"É, eu troquei de celular. Minha irmã, Hera, quebrou o outro," ele falou com uma cara engraçada. Ele fica sempre assim, com cara de palhaço, sempre que fala da irmã gêmea, sempre que estávamos juntos, ele pronunciava o nome Hera Medeiros milhares de vezes, sempre com um brilho nos olhos.
"E essa irmã encrenqueira, irei conhecer quando?" perguntei.
"Amanhã ela estará competindo em uma corrida de carros, você gostaria de ir?" Hermes perguntou, todo orgulhoso da irmã. Quase me engasguei com meu uísque.
"Sua irmã é piloto de corrida?" perguntei em choque.
"Ela é motoqueira, piloto, relações-públicas e advogada," ele falou, todo empolgado pela irmã.
"Caralho, agora estou sem palavras, e isso não acontece com frequência," falei, ainda assustado e empolgado, não vou negar. Não é sempre que encontramos mulheres assim.
"Tá, você vai ou não na corrida?" ele perguntou, já impaciente.
"Sim, eu vou," falei por fim.
Ficamos ali relembrando mais algumas coisas, e logo cada um saiu da boate com uma mulher nos braços. Assim finalizou minha noite, e agora aqui estou eu, com um café espresso duplo forte na mão, observando cada modelo cruzar a passarela com um olhar frio e avaliador. Cada detalhe, do caimento do vestido à expressão facial, era minuciosamente analisado pelos meus olhos verde-água, pois eu não podia deixar passar nada. Assim que o desfile da New York Fashion Week terminou no Spring Studios, deleguei o que precisava para cada um e saí, indo em direção ao meu carro. Tinha um almoço com meu amigo de infância Vinícius no Per Se.
Assim que cheguei ao restaurante, que se tornou meu favorito, estacionei e fui rumo às portas luxuosas. Entrei, e a recepcionista veio ao meu encontro.
"Senhor Carini, que prazer vê-lo novamente," ela falou com um sorriso exagerado.
"Vinícius Botelho. Tenho um almoço com ele hoje," falei seco. Eu estava sem paciência para conversinha.
"Claro, me siga, por favor," ela falou, me conduzindo até a mesa. Assim que Vini me viu, ele se levantou e me cumprimentou. Nos sentamos e fizemos nossos pedidos, começando a conversar sobre tudo, menos negócios. Eu e Vinícius tínhamos esse acordo: sempre que estávamos juntos, conversávamos sobre mulheres, jogos, mas nunca sobre negócios.
"Fala aí, viado, o que fez ontem à noite que não atendeu minhas ligações?" Nesse momento, nossos pedidos chegaram, e eu, movido pelo instinto, olhei pela janela. Vi uma mulher descendo de uma Ducati preta e dourada. Cabelos cor de mel até a cintura, rosto angelical e curvas... "Meu Deus, que curvas são essas," pensei. Vi ela arrumar a saia lápis assim que desceu da moto e retocar o batom, verificar no retrovisor da moto e começar a caminhar em direção às portas do restaurante. "Que mulher é essa?"
Voltei minha atenção a Vinícius, que percebera tudo e começou a rir da minha cara, já que ele e Hermes eram os únicos que me conheciam como ninguém. Passaram cerca de dois minutos, e senti a tal mulher passar por minha mesa e se sentar na mesa à minha frente com um senhor que eu conhecia bem. Assim que ela se sentou e levantou a cabeça, seus olhos encontraram os meus, e naquele momento, meu mundo parou. Era ridículo, eu, Heitor Carini, paralisado por uma mulher, mas ali estava eu, hipnotizado por aqueles olhos cor de avelã. Escutei Julius a chamar: "Hera, Senhorita Hera Medeiros."
O sobrenome ecoou na minha mente, e por um instante, uma lembrança de um calor diferente me invadiu – a do Brasil. Meu estágio na agência de modelos em São Paulo. Foi lá que conheci Hermes, o 'Sr. Estratégia' dos vinhos Medeiros. Ele mencionou uma irmã gêmea que havia lhe dado este apelido, uma 'dor de cabeça elegante', se bem me lembro. Mas nada, absolutamente nada, no que ele disse ou na minha imaginação, poderia ter me preparado para aquilo.
Julius sentou na cadeira à frente de Hera, tirando-a do meu campo de visão, e senti o ar voltar aos meus pulmões. Meu telefone tocou, era da agência. Pedi desculpas ao meu amigo e saí do restaurante para atender.
"Fala, Aurora," atendi e escutei minha secretária respirar fundo.
"Senhor, temos um problema. A senhorita Teresa não compareceu para a sessão de fotos de hoje. Estou tentando contato, mas ela não atende," ela falou, visivelmente nervosa.
"Pode deixar, Aurora, irei localizá-la," falei, desligando a ligação e tentando contato com Teresa. Liguei uma, duas e na terceira ela me atendeu.
"Oi, lindo, com saudades?" ela falou com uma voz manhosa.
"Teresa, vou falar somente uma vez, então escute com atenção. Quero você na agência em trinta minutos. Se eu ligar para a Aurora daqui a trinta minutos e você não estiver lá, pode dar adeus às passarelas," falei e desliguei o telefone logo em seguida. Mandei mensagem para Vinícius informando que tive um problema na agência e que teria que ir embora. Fui até meu carro e... "Caralho, deixei a chave em cima da mesa!"
Caminhei de volta até a entrada do restaurante e as portas luxuosas se abriram do nada, fazendo com que meu corpo se chocasse com a mulher mais linda que já vi. O cheiro de sândalo e jasmim que ela exalava me atingiu como um raio. Ela me olhou e, porra, a versão feminina do Hermes era perfeita. Lembrei que ele havia mencionado que ela era a 'cópia marrenta dele, só que com saia e acelerando mais que o diabo', mas eu nunca imaginei que essa 'cópia marrenta' seria capaz de fazer meu mundo travar. Ela é muito mais do que ele sequer poderia descrever.
"Lindos," balbuciei, me referindo àqueles olhos avelã maravilhosos. Mas, naquele momento, a porta se abriu novamente e a recepcionista saiu com minhas chaves na mão.
"Senhor Carini, suas chaves."
Nesse momento, Hera se soltou dos meus braços e saiu caminhando rumo à moto. Senti a recepcionista, que sequer tive o interesse em saber o nome, tocar em meu braço, o que me fez sentir repulsa.
"Poderia retirar suas mãos de mim?" falei seco, encarando-a sério.
"Me desculpa, só queria lhe entregar as chaves," ela falou, tentando forçar um sorriso.
"Agradeço, mas espero que, a partir deste momento, não tente proximidade." Vi os olhos dela encherem-se de água, mas pouco me importava. A partir daquele momento, a única mulher que poderia me tocar seria Hera Medeiros, e seria logo. Assim que peguei minhas chaves, entrei no carro e saí rumo à New Face, pois tinha um problema chamado Teresa Xavier para resolver. Durante o percurso, liguei para Hermes para confirmar o horário da competição de Hera hoje.
Ligação On
"Oi, Heitor, o que devo a honra da sua ligação?" falou meu futuro cunhado, tirando uma com a minha cara.
"E aí, meu futuro cunhado," falei para tirá-lo do sério, mas em breve isso seria com toda a certeza verdade.
"Nos seus sonhos," ele falou rindo.
"Onde vai ser a competição da sua irmã?" perguntei, tentando conter o entusiasmo.
"Vai ser no Monticello Motor Club, às 20:00. Ela tem uma área privativa lá," ele informou. Não esperava menos da princesinha dos vinhos.
"Está bem, nos encontramos lá então," me despedi de Hermes e fui resolver tudo na agência, pois hoje eu veria a futura mãe dos meus filhos.
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