudo para me levar ao altar, que chegam até mesmo ao ponto de inventar uma falsa gravidez e fazer loucuras a ponto de colocar a própria vida em perigo.
Sentimento é algo que nos torna fraco e, prova disso, é que o amor foi a minha maior fraqueza. Por isso prefiro não me apegar demais.
Não quero ter nada sério, somente casual.
Até incentivo os outros a ter um relacionamento sólido, mas isso não serve para mim.
Conheço bem as mulheres à minha volta e por isso tento fugir desses encontros, mas parece que minha mãe sabe de todos os meus passos e posso jurar que tem o dedo da minha irmã nisso.
Para piorar o meu dia, mamãe resolveu ser coruja justo hoje, me ligando pelo menos umas doze vezes e em meio à crise que estou vivendo, acabei não conseguindo atendê-la.
- Theodor Apolo de Angelis!
Coloco os dedos nas têmporas e massageio o local, tentando me acalmar enquanto levanto as vistas e vejo Charlotte, ou melhor, Charlly, minha assistente, que apelidei quando ainda éramos crianças e sou um dos poucos que ela permite chamá-la assim, entrar logo atrás da minha mãe e irmã, murmurando um pedido de desculpa. Apenas aceno com a mão para ela não se preocupar, em seguida encaro minha mãe, que está com aquela expressão de poucos amigos.
Sei que quando minha mãe fala o nome inteiro do filho, é porque ele está enrascado em um nível alarmante! E o pior é que não fiz nada. Não que eu que me lembre, é claro.
- Mamãe! - Ela me encara friamente. - Está estonteante esta manhã! Mas a que devo a honra da sua visita e ainda trazendo a tiracolo minha linda irmãzinha?
Ela revira os olhos, caminhando até onde estou, e bate em meu braço.
- Filho ingrato! Como ousa não contar para sua mãe que está namorando?
Arregalo os olhos sem entender nada.
- De onde tirou essa ideia, mamãe? - Ela me bate mais uma vez. - Ai, doeu... - Tento reclamar, mas observo que ela realmente está acreditando em um boato infundado.
- Sua irmã me mostrou as inúmeras matérias e posts falando sobre o namoro, noivado e quase casamento. Como você arruma uma namorada do outro lado do mundo e não conta para a sua mãe?
Realmente, não estou entendendo a brincadeira de mau gosto.
- Tudo bem que ela é uma estrangeira, mas é bonita e me dará muitos netos.
Olho feio para minha irmã.
- Tinha que ser você! Quais são as mentiras que andou contando pra mamãe?
Ela balança a cabeça em negativa.
- Não estou mentindo. Sigo uma autora de quem sou muito fã e em uma das inúmeras pesquisas que fiz sobre as novidades do próximo lançamento, li uma matéria completa sobre o relacionamento de vocês. Te mandei o link no seu WhatsApp.
Meu celular apita avisando o recebimento de uma nova mensagem, abro o link e percebo que minha imagem e meu nome estão sendo usados por uma autora que deve ser uma senhora de idade, sem atrativos nenhum.
Minha mãe deve ter enlouquecido, juntamente com essa autora de meia-idade também.
Bom, isso era o que imaginava até ver a imagem dela.
Os olhos expressivos são hipnotizantes, assim como a beleza estonteante, que me faz repensar na resposta que darei à minha mãe. Posso muito bem usar isso a meu favor.
Sinto meu pau endurecer, observando a foto que não revela todas as curvas da mulher.
Sou um homem safado e nunca fugi da minha natureza, tanto que agora estou imaginando essa mulher pessoalmente e de uma forma bastante caliente.
Penso alguns minutos, enquanto avalio vários sites que contêm informações sobre meu noivado. Depois olho para mamãe que cruza os braços e me olha, irritada.
Se negar, sei que é bem capaz dela ir atrás da moça para entender essa história. Mas, se eu confirmar...
Bom, até que não é má ideia. Assim me livrarei das candidatas que mamãe insiste em me arrumar diariamente, terei um pouco de paz e, enquanto isso, irei atrás dessa autora que usou meu nome para se autopromover e a farei provar do seu veneno.
Engulo em seco e forço um sorriso, pois preciso ser convincente.
- Vocês me pegaram, eu confesso. Não falei nada antes porque era para ser uma surpresa. - Levanto as mãos em sinal de rendição e finjo estar magoado.
Mamãe abre um lindo sorriso e me abraça.
- Era uma surpresa, mamãe, mas a minha querida irmã estragou tudo.
- Meu filhinho! Finalmente vou ganhar uma nora e netinhos.
Que a minha "namorada" aguente as paranoias da minha mãe, pois aposto que ela vai me enlouquecer.
- Por que não me contou antes? Sou sua mãe, a pessoa mais confiável do mundo.
É plausível a pergunta. Afinal, se minha namorada levou essa informação a público, preciso de uma boa explicação.
- Porque sabia que agiria assim. Mal começo um relacionamento e você assusta a moça. Não negue, até minha irmãzinha está solteira por sua causa. - Posso ver a raiva estampada no semblante da minha irmã. - Eu te amo, maninha, mas da próxima vez, venha direto a mim com seus questionamentos.
Ela reflete um pouco.
- Está bem, mas quero a coleção de livro dela toda autografada!
Ela ama livros e sei que vai tirar a minha paz com isso.
- Quando irei conhecer a minha nora? - minha mãe pergunta, curiosa.
Acredito que ela quer espalhar aos quatro ventos que vou me casar.
- Em breve, mamãe. Pretendo fazer uma surpresa para minha amada logo, logo. Pois ela mora longe e mesmo à distância nosso amor sobreviveu.
Minha mãe fica animada porque já está imaginando um casamento nos próximos dias, tanto que começa a falar sobre os preparativos para o evento, mas mal sabe que isso é apenas nos sonhos dela.
O pior é vê-la se prontificando a avisar a todos que não sou mais um solteiro cobiçado.
Lá se vão minhas farras e noites de solteiro!
Agora preciso investigar mais sobre minha "namorada", conhecê-la, trazê-la para conhecer minha família e depois pensar em um plano para desfazer esse mal-entendido.
- Mamãe, embora esteja superanimado com todos os preparativos, ainda tenho algumas coisas para resolver não só com a minha namorada, mas também alguns problemas na empresa. Podemos conversar mais tarde?
- Está bem. Mas não vai fugir de mim, mocinho! - fala meio a contragosto.
Esse é o meu fim!
Olho para minha irmã, que sorri.
Já que ela me colocou, em partes, nessa encrenca, está na hora de retribuir o gesto.
- Maninha querida.
Ela revira os olhos.
- O que você quer? - pergunta rapidamente e começo a rir.
- Quero que venha fazer estágio na minha empresa. Se conseguir me ajudar em um projeto e se sair como espero, está contratada.
Ela arregala os olhos, não acreditando.
- É alguma piada?
Nego balançando a cabeça.
- Não, minha última paisagista me deixou na mão e preciso de alguém jovem e com ideias inovadoras, aceita? Se sim, vá até a mesa do Jacob e peça para ele te colocar a par de tudo. Caso não queira, será uma pena, não é a profissional competente que imaginei. - Sei onde cutucar para ter o que quero.
Ela simplesmente me olha de cima a baixo.
- Te vejo daqui a pouco. - Ela sai da sala e sorrio.
- O que está aprontando? - mamãe pergunta e faço uma expressão de ofensa.
- Eu? Mamãe, só estou pensando no futuro da minha querida irmã. - Levanto e beijo sua face.
- Eu te conheço muito bem, filho! Até mais tarde.
O pior é que ela conhece mesmo!
Sei que minha irmã é competente, então o que fiz foi unir o útil ao agradável.
Assim que mamãe sai da minha sala, chamo Charlly que logo entra e fecha a porta.
- Sim, chefe?
Confio nela mais que em qualquer outra mulher e sei que ela nutre uma paixão por Paul, mesmo que negue.
- Eu poderia contar mil mentiras, mas não daria certo. Então, vamos direto ao ponto. - Entrego meu celular a ela. - Aparentemente, essa é a minha namorada. Quero que descubra tudo sobre ela, faça um relatório completo sobre sua vida e me entregue até sexta. Além disso, preciso saber o melhor momento para conhecê-la e, de preferência, que tenha muitas pessoas ao redor.
- Espera... sua o quê? - ela pergunta confusa e começo a rir.
- Uma longa história... descobrirei tudo em breve. Agora, apenas faça o que pedi e nem preciso falar pra ser discreta, não é? Nada de contar a ninguém sobre esse meu pedido.
Ela concorda com um leve aceno.
- Irei contratar um detetive e, além disso, farei minha pesquisa, senhor Theo. Mas vai precisar me contar mais do que isso.
Indico a cadeira à minha frente pra que ela se sente.
- Resumidamente, estou namorando essa moça que nunca vi antes e sequer sabia da sua existência... agora ouça atentamente o que tenho em mente para essa recente descoberta e depois me diga se acredita que esse plano pode dar certo. - Começo a explicar o que sei, depois conto meu plano sobre o que pretendo fazer com a minha suposta namorada.
Será um longo mês pela frente e tenho que descobrir mais sobre essa mulher que é linda e conhecida, por isso não entendo a necessidade que ela teve ao mentir.
Mal pude raciocinar direito quando minha mãe veio me perguntar sobre a minha "namorada", por isso acabei confirmando. Mas agora, sair desse rolo que me meti está longe de ser fácil. Preciso aproveitar tudo isso para que minha mãe me deixe em paz quanto à minha vida pessoal, pelo menos pelos próximos dias.
- Espera, o senhor deseja que descubra um evento que ela vá realizar e que consiga ajeitar tudo para que esteja presente para depois desmenti-la em público? - Ela revira os olhos cruzando os braços.
- O que foi?
- Não gostei da sua ideia! Sou romântica, senhor!
Respiro fundo, pois sei que será um longo dia.
- E o que devo fazer? - Noto um belíssimo sorriso em seu rosto.
- Ser um perfeito cavalheiro, convidá-la para um jantar e desfazer o mal-entendido como um homem deve fazer, e não como um covarde.
Maldita hora que pedi conselhos a ela!
- Está bem, vamos esperar um mês. Dou esse tempo para juntar todas as informações sobre a minha suposta namorada, depois descubra algum evento que ela vá realizar e decido como agirei lá. Juro que serei um cavalheiro! - Estou cruzando os dedos, pois irei desmascarar a "minha namorada" em grande estilo.
- Irei imediatamente pesquisar sobre essa moça! - ela fala, animada. - O senhor tem uma reunião com os fornecedores às 15h e às 17h terá uma reunião com um novo cliente.
Concordo e anoto no tablet.
- Obrigado! Você é a melhor do mundo!
Ela fica toda sem graça e após pedir licença, se retira, enquanto tento assimilar minha recente descoberta.
Será um mês longo e muito interessante, por sinal.