Tiffany, ainda no banco de trás, escolheu aquele momento para se intrometer. "Não foi culpa dele, Sr. Almeida. Tinha um cara falando coisas horríveis da Camila."
"Queria que a Camila fosse minha mãe", ela suspirou dramaticamente. "Ela teria estado lá. Ela sempre sabe o que fazer." A implicação pairava no ar, densa e venenosa: Ao contrário de você.
Todos os olhos estavam em mim. Os de Ricardo, cheios de fúria. Os de Caio, com vergonha e ressentimento. Os de Camila, com pena triunfante. Os de Tiffany, com desprezo presunçoso. Eu era a ré em um julgamento onde o veredito já havia sido decidido.
A mão invisível em volta do meu coração apertou mais forte, mas nenhuma lágrima veio. Não havia mais nada para chorar.
Ricardo encerrou a ligação e marchou até o carro. "Saia, Helena. Entre." Ele não olhou para mim; ele olhou através de mim, como se eu fosse um móvel. "Camila e eu vamos resolver isso."
Ele estava me dispensando. Da minha própria família. Da vida do meu próprio filho.
Mas eu não me movi. Em vez disso, peguei em minha bolsa um maço de papéis. Estendi-os para ele.
Era o acordo de divórcio. Minha assinatura já estava no final, um traço de tinta nítido e limpo.
Ricardo olhou para os papéis, depois para o meu rosto, um lampejo de choque genuíno finalmente quebrando sua fachada arrogante. "O que é isso?"
"Eu assinei", eu disse, minha voz estranhamente calma.
Ele se lembrou da conversa de duas semanas atrás. Eu podia ver em seus olhos. Ele a havia descartado então, assim como me descartou por anos. Ele realmente acreditava que eu era incapaz de agir. Por dezessete anos, eu fui a esposa perfeita e complacente. Eu cedi em todas as frentes, da minha carreira às minhas amizades, até a forma como decorei nossa casa. Eu me fiz pequena para que ele se sentisse grande.
"Eu fico com a casa", eu disse, minha voz firme. "E eu fico com a guarda total do Caio."
Seu rosto, já pálido, ficou cinzento. Uma veia pulsava em sua têmpora. "Você..."
Antes que ele pudesse terminar, um suspiro dramático veio de trás dele. Camila correu para o seu lado, seus olhos arregalados de horror fingido.
"Ah, Ricardo", ela sussurrou, a mão voando para o peito. "Isso é por minha causa? Ah, Helena, eu sinto muito, muito mesmo."
Ricardo imediatamente voltou sua atenção para ela, seu braço envolvendo-a protetoramente. "Não é sua culpa, meu bem. Ela só está tendo um ataque de histeria."
Ele olhou de volta para mim, seu lábio se curvando. "Ela tem esses episódios às vezes."
Camila se aninhou nele, sua voz trêmula. "Temos que tirar o Caio dessa confusão. A escola dele, a reputação dele..."
Eu era uma personagem secundária no drama da minha própria vida. Um "episódio histérico" a ser gerenciado.
Ricardo suspirou, um som de sofrimento destinado a mostrar a Camila o quão sobrecarregado ele estava. "Tudo bem", disse ele, acenando com a mão de forma desdenhosa para mim. "Conversamos sobre isso mais tarde. Entre."
Ele estava fazendo uma concessão, não para mim, mas para apaziguar Camila, para mostrar a ela que ele conseguia controlar sua esposa louca para que pudessem se concentrar no problema real: Caio.
"Helena, por favor", disse Camila, seus olhos suplicantes. "Pense no Caio. Não faça isso com ele. Não faça isso conosco."
O "conosco" foi uma facada deliberada.
Uma onda de náusea me atingiu. Eu queria perguntar a ela: E o que você fez conosco? Comigo? Mas não o fiz. A pergunta seria inútil. Eles viviam em uma realidade diferente, uma onde seus desejos eram as únicas coisas que importavam.
Lembrei-me do rosto de Caio na delegacia. A vergonha. O nojo. Ele não me queria. Ele havia feito sua escolha.
Respirei fundo e trêmulo, minhas mãos se fechando em punhos ao lado do corpo.
"Eu não vou entrar", eu disse, minha voz baixa, mas inabalável. "Eu estou indo embora. Com ou sem a casa. Mas você não vai conseguir a guarda do Caio."
Ricardo me encarou, um sorriso lento e frio se espalhando por seu rosto. Ele achava que eu estava blefando. "Você tem certeza disso, Helena?"