Te darei uma segunda chance para me apresentar ao seu amigo direito, e se falhar, eu passo por cima de você com a minha Ducati - falo, olhando para ele com um sorriso gentil e um rosto calmo, pois não quero assustar esse deus grego que está parado aqui me encarando.
Mas você acabou de confirmar tudo o que eu acabei de falar! - a esse atrevido, começo a ir em sua direção, mas ele corre e se esconde atrás de Heitor, usando-o como escudo.
Está bem, está bem. Heitor, essa aqui é a minha adorável e dócil, como pode ter visto, irmã gêmea, Hera - fala Hermes rindo da minha cara.
É adorável mesmo. Muito prazer, Hera - neste momento, sinto um calor que nunca havia sentido antes. Algo se acende dentro de mim assim que escuto sua voz. No entanto, tento agir com naturalidade e estendo a mão para Heitor, que em momento algum tirou os olhos dos meus.
O prazer é todo meu - fala, por fim. Neste momento, escuto batidas na porta e Elias Torres, meu engenheiro de corrida, entra e cumprimenta a todos.
Olá a todos, Hera, precisamos de você agora - fala Elias com a calma que só ele transmite. Solto a mão de Heitor, que só neste momento percebo que ainda a segurava.
Ok, Sr. Equilíbrio, em 2 minutos estarei lá - falo e vejo Heitor travar o maxilar, o que pode ser coisa da minha cabeça. Elias confirma e sai da sala.
Bom, me desejem sorte, e se eu ganhar, o que acham de sairmos para comemorar? - pergunto, com os três me olhando como se eu fosse um pote de estrelas.
Claro! - Hermes e Samira respondem juntos.
E você, Heitor, não gostaria de ir? - pergunto, o olhando fixamente. Não sei por quê, mas sinto ele relaxar novamente.
É claro, se não for um problema - fala ele, abrindo um sorriso, um sorriso que me fez por um minuto querer me jogar em cima dele, mas me contive, é claro.
Não há problema algum. Bom, agora irei lá verificar tudo com Elias - falo, me despedindo deles e indo em direção ao pit wall.
Chego à área de comando da equipe e Elias me passa tudo com maestria. Enquanto conversamos, vamos até meu carro, onde me entregam meu capacete, que Elias me ajuda a colocar. Ele segura minha mão, olha nos meus olhos e fala:
Vamos vencer, ok? - fala ele com firmeza, e eu assinto, entrando no carro. Olho dentro do box e Hermes e Heitor estão com uma cara de preocupação. Aciono o rádio de Elias.
Elias, consegue ir até meu irmão? Preciso falar com ele - Elias faz o que pedi e passa o rádio para Hermes.
Hera, o que foi? Está tudo bem? - fala ele com uma cara de poucos amigos, olhando em direção ao meu carro.
Está tudo perfeito. Você e o Heitor poderiam mudar essa cara? Eu ainda não perdi - falo, e os dois dão um sorriso.
Hera, estamos aqui por você, então tome cuidado - assim que ele termina de falar, eu coloco minha mão para o lado de fora e faço o sinal de metade de um coração para Hermes, que retribui. Elias pega o rádio de volta e volta para onde está toda a equipe.
Pronta? - pergunta Elias.
Mais que pronta - falo, saindo do box e indo para a minha posição que é, é claro, o primeiro lugar. São três voltas e vence quem fizer em menor tempo. Chego à linha de partida e vejo os carros se alinhando atrás de mim. O sinal fica vermelho, laranja e finalmente verde. Piso com tudo no acelerador, fazendo o pneu cantar com gosto. Escuto a voz de Elias no rádio:
Poderia não comer os pneus logo de início? - ele começa a rir.
Foi mal, me empolguei - falo, o fazendo suspirar. Faço a primeira volta e a segunda com facilidade, porém na terceira volta perco a comunicação com Elias, e ali tive que improvisar, pois começou a chover e eu estava sem meus pneus de chuva. Acelerei, pois sabia que os demais iriam reduzir, e faltando um quilômetro o rádio voltou.
Você está ficando louca, você está com pneus normais! Nesta velocidade vai acabar perdendo o controle! - Elias fala com aquele tom apavorado que pouquíssimas vezes tive o prazer de ver.
E foi aí que a adrenalina, o alívio e a loucura momentânea se uniram.
Elias, me perdoa, mas tive que tomar uma decisão arriscada para manter minha posição - falo em um filete de voz.
Hera, você vai me deixar maluco! - ele aumenta a voz.
Eu sei, mas você não viveria sem mim, que eu sei - falo, tentando descontrair o momento.
Concordo, o salário é maravilhoso. Faltam 500 metros, te vejo na linha de chegada - fala ele, desligando o rádio.
E assim foi. Lá estavam Elias, Hermes, Heitor e Samira me esperando, cada um com um buquê na mão e champanhe. Olhei para cada um, e suas expressões de orgulho me fizeram derramar uma lágrima de felicidade. Cruzo a linha de chegada e dou a volta para entrar no box. Paro o carro, tiro o volante e desço. Eles vêm ao meu encontro, me entregando as flores, abrem o champanhe e começam a jogar em mim. Começo a gritar e a ameaçar cada um, porém sem sucesso. Assim que a sessão grátis de banho termina, Hermes vem me abraçar.
Parabéns, minha princesa, você foi incrível - fala ele, todo orgulhoso.
Obrigada, irmão - falo, o apertando. Sinto alguém nos abraçar, olho por cima dos braços de Hermes e é Samira.
Você é demais, amiga - fala ela.
Ahh, eu sou mesmo - falo, rindo.
Eles me soltam, e é a vez de Elias falar.
Parabéns, senhorita, você é demais mesmo, porém nunca mais se coloque nesta posição de risco novamente - fala ele.
Não prometo nada - falo, rindo da cara que ele faz.
Neste momento, sinto uma mão em meu ombro e meu corpo reage ao toque de imediato.
Parabéns, Hera. Seu irmão me falou que você era incrível, mas nem de longe imaginaria que seria tanto - fala Heitor, me abraçando.
Ahh, obrigada. Vou ter que concordar plenamente com você, eu sou incrível - falo.
Ele se afasta do abraço, me encara, me fazendo perder um pouco o rumo.
E como é... mais e aí, em que restaurante iremos? - fala Hermes, quebrando nossa conexão.
Eu estava pensando no The Boom Boom Room, o que acham? - fala Heitor.
Eu adorei a ideia - fala Samira, se apoiando em Heitor, o que me incomoda um pouco, mas não sei dizer exatamente o porquê.
Eu também - eu e Hermes falamos em uníssono.
Está bem. Vou tomar um banho e trocar de roupa. Com licença - falo e saio. Dou uma olhada para trás e vejo Heitor falar algo no ouvido de Samira. Ela, como um raio, se afasta dele e fica sem graça. Neste momento, não percebo a escada à minha frente, o que me faz bater a canela no primeiro degrau e cair.
Que m*rda - falo, sentando no degrau e massageando o local.
Você está bem? - pergunta Heitor, me ajudando a levantar.
Estou, foi só uma batidinha de nada - falo, tentando me apoiar na perna, o que não dá muito certo, pois me desequilibro e pouso em seus braços novamente.
Ok, estou vendo. Quer ajuda para subir as escadas? - pergunta ele, rindo.
Poderia chamar Samira para mim? - pergunto.
Ela já foi. Falou que ia passar em casa para colocar outra roupa, e seu irmão está com Elias - fala ele, meio que não me dando escolha.
Ok, vamos lá então - falo, me apoiando melhor nele. Porém, nesse momento, ele me pega no colo e começa a marchar rumo ao meu camarim. Fico tão surpresa que não consigo pronunciar uma palavra.
Chegamos ao meu camarim. Ele para em frente à porta, me coloca no chão com delicadeza e me olha como se fosse me devorar. Minha respiração começa a ficar descompensada. Tento me apoiar na minha perna novamente, mas me desequilibro mais uma vez e sou amparada por seus braços. Porém, dessa vez, sinto sua respiração se encontrando com a minha. Olho em seus olhos e os vejo dilatarem, e nesse momento, ele me beija. Não um beijo tranquilo, mas sim um beijo faminto, suplicante, como se ele estivesse necessitando muito daquilo. Meu corpo começou a se aquecer, um calor que nunca havia sentido na vida. Sinto-o diminuir o ritmo e, por fim, separar nossos lábios. Ele encosta sua testa na minha e fica assim por uns segundos, depois olha em meus olhos.
Linda - fala ele, me encarando. Por fim, ele me ajuda a entrar no camarim, me coloca sentada no sofá e vai até o frigobar. Pega uma lata de refrigerante e volta.
Coloca onde está doendo. Acredito que vai ajudar - fala ele, me encarando novamente. Pego a lata e faço o que ele falou, e agradeço logo em seguida.
Obrigada - falo, o encarando também.
Se continuar a me olhar assim, não vamos sair deste autódromo hoje - fala ele.
Então para de me encarar também - falo, fazendo bico. Sempre faço isso quando estou nervosa. Neste momento, ele se apoia no braço do sofá e me dá um selinho.
Fazer bico é sacanagem, sabia? Golpe baixo. Vou atrás do seu irmão e, por favor, não comenta nada do que aconteceu aqui com ele.
Por quê? - pergunto, o encarando.
Porque não quero morrer. Agora se arruma, que logo estamos de volta - fala, ajeitando a roupa e saindo do meu camarim.
Fico ali uns 5 minutos pensando em tudo, desde quando nos vimos pela primeira vez até o momento em que ele saiu pela porta do meu camarim. E cheguei à grande conclusão:
Quero esse homem para mim.