Ele a amava, não sua esposa
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Capítulo 4

Ponto de Vista de Ana Luísa:

Damião estava sentado ao lado de uma cama de hospital, descascando cuidadosamente uma uva. Na cama, apoiada por uma montanha de travesseiros fofos, estava Bela. Ela tinha um pequeno curativo decorativo na testa e assistia a um filme em uma tela grande. Ela estava bem. Alguns arranhões, talvez um hematoma. Nada como meus ossos quebrados e lesões internas.

Damião nem olhou para mim enquanto eu jazia sangrando e quebrada no chão. Seu foco estava inteiramente nela.

"A uva está doce o suficiente, meu bem?", ele perguntou, sua voz pingando preocupação.

Bela franziu o nariz. "Está boa. Mas estou com vontade de outra coisa. Quero aquela sopa especial de ninho de andorinha do Pavilhão de Jade. Aquela que leva seis horas para fazer."

Damião olhou para cima, seus olhos finalmente pousando em mim. Não havia preocupação, nem pena. Apenas comando frio e duro.

"Você a ouviu", disse ele, sua voz monótona. "Vá fazer."

Eu o encarei, minha mente lutando para processar a pura crueldade. Ele mandou seus homens me arrastarem de uma mesa de cirurgia, uma mulher com costelas quebradas e uma perna fraturada, para fazer um lanche para sua amante.

A injustiça de tudo aquilo - o acidente de carro, ser deixada para morrer no leilão, e agora isso - tudo se fundiu em um único e explosivo ponto de fúria.

A represa da minha compostura, construída ao longo de cinco longos anos de sofrimento silencioso, finalmente se rompeu.

"NÃO!", a palavra foi um grito cru e gutural arrancado das profundezas da minha alma. "Eu não vou!"

Eu me levantei, ignorando a dor lancinante que percorria meu corpo. Lágrimas de agonia e fúria escorriam pelo meu rosto.

"Damião, você está louco?", solucei, minha voz tremendo. "Eu sou sua esposa! Sua esposa legal! Tenho costelas quebradas, minha perna está fraturada! Eu estava prestes a entrar em cirurgia! E você me arrasta aqui para cozinhar para ela?"

Apontei um dedo trêmulo para Bela. "Olhe para ela! Ela tem um arranhão! E você a trata como uma rainha enquanto me trata como... como lixo! Como você pode ser tão cruel?"

Eu era um desastre. Meu cabelo estava emaranhado com sangue seco, minha camisola de hospital estava rasgada e minha dignidade estava em frangalhos. Mas eu não me importava. Eu não tinha mais nada a perder.

Damião assistiu ao meu colapso com a curiosidade distante de um cientista observando um inseto.

Bela, no entanto, parecia irritada. Ela cobriu os ouvidos. "Damião, ela é tão barulhenta. Está me dando dor de cabeça."

Instantaneamente, a atenção de Damião voltou para ela. Ele acariciou seu cabelo, sua expressão suavizando. "Eu sei, meu bem. Sinto muito. Vou fazê-la ficar quieta."

Ele se virou para mim, seus olhos agora glaciais. "Você está se recusando a cumprir minha ordem?"

A ameaça não foi dita, mas pairava pesada no ar. A memória do acidente de carro, do aviso frio de seu advogado, enviou um arrepio de puro terror pela minha espinha.

Olhei para seu rosto bonito e impiedoso, e meu coração, que eu pensei já ter virado pó, de alguma forma conseguiu se quebrar novamente. A luta se esvaiu de mim, substituída por um desespero frio e vazio.

"Damião", seu assistente sussurrou da porta, parecendo pálido. "O conselho está exigindo uma explicação para a chamada da fusão cancelada. Eles estão ameaçando..."

"Diga a eles para esperarem", disse Damião, seus olhos ainda fixos em mim. Ele então deu uma ordem que fez meu sangue gelar.

"Ela está sendo desobediente. Levem-na para a câmara fria no porão. Deixem-na esfriar até que se lembre do seu lugar."

Os guarda-costas se moveram em minha direção.

"Não", sussurrei, balançando a cabeça em descrença. "Damião, por favor..."

Eles agarraram meus braços e começaram a me arrastar para fora do quarto. A dor era insuportável, mas a finalidade fria nos olhos de Damião era pior. Ele era capaz de qualquer coisa.

Eles me empurraram para dentro de um grande freezer. A porta bateu, mergulhando-me na escuridão gelada. O frio foi imediato e brutal. Ele se infiltrou pela minha fina camisola, mordendo minha pele. Meus dentes batiam incontrolavelmente. A dor na minha perna se intensificou, uma agonia aguda e latejante no ar congelante.

Eu ia morrer aqui. Ele ia me deixar congelar até a morte.

Meu instinto de sobrevivência, uma força primal que eu não sabia que possuía, abriu caminho através do meu orgulho estilhaçado. Eu não queria morrer. Não assim. Não por ele.

Bati na porta de metal com os punhos, minha voz rouca. "Ok! Eu faço! Eu faço a sopa! Por favor, me deixem sair!"

A porta se abriu. Eles me arrastaram para fora e me jogaram na cozinha industrial do hospital. Meu corpo estava dormente, tremendo violentamente, mas eu me movi no piloto automático.

Cada movimento era excruciante. Apoiei-me no balcão para me sustentar, minhas costelas quebradas gritando em protesto. Minhas mãos tremiam tanto que mal conseguia segurar a faca. Mas eu fiz. Eu fiz a maldita sopa.

Quando terminei, manquei de volta para o quarto de Bela, carregando a tigela com as mãos trêmulas.

Damião a pegou de mim sem uma palavra. Ele não olhou para meus novos hematomas, para o sangue que começara a vazar novamente pelo curativo na minha perna.

"Você pode ir agora", disse ele, seu tom desdenhoso. Ele gesticulou para os guarda-costas. "Levem-na para a cirurgia."

Enquanto me empurravam para uma maca, senti a última lágrima que eu derramaria por Damião Montenegro escorrer pelo meu rosto.

Deitada na mesa de operação, enquanto a anestesia começava a me puxar para a inconsciência, fiz um voto.

Eu sobreviveria a isso.

E eu nunca, jamais, o deixaria me machucar novamente.

Acabou. O amor, a esperança, o casamento. Tudo.

Morto.

                         

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