Então ela se virou de volta para mim, seu rosto uma máscara trágica. "Por favor, não o deixe. Eu vou embora. Eu desapareço. Eu faço qualquer coisa, só não desfaça essa família!"
Foi uma performance magistral, digna de um Oscar.
"Camila, pare com isso", disse Ricardo, tentando puxá-la para seus braços, mas ela o afastou teatralmente.
Então, ela fez algo tão audacioso, tão descaradamente manipulador, que quase me tirou o fôlego.
Ela se ajoelhou no asfalto frio e úmido da entrada, bem aos meus pés.
"Por favor, Helena", ela implorou, sua voz embargada de emoção falsa. "Me bata. Me dê um tapa. Faça o que precisar para se sentir melhor. Eu mereço. Só não tire o Caio do pai dele."
Ela estendeu a mão, agarrando a barra da minha calça, seu aperto surpreendentemente forte.
"Ele precisa do pai dele, Helena. Um menino precisa do pai."
Eu estava paralisada, presa em seu quadro absurdo e humilhante. Sua cabeça estava baixa, seus ombros tremendo, mas quando ela olhou para mim, com o rosto escondido de Ricardo e Caio, sua expressão mudou. As lágrimas desapareceram. Seus olhos estavam frios, duros e cheios de um ódio triunfante.
Seus lábios formaram uma palavra silenciosa. *Vá embora*.
Minha paciência se esgotou. Os anos de resistência silenciosa, de orgulho engolido, de dentes cerrados, tudo evaporou em um único e ardente flash de raiva.
"Me solta", eu disse, minha voz um rosnado baixo. Tentei puxar minha perna, me libertar de seu aperto.
Ela se agarrou a mim e, então, com um grito agudo, ela me soltou, tropeçando para trás e caindo com força no chão. "Ai!"
Eu nem sequer a tinha tocado.
Uma dor aguda e ardente explodiu na minha bochecha. Ricardo tinha me dado um tapa. Forte.
A força do golpe fez minha cabeça virar para o lado. Pontos vermelhos e pretos dançaram na minha visão. Através do zumbido nos meus ouvidos, ouvi a voz do meu filho.
"Pai!"
Mas não foi um grito de protesto. Foi um grito de alarme por Camila.
Quando minha visão clareou, a primeira coisa que vi foram Ricardo e Caio, seus rostos contorcidos com expressões idênticas de ódio e nojo. Não pelo que Ricardo tinha feito comigo, mas pelo que eles pensavam que eu tinha feito com Camila.
Uma risada escapou dos meus lábios. Um som quebrado e oco. Era tudo tão patético. Tão previsível. A lealdade deles, o amor deles, era tudo para ela.
Caio já estava ao lado de Camila, ajoelhado ao lado dela, seu rosto uma máscara de preocupação frenética. "Camila, você está bem? Ela te machucou?"
Ele pegou o braço dela gentilmente, seus dedos sondando seu pulso. "Dói aqui? Eu sei como verificar se há uma torção. A mãe me ensinou."
A ironia foi um golpe físico. O conhecimento que eu lhe dei, o cuidado que lhe ensinei, agora estava sendo usado para cuidar da minha rival, a mulher que ajudou a destruir minha vida.
"Eu vou te proteger, Camila", prometeu Caio, sua voz embargada de emoção enquanto a ajudava a se levantar. "Não vou deixar ela te machucar de novo."
Pensei no dia em que Caio nasceu. Dois meses prematuro, uma coisinha pequena e frágil pesando menos de um quilo e meio. Os médicos lhe deram 50% de chance. A família de Ricardo, os Almeida, com sua visão fria e pragmática do mundo, me disseram para "ser realista".
Mas eu me recusei. Fiquei ao lado de sua incubadora por semanas, lendo para ele, cantando para ele, desejando que ele vivesse. Prometi ao universo, a Deus, a quem quer que estivesse ouvindo, que se ele sobrevivesse, eu dedicaria minha vida a ele. Eu abriria mão de qualquer coisa.
E eu o fiz. Abri mão da minha carreira como uma analista brilhante em uma empresa de ponta. Abri mão dos meus amigos, dos meus hobbies, do meu próprio eu. Suportei o desprezo crescente de Ricardo, seus casos, sua crueldade, tudo pelo bem do menino que eu lutei tanto para trazer a este mundo.
E agora, aquele menino estava me olhando como se eu fosse um monstro.
"Você é uma vadia cruel, Helena", ele cuspiu, seus olhos queimando com um ódio que queimou minha alma.
"Você não é minha mãe", ele declarou, sua voz ressoando com a finalidade de uma sentença de morte.
"E você não é a esposa dele", ele acrescentou, gesticulando para o pai.
Lembrei-me de uma época, não muito tempo atrás, em que ele corria para mim, seus bracinhos em volta do meu pescoço, sussurrando: "Você é a melhor mamãe do mundo inteiro." Lembrei-me dele enfrentando um valentão no jardim de infância que zombou dos meus tênis gastos, gritando: "Não fale da minha mãe assim!"
Aquele menino se foi.