Ele a amava, não sua esposa
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Capítulo 3

Ponto de Vista de Ana Luísa:

Bela empurrou a pasta de volta para o meu peito, um sorriso triunfante e desdenhoso no rosto. "Pronto. Está feito. Agora saia de nossas vidas e nunca mais incomode o Damião."

Ela pensou que estava assinando algum documento para me pagar, para finalizar minha humilhação. A ironia era tão espessa que eu poderia engasgar. O acordo de divórcio que eu acabara de receber era exatamente o que eu queria. Ela acabara de me entregar minha liberdade em uma bandeja de prata.

Eu queria rir. Eu queria dizer a ela que era uma tola. "Você não tem ideia do que acabou de fazer", comecei a dizer, mas as palavras foram abafadas por um som ensurdecedor.

Um alarme. Um lamento agudo e penetrante que cortou a conversa educada do salão de baile.

O pânico explodiu. As pessoas gritaram. A multidão bem-vestida se transformou em uma manada em debandada. Alguém me empurrou com força por trás, e eu tropecei, a preciosa pasta voando das minhas mãos.

A força da multidão era como um maremoto. Fui derrubada, caindo com força no chão de mármore. Bela caiu ao meu lado, seu vestido de grife rasgando.

Uma dor aguda e lancinante subiu pela minha perna quando o salto agulha de alguém fincou na minha canela. Eu gritei, mas minha voz se perdeu no caos. As pessoas estavam me pisoteando, seus sapatos chutando minhas costelas, meus braços, minha cabeça. A dor era excruciante.

"DAMIÃO!", Bela gritou, sua voz estridente de terror. "DAMIÃO, ME AJUDE!"

Através da floresta de pernas em pânico, ouvi sua voz, afiada e imponente, cortando o barulho. "BELA! Onde você está?"

Ele estava voltando.

Uma pequena e estúpida centelha de esperança se acendeu em meu peito. Ele está voltando por nós.

Eu o vi então, uma força da natureza abrindo o mar de pessoas aterrorizadas. Seus olhos estavam selvagens, vasculhando o chão, procurando. Por uma fração de segundo, meus olhos encontraram os dele. Ele me viu. Eu sei que ele viu.

Mas seu olhar passou direto por mim, como se eu não estivesse lá.

Ele localizou Bela em um instante. Com um rugido gutural, ele se lançou para frente, empurrando as pessoas para o lado. Ele a pegou nos braços, embalando-a como se fosse feita de vidro.

Ele a segurou firme contra o peito e se virou para lutar contra a multidão, deixando-me no chão para ser pisoteada.

Ele nem sequer olhou para mim. Nenhuma vez.

"Damião", sussurrei, minha voz um coaxar quebrado. A palavra foi engolida pelos gritos aterrorizados ao meu redor. O calcanhar de uma bota me atingiu na têmpora, e o mundo começou a embaçar.

Justo quando minha visão começou a desaparecer, eu o vi parar. Ele quase alcançara a saída, Bela segura em seus braços. Ele estava se virando.

Ele está voltando por mim. O pensamento era uma oração desesperada, de quem se afoga.

Ele abriu caminho de volta pelo caos, seu rosto uma máscara de determinação sombria. Ele estava se aproximando. Meu coração, aquela coisa estúpida e teimosa, martelava contra minhas costelas.

Ele alcançou o local onde havíamos caído. Ele se abaixou.

Minha mão se contraiu, pronta para alcançar a dele.

Mas ele não estava olhando para mim. Seus olhos estavam fixos no chão. Ele pegou algo.

Era um único brinco de diamante que devia ter caído da orelha de Bela.

Ele o agarrou em seu punho, virou-se e, sem um único olhar para trás, desapareceu na multidão, deixando-me sangrando no chão.

Da relativa segurança da saída, pude ouvir a voz de Bela, abafada, mas ainda clara. "Meu brinco! Damião, você o encontrou?"

Sua voz era um murmúrio baixo e calmante. "Eu o encontrei, meu bem. Eu o tenho. Eu sempre encontrarei o que é seu."

Seu grito feliz foi a última coisa que ouvi antes que o mundo ficasse preto.

Eu era menos importante que uma joia.

A dor dessa constatação foi pior do que qualquer ferimento físico. Foi uma ferida profunda na alma, um golpe final e fatal para o que restava do meu amor por ele.

Acordei em um hospital novamente. A mesma suíte particular. O mesmo cheiro estéril.

Um médico me informou que eu tinha uma concussão, três costelas quebradas e uma fíbula fraturada. Meu corpo era um mapa de hematomas.

"Você tem sorte", disse ele. "Você precisará de cirurgia na perna, mas terá uma recuperação completa."

Enquanto me preparavam para a sala de cirurgia, as portas da minha suíte se abriram com violência.

Dois dos guarda-costas de Damião, os mesmos que estavam sempre com ele, invadiram. Eram homens enormes e impassíveis que pareciam esculpidos em granito.

"O que significa isso?", exigiu o cirurgião, parando na frente deles. "Esta é uma área estéril!"

Eles o ignoraram. Um deles agarrou meu braço, seu aperto como um torno de aço.

"Solte-a!", gritou uma enfermeira.

Com um único movimento brutal, eles me arrastaram da maca. A dor na minha perna era tão intensa, tão ofuscante, que eu gritei. Parecia que meu osso estava rasgando minha pele.

Eles me arrastaram pelos corredores do hospital como um saco de lixo, meus pés descalços arrastando no linóleo frio. Minha fina camisola de hospital não oferecia proteção, nem dignidade.

Eles me jogaram no chão de outro quarto. Um muito mais luxuoso.

Minha visão turvou, mas consegui distinguir a cena diante de mim. E era uma cena que ficaria gravada em minha memória para sempre.

            
            

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