O Dia em que Desapareci
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Capítulo 3

O gelo era fino perto da borda.

Os dentes de Amanda batiam. Cada respiração era uma facada de frio.

Ela tirou seus saltos frágeis, seus pés descalços tocando o chão congelado.

Ela entrou na água. A água estava chocantemente fria, até os joelhos.

Mordeu sua pele, uma dor ardente e entorpecente.

Ela estendeu a mão para o brinco, seus dedos desajeitados pelo frio.

Os convidados observavam, alguns com pena, outros com diversão.

Heitor observava, seu rosto indecifrável.

Ela pegou o brinco, sua mão azul.

Ela o entregou a Jéssica, água pingando de seu vestido, seu corpo tremendo violentamente.

Jéssica o pegou, um brilho triunfante em seus olhos.

"Obrigada, querida." Ela então "acidentalmente" o deixou cair no calçamento de pedra. Ele se estilhaçou. "Oh, que desastrada. Era só uma réplica barata, de qualquer maneira."

Ela riu levemente e se afastou no braço de Heitor.

Heitor lançou a Amanda um olhar breve e indiferente.

"Vá se limpar. Você está um trapo."

Ele voltou sua atenção para seus convidados.

Amanda ficou ali, encharcada, congelando, humilhada.

A dor em seu abdômen explodiu, aguda e cruel.

Ela respirou fundo, de forma trêmula, encontrou um canto escondido e engoliu dois de seus analgésicos.

Ela tinha que continuar. Isso fazia parte.

Algumas semanas depois, um retiro da empresa. Em Petrópolis.

Amanda foi forçada a trabalhar no evento.

Jéssica, com um sorriso doce, havia supervisionado o buffet.

Cada prato. Cada um deles. Continha frutos do mar ou castanhas.

Amanda era severamente alérgica. Heitor sabia disso. Ele uma vez a levara às pressas para o hospital após uma exposição acidental.

Agora, ele observava enquanto ela beliscava um pão seco, sua única opção segura.

Ele não disse nada. Não ofereceu nenhuma alternativa.

Seu silêncio era um endosso da crueldade de Jéssica.

O estômago de Amanda se contraiu. Ela sentiu a coceira familiar na parte de trás da garganta.

Ela se desculpou, seu coração batendo forte.

Isso era por Lívia. Ela repetia como um mantra. Essa dor, esse sofrimento, era por Lívia.

Então veio a tarefa impossível.

Uma tempestade rugia lá fora, granizo e chuva congelante.

Heitor ligou para ela. Sua voz era ríspida.

"Jéssica precisa de alguns arquivos para a apresentação dela. Estão no antigo arquivo do centro. Pegue-os. Agora."

O arquivo era um prédio perigoso e semi-abandonado.

"A apresentação é em uma hora", ele acrescentou. "Não se atrase."

O corpo de Amanda gritava em protesto. Ela estava fraca, febril.

Mas ela foi.

A jornada foi um pesadelo. O transporte público estava um caos. Os táxis eram escassos.

Ela andou quilômetros no vento cortante e na chuva congelante.

Ela encontrou o arquivo, navegou pelos corredores escuros e em ruínas.

Ela pegou os arquivos.

Ela correu de volta, seus pulmões ardendo, sua visão embaçada.

Ela chegou ao escritório de Heitor, cinco minutos atrasada, encharcada e tremendo.

Jéssica ergueu os olhos do celular, entediada.

"Ah, esses arquivos? Não precisamos mais deles. Encontrei um backup."

Ela acenou com a mão, displicente.

Heitor observou Amanda, um músculo se contraindo em sua mandíbula. Ele não disse nada.

Amanda sentiu algo dentro dela se quebrar.

Ela se virou para sair, suas pernas instáveis.

Ao sair para a tempestade, uma onda de tontura a atingiu.

Faróis. Um guincho de pneus.

Então, escuridão.

Ela sentiu uma estranha sensação de paz enquanto a escuridão a envolvia. Flocos de neve, ou talvez apenas a chuva, em seu rosto.

Lágrimas de alívio. Finalmente havia acabado.

Davi Moura estava no Sírio-Libanês quando a trouxeram.

Ele estava verificando outro paciente. Ele a reconheceu imediatamente.

"Amanda!" Ele correu para o lado dela, seu rosto pálido de choque.

Suas roupas estavam rasgadas, sangue grudado em seu cabelo. Ela estava inconsciente.

Ele latiu ordens, seu treinamento médico entrando em ação.

Seu câncer, ele sabia, estaria furioso, agravado pelo trauma, pelo estresse constante.

Ele encontrou o celular dela, rolou pelas chamadas recentes. Heitor.

Ele discou.

"Heitor Ferraz."

"Você precisa vir para o Sírio-Libanês. Agora." A voz de Davi estava crua. "É a Amanda. Ela sofreu um acidente. Esta é sua última chance de vê-la."

Uma pausa. Então a voz cínica de Heitor.

"Outro drama, Moura? O que é desta vez?"

Amanda se mexeu, seus olhos se abrindo com um tremor. Ela viu Davi ao telefone.

Ela murmurou o nome de Heitor, uma pergunta em seus olhos.

Davi assentiu, sua expressão sombria.

Amanda balançou a cabeça fracamente. Gesticulou para que ele desligasse.

Ela não queria que ele a visse assim. Derrotada. Quebrada.

Davi encerrou a chamada, seu coração pesado.

Milagrosamente, após algumas horas críticas, seus sinais vitais se estabilizaram. Ligeiramente.

                         

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