- A escrava, senhor - A serva avisa e, ao se afastar, o meu lobo desperta ao ver a mulher linda na minha frente. O corpo imaculado vestindo apenas o tecido banco fino. Transformo-me em lobo imediatamente.
Elowense se assusta ao ver o lobo negro gigantesco que me tornei, e me aproximo dela. Mas logo se recupera da surpresa e se mantém inabalável em seu lugar. Gostei disso nela, silenciosa e sabe controlar o medo como poucos conseguem. Perfeita.
Cheiro a beldade na minha frente. Seus cabelos foram domados pelas mulheres que a prepararam e seu corpo está limpo e cheiroso. Meu focinho toca seu ventre e ela permanece imóvel, quero sentir seu cheiro. O cheiro da sua intimidade. Abaixo o focinho apreciando o aroma. Pura, posso sentir pelo seu cheiro que nenhum outro homem a tocou antes.
Volto a minha forma humana, completamente nu, e ela evita olhar meu corpo.
- Não desvie o olhar - rosno, segurando em sua face e virando-a para mim. Ela me encara e vejo determinação em seus olhos. Gosto disso.
- Sente-se - digo, apontando a poltrona do quarto. Me sento na beirada da minha cama.
Ela se acomoda na poltrona, nervosa, porém calada. - Te escolhi, escrava, porque servirá a um propósito se aceitar.
Seus olhos arregalam-se, mas ela permanece em silêncio.
- Em uma semana a lua alcançará o seu auge em poder e brilho, e nesta noite preciso conceba um filho.
- Lamento, majestade - finalmente ela fala alguma coisa. - Mas se tivesse me dito suas intenções eu teria lhe avisado.
- O que quer dizer, escrava? - Irrito-me.
- Meu ventre é seco - Seus olhos estão focados em um único ponto e tento farejar a mentira, mas só encontro o perfume da verdade. Tenho o dom de sentir se o que as pessoas dizem é verdade ou mentira, e ela diz a verdade.
- Como sabe que seu ventre é seco se é uma virgem? - Encaro com os olhos estreitos de tanta irritação.
- Uma maldição, majestade. Fui amaldiçoada por uma bruxa em seu leito de morte e eu senti sua maldição se instalar quando seus olhos se fecharam e seu fôlego a deixou.
Mais uma vez percebo que ela fala a verdade.
- A deusa mãe me guiou até você - afirmo. - Ela queimará e destruirá a maldição, e abençoará seu ventre com um herdeiro.
Ela abaixa a cabeça, encara os dedos e não diz mais nada.
Levanto-me e vou até ela, seguro em seu queixo e a faço me encarar mais uma vez.
- Terá uma semana para pensar na minha proposta - Seus olhos escuros me encaram como se pudesse ver a minh alma. - Será tratada como realeza, terá comida e roupas e tudo o que precisar. Se decidir não aceitar, voltará para o lugar de onde veio.
Ela pisca os olhos. Talvez não esperasse que teria escolha.
- Não será tomada a força, escrava. Se é isso que esperava de mim. - Solto o seu queixo e me afasto.
Bato na porta para que a escrava que a estava aguardando possa levá-la para seus aposentos.
Viro as costas quando a porta se abre e vou até a janela, enquanto ela é levada de meu quarto. Sinto uma brisa suave envolver minha pele exposta. Se a escrava não aceitar a proposta, terei que esperar mais um mês, e eu tenho pressa. Porém, minha oferta é tentadora.
***
Elowen
Uma semana se passou desde que fui trazida para o castelo do rei alfa. Uma semana que não sei o que é sentir fome, exaustão e sede. Uma semana que durmo em uma cama macia, tomo banho de banheira com água na temperatura que desejo e o melhor de tudo: não levo chicotadas.
Não o vi novamente, mas sei que hoje é o dia. Ou melhor, a noite.
Como a fama do rei que circula entre os escravos, achei que me amarraria, torturaria e me possuiria a força quantas vezes quisesse, mas não foi assim. Fiquei surpresa.
Estou usando a costumeira roupa branca dos escravos do castelo, parada diante a janela do meu quarto que é amplo, limpo e arejado. O ar fresco da manhã atinge meu rosto, o cheiro dos pinheiros da floresta de pinhais acerta minha narinas e respiro fundo.
É dificil pensar em voltar para a vida de escrava, quando experimento algo assim. Aqui ainda sou escrava, mas nenhum dos escravos do castelo tem a aparência dos escravos da área de trabalho. Não seu esqueléticos, feridos e andando curvado pelos corredores, pelo contrário.
Talvez meus antepassados possam sentir vergonha de mim, por me vender, mas ser a mãe do filho do rei alfa não me parece algo tão ruim, diante da opção.
Quando estou refletindo, ouço a porta se abrir. As escravas que cuidam de mim sempre batem na porta, só pode ser ele. Viro-me e o vejo parado diante da porta já fechada.
Ele é um homem imponente, alto e forte. A pele bronzeada, os olhos verdes intensos naquele rosto severo, os cabelos pretos na altura dos ombros, levemente úmidos, demonstrando um banho recente.
O perfume do homem me acerta em cheio, amadeirado e algo mais forte.
- Pensou na minha proposta? - sua voz sua firme, grossa e me faz estremecer.
- Sim, majestade - respondo em tom baixo, submisso.
Ele se aproxima a passos lentos e segura em meu queixo. Percebo que ele gosta que o olhe no olho. Quando não faço isso espontaneamente ele me força a encará-lo.
- Então diga, aceita ser a mãe do meu herdeiro? Acerta ser possuída por mim nesta noite de lua cheia?
As palavras dele ditas deste jeito, com a voz baixa, contida e rouca, faz meu ventre se aquecer.
- Sim, majestade, aceito.
Ele ergue as narinas e fecha os olhos, um sorriso fino toma sua face. Ele volta a me encarar, e se curva, aproximando-se de mim. Não recuo, afinal, aceitei ser a mãe de seu filho. Seus lábios tocam os meus, quentes e macios, não sei o que esperava do rei, mas com certeza não era isso.
Seus braços em envolvem e sua língua invade a minha boca, fico estagnada sem saber o que fazer. Ele se afasta e abro meus olhos, encarando-o.
- Já foi beijada? - inquire rouco.
- Não senhor - respondo com o rosto se aquecendo devido devido a vergonha.
Ele volta a sorrir, parece que isso o agrada. A minha inocência, a pureza.
- Acompanhe o movimento da minha língua, verá que é prazeroso.
Ele volta a me beijar, fecho os olhos e faço como me instruiu. Sigo os movimentos de sua língua, suas mãos invadem o tecido da roupa branca de escrava e acaricia a minha pele. Um som que parece um rosnado deixa a sua garganta e sinto uma sensação estranha entre minhas coxas, mas prazerosa, e a sinto úmida como nunca havia sentido antes.
Ele se afasta bruscamente e fico sem entender. Ele está ofegante assim como eu. Não sei o que fazer, por isso fico parada o encarando.
- O seu cheiro está tentador, se não me afastar, a tomarei antes do tempo - diz e então entendo o que fez. - As servas irão prepará-la para esta noite.
Ele sai, batendo a porta, sem olhar para trás.
Logo servas invadem o quarto e o processo da preparação para a noite com o rei começa.