Entre o ódio e a Redenção
img img Entre o ódio e a Redenção img Capítulo 2 O tempo passou e eu renasci!
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Capítulo 6 Você é gay img
Capítulo 7 Ela é a salvação! img
Capítulo 8 O que você está fazendo aqui img
Capítulo 9 Eu te conheço de algum lugar img
Capítulo 10 Ela tinha o jeito com ele img
Capítulo 11 Ela sabia conquistar Mateo img
Capítulo 12 Ela era a salvadora de Mateo img
Capítulo 13 Não teste a minha paciência img
Capítulo 14 Ela não tinha medo dele img
Capítulo 15 Venha morar conosco img
Capítulo 16 Ele precisa de mim! img
Capítulo 17 Ele estava em casa img
Capítulo 18 Ele é louco! img
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Capítulo 2 O tempo passou e eu renasci!

Seis anos depois...

O som suave do jazz enchia o bar mais badalado da Avenida Paulista.

Luzes douradas refletiam nos copos de cristal, misturando-se a risadas abafadas, conversas discretas e ao aroma de vinho caro com perfume importado.

Era um cenário perfeito - elegante, superficial e sufocante.

Helena, impecável em um vestido preto de cetim, havia passado a noite cercada por investidores que falavam demais e entendiam de menos, e agora, com a cabeça latejando e um sorriso profissional ainda colado ao rosto, tudo o que queria era um canto silencioso para respirar.

Mas o destino - como sempre - não lhe concedia pausas.

Tania a seguiu até o corredor dos fundos.

- Tania... - murmurou Helena, com um meio sorriso cansado. - Tem algo que queira me dizer?

A empresária cruzou os braços, o olhar duro como gelo.

- Tenho, sim. - Sua voz cortou o ar. - É verdade que você se inscreveu no teste de roteirista assistente do filme "Me Ame, se For Capaz"?

Helena inclinou a cabeça, serena, como quem já previa o ataque.

- Sim. E qual o problema?

- O problema é que você não vai a esse teste! - disparou Tania, a voz carregada de autoridade. - E isso não é um pedido, Helena. É uma ordem!

Helena arqueou uma sobrancelha, indiferente.

- Ah, é? E por quê?

- Porque você agiu pelas minhas costas! - Tania avançou um passo. - A empresa já decidiu que Camila será a protagonista. E não precisamos de duas da mesma família no mesmo projeto!

Helena soltou um riso baixo - curto, frio.

- Interessante... - murmurou, tomando um gole do vinho que ainda segurava. - Isso conflita com o meu trabalho de roteirista? Ou Camila mandou você vir aqui me ameaçar?

Seus olhos brilharam com ironia.

- Não me diga que ela tem medo de perder... para mim.

- Acorda, Helena! - Tania estourou. - A família Rodrigues investiu cinco milhões nesse filme. O papel é dela. Sempre foi!

Helena ergueu o olhar, tranquila demais.

- Então, se o papel já é dela... por que você está tão nervosa, Tania?

- Porque você é minha agenciada, e vai obedecer! - gritou, batendo o salto no chão. - Se me desafiar, não me culpe pelo que eu fizer!

Helena riu, sem humor.

- Que milagre. Achei que você já tivesse esquecido que eu sou sua agenciada.

O olhar de Tania escureceu.

E antes que Helena pudesse reagir, sentiu um empurrão violento nas costas.

Seu corpo foi lançado para frente, caindo dentro de um depósito escuro no final do corredor.

O celular deslizou pelo chão e desapareceu entre as sombras.

A porta se fechou com um estalo.

Do lado de fora, os passos de Tania se afastaram lentamente - firmes, impiedosos.

Helena ficou imóvel por um instante.

Depois soltou um suspiro breve, encostando a cabeça na porta.

Não havia medo em seus olhos - apenas o velho cansaço, misturado com frieza.

Desde que entrara na Vox Talents, aprendera a engolir humilhações em silêncio. No início, Camila fingia cortesia - dava pequenos trabalhos à irmã, como se fosse caridade, mas com o tempo, as máscaras caíram, e Camila não queria dividir o palco. Queria tudo: a fama, os holofotes... e o nome Rodrigues para si.

"Se eu não conseguir esse roteiro," pensou Helena, "vou sair dessa empresa. De uma vez por todas."

O silêncio a envolvia - até que um som suave o quebrou.

Um pequeno ruído. Um soluço contido.

Helena franziu o cenho, atenta.

Entre as caixas empilhadas, algo brilhou - um reflexo tênue de luz.

Ela se aproximou devagar, os saltos tocando o chão com cautela.

E então o viu.

Um menino, não mais do que cinco ou seis anos, encolhido no canto.

Os olhos grandes e escuros a observavam em silêncio, assustados, mas com algo que a fez estremecer - uma estranha familiaridade.

Helena parou, o coração acelerando sem motivo aparente.

A voz dela saiu suave, quase um sussurro.

- Ei... - ela se abaixou. - O que está fazendo aqui, docinho?

Nenhuma resposta.

Apenas o olhar firme da criança, profundo demais para alguém tão pequeno.

Um arrepio subiu pela espinha de Helena.

O bar do outro lado da porta parecia distante, irreal.

E a pergunta ecoou dentro dela, sombria e inevitável:

"O que uma criança estava fazendo sozinha... no depósito de um bar?"

- Oi, querido... - Helena se abaixou, suavizando a voz. - Como você se chama? Como entrou aqui?

Silêncio.

Ela tentou de novo, em tom gentil, fazendo pequenas perguntas. Mas o menino permanecia imóvel, os olhos arregalados, o corpo encolhido no canto - como um animalzinho selvagem, acuado e assustado.

Helena suspirou, cansada.

Um depósito abafado, cheio de caixas e cheiros de poeira - um refúgio improvisado para quem não tinha mais onde pertencer.

O tempo parecia se arrastar.

A lâmpada acima deles piscou uma, duas vezes... e então apagou-se com um estalo seco.

A escuridão tomou o lugar por completo.

Por alguns segundos, tudo o que Helena ouvia era sua própria respiração, até que um som suave - quase imperceptível - cortou o silêncio.

Ela franziu o cenho, pois o som vinha do menino.

Dentes batendo.

- Está com medo do escuro? - perguntou em voz baixa, tentando soar divertida.

O barulhinho cessou... por um instante. E depois voltou, mais alto.

Helena balançou a cabeça, um sorriso cansado surgindo.

- Tão pequeno e já tão medroso... - murmurou, quase com ternura.

Levantou-se devagar, massageando as têmporas. O corpo inteiro doía - consequência da noite anterior, dos sorrisos falsos, das taças de vinho e dos olhares cheios de interesse falso.

Deu alguns passos até o menino. Ele recuou, pálido de medo.

Mas Helena apenas se deixou escorregar até o chão, sentando-se ao lado dele.

Encostou-se na parede fria, fechou os olhos e murmurou:

- Calma, não vou te morder, pequenino.

O silêncio voltou.

E então, o cansaço venceu.

Em poucos minutos, Helena adormeceu.

Quando despertou, sentiu algo quente encostado em sua perna.

Baixou o olhar - e o coração derreteu.

O menininho estava deitado ao lado dela, a cabecinha apoiada em sua coxa.

Uma das mãozinhas agarrava com força a barra da blusa dela, como se temesse que ela desaparecesse.

Helena riu baixinho.

- Ai, meu Deus... que coisinha mais linda...

Estendeu a mão, com um sorriso terno, e acariciou-lhe os cabelos.

Mas no instante em que o fez, o sorriso sumiu.

A pele dele estava quente demais.

- Você está com febre! - sussurrou, alarmada, tocando-lhe a testa novamente. - Não... não é possível...

O medo subiu pela garganta. A febre era alta. Perigosa, e o pior, Tania só voltaria depois da audição, então, poderiam ficar presos ali por horas.

Helena se levantou num pulo, olhando ao redor, desesperada.

Foi então que viu: Um fino facho de luz atravessava a penumbra, cortando o ar.

A lâmpada estava queimada.

Mas havia claridade.

Ergueu o olhar.

No teto, uma pequena claraboia deixava passar os primeiros raios do amanhecer.

Esperança.

Helena arrastou uma escada velha até a parede e virou-se para o menino.

- Ei, pequenino... venha cá. Eu te ajudo a sair, tudo bem?

O garoto balançou a cabeça com força, os olhos firmes, desafiadores.

Helena o encarou, e entendeu.

Ele não queria deixá-la.

Um sorriso cansado e doce curvou seus lábios.

- Então você é leal, é isso? Quer ficar aqui e sofrer comigo? - brincou, beliscando de leve suas bochechas. - Mas escute, herói... a janela é pequena. Eu não passo. Se você sair, pode buscar ajuda. Tudo bem?

O menino hesitou, e Helena sentiu o coração apertar.

            
            

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