Lágrimas que eu não sabia que ainda tinha para chorar começaram a cair, quentes e silenciosas, em minhas mãos. Eu me encolhi, um soluço preso na garganta. "Seu monstro", sussurrei para o quarto de hotel vazio. "Ele era seu amigo, Heitor. Ele era seu cunhado."
O telefone vibrou novamente. "O sistema legal é um labirinto, meu amor. E eu projetei o labirinto em que seu irmão está preso. Você pode vagar no escuro, tentando encontrar outro guia, ou pode voltar para o homem que tem o mapa. A escolha é sua."
Apertei o telefone com tanta força que me surpreendi por a tela não ter rachado. Ele estava certo. Após a condenação de grande repercussão que ele tão magistralmente assegurou, nenhum advogado de renome tocaria no caso de Daniel. Era suicídio profissional ir contra Heitor Bastos. Eu estava encurralada. Ele me tinha, e ele sabia disso.
Uma onda de impotência total me invadiu, tão profunda que me deixou tonta. "O que você quer de mim?", digitei, meus polegares desajeitados.
"Eu quero que você volte para casa."
Soltei uma risada amarga e sem humor. Casa. A palavra era uma zombaria. "Não vou cair nessa de novo, Heitor. Você prometeu antes."
"Então encontre outro advogado", ele zombou. "Vá em frente. Faça algumas ligações. Veja quantos deles desligam na sua cara quando ouvem meu nome."
Eu não precisava. Eu sabia que ele estava certo. Ele havia construído minha prisão com um cuidado meticuloso.
Um som baixo e gutural escapou dos meus lábios, um som de pura dor animal. "Você está tentando me enlouquecer?", digitei, as lágrimas embaçando a tela.
"Não seja tão dramática, Laura", veio a resposta dele. "Estou simplesmente te lembrando que implorar para mim é muito mais eficaz do que implorar para qualquer outra pessoa. A propósito, eu sei onde você está. Hotel Emiliano, quarto 1408. Um pouco previsível, não acha?"
Meu sangue congelou. Ele sabia. Claro que ele sabia. Ele tinha olhos e ouvidos em todos os lugares. Minha patética tentativa de me esconder era um jogo de criança para ele.
A luta se esvaiu de mim, substituída por uma resignação oca e dolorosa. Por Daniel. Eu tinha que fazer isso por Daniel.
Respirei fundo, meu orgulho se transformando em pó na minha boca. "Por favor, Heitor", digitei, as palavras com gosto de veneno. "Por favor, ajude-o."
Houve uma longa pausa. Eu quase podia sentir sua satisfação irradiando pelo telefone.
"Esteja pronta às sete", ele finalmente respondeu. "Meu motorista vai te buscar para a festa da minha mãe. E Laura? Tente parecer menos uma tragédia. É uma festa, não um funeral."
Eu não respondi. Apenas deixei o telefone cair na cama e encarei meu reflexo na tela escura da televisão. A mulher que me olhava de volta era uma estranha, seus olhos arregalados e assombrados, seu rosto pálido e abatido. Joguei água fria no rosto e comecei a tarefa sombria de aplicar maquiagem, sobrepondo base e corretivo sobre a evidência de minhas lágrimas, criando uma máscara de normalidade.
Uma última vez, eu disse a mim mesma. Vou confiar nele uma última vez. Por Daniel.
Às sete horas em ponto, um carro preto estava me esperando. Não era Heitor. Lembrei-me de um tempo em que ele nunca deixaria ninguém mais me dirigir, insistindo em me buscar ele mesmo, sua mão sempre encontrando a minha no console central. Outra memória a ser enterrada.
A festa estava a todo vapor quando cheguei. O salão de festas do Palácio Tangará era um mar de joias brilhantes e sorrisos falsos. E no centro de tudo estava Heitor. Ele estava com o braço possessivamente em volta da cintura de Beatriz, um sorriso orgulhoso no rosto enquanto a ouvia falar com um círculo de seus admiradores. Ela usava um deslumbrante vestido vermelho, a mão dela repousando no peito dele em um gesto de intimidade casual. Ela parecia a dona da casa.
"Sua nova secretária é uma maravilha, Heitor", um de seus sócios estava dizendo. "Ela organizou este evento inteiro impecavelmente."
"Beatriz sempre foi excepcional", disse Heitor, sua voz cheia de orgulho. Ele apertou a cintura dela, e ela se envaideceu sob seu toque.
Alguém riu. "Cuidado, Heitor. As pessoas podem começar a pensar que há mais do que apenas uma relação profissional aí."
Heitor não negou. Ele apenas sorriu, uma confirmação silenciosa que me enviou uma nova onda de náusea.
Então ele me viu. Seu sorriso vacilou por uma fração de segundo antes de ele se recompor, se afastando de Beatriz e caminhando em minha direção.
"Laura, querida", ele disse, sua voz uma performance suave de preocupação marital. "Você parece pálida. Está se sentindo bem?"
"Estou bem", eu disse, minha voz neutra. "Parece que você estava... ocupado."
Ele pegou minha mão, seus dedos frios contra minha pele. "Não seja assim." Ele tentou entrelaçar seus dedos com os meus, mas eu instintivamente me afastei.
Seu aperto se intensificou, seus dedos cravando em meu pulso. Ele se inclinou, sua voz um sussurro baixo e ameaçador em meu ouvido. "Nós tínhamos um acordo, Laura. Não faça uma cena."
Eu pretendia interpretar o papel. Eu havia ensaiado na minha cabeça cem vezes no carro. Sorrir, acenar, fingir. Mas vê-la, vê-los juntos, tão confortáveis, tão públicos... a barragem cuidadosamente construída dentro de mim começou a rachar.
O ar no salão de festas de repente pareceu denso demais para respirar. Eu podia sentir o pânico familiar subindo, as paredes se fechando.
"Preciso de um pouco de ar", murmurei, puxando meu pulso de seu aperto e virando nos calcanhares, desesperada para escapar da performance sufocante.
Não fui muito longe antes de ouvir os amigos dele falando, suas vozes altas o suficiente para serem ouvidas.
"Qual é o problema dela? Heitor é um santo por aturá-la."
"Sinceramente, depois do escândalo da família dela, ela deveria ser grata por ele não a ter largado. Em vez disso, está sempre causando problemas."
As palavras foram como tapas no rosto. Tropecei para fora do salão e para o corredor deserto, encostando-me na parede enquanto meu estômago se revirava. O pânico era uma entidade física agora, arranhando seu caminho pela minha garganta.
Eu só precisava do meu remédio. Apenas um comprimido para acalmar os gritos na minha cabeça.