- Responda, droga! Quem te trouxe aqui? - indagou mais uma vez.
- Meu pai me entregou para alguns homens que me trouxeram para este lugar, sou o pagamento de uma dívida de jogo. Ele devia ao senhor Mario Castelli... - Levantando-se, ele me colocou de lado na cama, começando a se vestir rapidamente.
- Qual é o seu nome? - perguntou.
- Beatrice. - Respondi insegura se era o certo dar tantas informações a ele.
- Quantos anos você tem? - perguntou, enquanto estudava minhas expressões.
- Tenho 18. - Me limitei a dizer.
Vi quando ele pegou uma arma que estava ao lado da poltrona. Desesperada, entendi que ele também fazia parte da máfia, e aquele poderia ser o meu fim. Sem pensar muito, ajoelhei-me à sua frente, segurando suas pernas.
- Não me mate, por favor. Preciso continuar viva, por favor...
Ele segurou meu braço, forçando-me a levantar. Sua mão livre foi para meu queixo, enquanto a outra ainda segurava a arma.
- Se acalme, sinto muito pelo que você passou. Venha, vou resolver isso. Vou te levar para casa.
- Não, por favor, ele vai me matar. Vão matar meus irmãos... - Observando meu desespero, ele começou a falar:
- Ninguém vai te machucar, eu vou te proteger. Sou Fabrizio Castelli. Vou resolver a dívida do seu pai e você vai voltar para casa.
Encarando-o, disse outra confissão:
- Eu não quero voltar para casa... preciso apenas resgatar os meus irmãos...
Parecendo compreender meu desespero, ele não fez mais perguntas. Apenas pegou sua camisa e a deslizou sobre o meu corpo. Enquanto a abotoava, seus olhos permaneciam fixos em mim.
- Você vai para minha casa. Apenas confie em mim, vou cuidar de você e resolver seus problemas. - Suas palavras foram como um bálsamo para as feridas que eu carregava no peito.
Concordei e segui aquele homem pelo corredor da boate, sem ter a mínima ideia do que ele faria ou de como seria minha vida a partir dali.
Fabrizio Castelli
A raiva estava me consumindo. Meu dia tinha sido um desastre e a minha noite parecia ser uma extensão desse desastre iminente. A única parte desse dia que salvou fora a parte em que eu estava com ela. Ela apressava seus passos enquanto eu segurava sua mão e a levava pelo corredor afora. Abri porta após porta até encontrar Roni.
- Chefe... - O bastardo estava seminu, recebendo um boquete de uma das prostitutas da casa.
- Saia! - Ordenei para a mulher, que, em silêncio, recolheu suas roupas e saiu apressada.
O olhar de Roni foi para Beatrice, que estava atrás de mim, vestida com minha camisa. Sem olhar para ela, já sabia que sua expressão era de terror. Ela estava assustada e eu não tinha visto isso antes de levá-la para a cama.
- O que essa puta fez? Não te satisfez, chefe? - Ele deu um passo em direção a Beatrice. Dei um soco certeiro em sua boca com pressão suficiente para ele cuspir vários de seus dentes. Seu olhar era de medo e confusão.
- A garota era virgem! Ela foi trazida pelo pai contra sua vontade, porra! Meu pai sabe disso? - Segurei sua camisa.
- Chefe... eu não entendo - resmungou.
- Quero saber se meu pai sabe o que anda aprontando na boate. Nunca admitimos esse tipo de situação. As mulheres que trabalham para nós escolhem fazer por livre e espontânea vontade, são maiores de idade e não são virgens... - A raiva aumentou quando o medo do que eu tinha acabado de falar se realizou em minha mente, ainda consumida pelo álcool.
Ela tinha me falado a idade, mas poderia ter mentido, ela poderia ser menor de idade. Passei meu olhar rapidamente por ela. Apesar de ser bem menor que eu, ela tinha curvas salientes em seu corpo pequeno. Passaria facilmente por uma menor de idade. Mas, para o meu alívio, Roni falou:
- A garota é maior de idade, conferimos os documentos, chefe. Se ela mentiu sobre a idade... - Tentava ainda justificar sem me dar respostas. Dei mais alguns socos e chutes nele.
Ouvia o choro de Beatrice atrás de mim. Eu cuidaria dela depois.
- Foi o Zíngaro, ele está na boate... - falou, cuspindo outro dente.
- Meu pai sabe disso? Sabe da garota? - gritei contra ele.
- Seu pai não sabe de nada, ele sabe da dívida, mas nada mais. Ainda não falamos com ele, pois queríamos saber se a garota daria lucro e... - Dei outro murro em Roni, que caiu de joelhos.
A porta do escritório se abriu e, para a minha sorte, era o próprio Zíngaro que estava à minha frente, vendo a cena. Ele olhou para a garota com ódio.
- Vadia, o que aprontou? - Levantou a mão em punho para ela, mas não chegou a tocá-la, pois eu atirei.
O sangue espirrou na camisa que ela estava usando. Ela gritou e chorou ainda mais alto, se agarrando a mim.
- Por favor, pare - implorou, tremendo.
Com um braço, a segurei em meu corpo e, com a outra mão, mantive a arma apontada para o Zíngaro, que covardemente implorava por sua vida.
- Apenas fiz meu trabalho, chefe. Aceitei o pagamento para a dívida que o maldito Martini tem com seu pai... - Rapidamente desci meu olhar para Beatrice, que erguia seu rosto para mim.
Mais uma vez, a minha raiva, que estava sob controle, surgiu com força total ao ver o rosto dela machucado. Provavelmente, antes não era visível por causa da maquiagem, que foi lavada por suas lágrimas que desciam abundantemente.
Segurei seu queixo e a fiz olhar para mim enquanto eu fazia a pergunta que faria matar alguém:
- Quem foi? Qual deles tocou em você? - Ela estava tremendo ainda mais, mas eu não desistiria de saber.
- Por favor, não mate ninguém por minha causa, eu... - soluçou.
Não dei confirmações do que eu faria e continuei esperando minha resposta. Entendendo que eu não desistiria, ela apontou o dedo para o Zíngaro, que xingou de todas as formas possíveis. Beatrice segurou meu pulso, me implorando mais uma vez.
- Por favor, eu já estou muito mal... - Ela realmente parecia que não suportaria ver uma cena tão violenta, pois eu seria cruel e sanguinário.
Fechei os olhos por um segundo, alisei seu rosto e puxei seu corpo ainda mais perto, segurando seu rosto em meu peito enquanto disparava na outra mão do Zíngaro.
- Esta é a lembrança que você vai carregar por ter tocado nela. E faça girar a voz que Beatrice Martini agora me pertence e matarei qualquer um que tente machucá-la. - Ele não respondeu, apenas gritava de dor.
Olhei para Roni, que caiu de joelhos, mostrando todo o seu medo.
- Piedade, Fabrizio. Não tive nada a ver com isso. Eu não toquei na garota e muito menos sabia que o pai a trouxe contra sua vontade.
- Cale-se. Agradeçam a ela por eu não os matar pelo que fizeram. Limpe essa bagunça e se preparem, pois essa conversa ainda não acabou.
Segurei novamente a mão de Beatrice e a levei pelo corredor até chegarmos na parte externa da boate. Meu carro estava bem na frente, e os homens da minha equipe continuaram nos seguindo.
Dei a ordem para que mantivessem a distância necessária, não queria deixar Beatrice ainda mais abalada e angustiada. Não deveria me importar tanto com uma mulher que eu acabara de transar, eu nunca me importava com seus problemas.
Mas aquela garota era diferente. Alguma coisa nela despertava meu instinto de proteção. Ela estava insegura, eu podia sentir isso quando abri a porta do carro para ela.
- Para onde vamos? - obviamente estava desconfiada.
Me aproximei segurando seu rosto em minhas mãos.
- Você não volta para este lugar. Agora, você fica sob a minha proteção, porque você me pertence. Fique calma, vou te levar para um lugar seguro, ninguém vai tocar em você. - Ela deu um sorriso fraco. Ainda parecia assustada, mas entrou sem falar nada.
Dei partida no carro e avancei pela estrada. Beatrice ainda chorava silenciosamente, mas eu podia ver as lágrimas descerem por suas bochechas rosadas cada vez que eu olhava para ela.
Parei o carro em um acostamento de frente para o mar. Agora ela me olhava assustada, e não era isso o que eu queria.
- Acalme-se, só quero te dar uma garrafa de água e alguns lenços de papel. - Apontei para o porta-luvas, ela concordou, e eu o abri, entregando o que prometi para ela. Ela secou o rosto e, tremendo, bebeu um pouco de água.
- Obrigada - murmurou.
Ela estava me agradecendo? Apesar de sentir toda a entrega dela naquele quarto, eu tinha sido um canalha por ter continuado sem saber sua história.
- Não me agradeça, me aproveitei de você e não deveria ter feito...
- Por favor, não diga isso. Você me salvou à sua maneira, e o que fizemos no quarto, eu gostei, eu quis tudo - disse, ficando vermelha.
Não resistindo e seguindo meus instintos, afastei o banco e a puxei para o meu colo. Ela se encaixou em mim como se estivesse esperando exatamente isso. Quando menos esperei, seus lábios estavam nos meus e eu recebi seu beijo doce, retribuindo com minha língua que a desejava.
O beijo se tornou algo muito intenso. E, apesar de todo desejo naquele momento, eu só pensava em encontrar quem a quebrou, pois eu estava disposto a matar qualquer um que a machucou. Estava disposto a curar cada uma de suas feridas. Eu estava disposto a beijar cada uma de suas cicatrizes. Ela teria minha proteção a partir daquele momento.
Beatrice Martini
Assim que chegamos na frente de uma luxuosa casa, ele parou o carro e me ajudou a descer. Homens armados estavam por toda parte e ele passou por todos eles, que imediatamente abaixaram a cabeça como se ele fosse um rei. Na verdade, Fabrizio era o príncipe da máfia, era o filho de Don Mario, o patriarca do Clã Cappone.
O príncipe obscuro que havia acabado de me salvar de um destino cruel, qualquer coisa que ele me oferecesse já era uma esperança que até o momento sempre me fora negada.
- Fique à vontade, Beatrice - Fabrizio sorriu enquanto abria a porta para mim.
Entrei observando o luxo de cada canto daquele lugar, eu parecia inadequada para todo o resto à minha volta. Apertei o tecido da barra de sua camisa tentando esconder o meu nervoso, o que fora uma tentativa falha. O olhar de Fabrizio foi para as minhas mãos e ele se aproximou, tocando-as, envolvendo-as nas dele.
- Não existe motivo para ficar assim. Te fiz uma promessa, vou te proteger e não existe outro lugar mais seguro na Itália - falou, sem tirar o seu olhar do meu.
Até aquele momento, Fabrizio parecia ser de confiança, ele realmente parecia disposto em me ajudar.
- Preciso de sua ajuda... - falei, reunindo forças para contar um pouco mais sobre mim.
- O que precisa? - Seus olhos estavam me mantendo presa a ele.
- Como já sabe, meu pai me deu como pagamento para a dívida que possui com seu pai. Tenho medo de que a minha irmã tenha o mesmo fim. Também tenho medo por meu irmãozinho...
Fabrizio pareceu pensar por alguns segundos, eu estava concentrada em seus lindos lábios quando eles começaram a se mover:
- Vou cuidar disso, eu prometo. Me dê alguns dias e seus irmãos estarão aqui com você - disse calmamente, como se o que eu havia pedido não fosse algo difícil para ele.
Sabia que um homem como ele tinha um grande poder e influência na Itália, principalmente dentro da máfia.
- Agora venha, você precisa de um banho e descansar. Gostaria de comer algo? - perguntou enquanto subíamos a escada.
- Obrigada, não tenho fome.
- Tudo bem, não vou insistir, sei que a noite foi cheia de acontecimentos aos quais não está acostumada. Mas, por favor, quero que se sinta em casa. Ao acordar, Maria cuidará de você, peça a ela o que quiser. - Ele sorriu.
Fabrizio era lindo de qualquer jeito, mas ele sorrindo era uma escultura mais do que perfeita. Seus cabelos castanho-claros, cheios, olhos claros e dono de um sorriso que me fazia querer beijar sua boca.
- Nem sei como te agradecer... - falei, engasgada pelo choro.
- Como já te avisei, não me considere um herói; na verdade, estou longe disso. No entanto, te asseguro que vou zelar por você. Este será seu refúgio, e caso necessite de algo, não hesite em solicitar a Maria ou a mim.
O quarto era quase tão grande quanto o apartamento em que eu vivia com meu pai e minha irmã. Desde que mamãe falecera, papai perdeu a casa confortável em que vivíamos e passamos a viver em um prédio onde a grande maioria dos habitantes eram drogados ou prostitutas.
O quarto era a personificação da perfeição, uma amostra deslumbrante que prometia que o resto da casa seria um palácio de esplendor sem igual. Mesmo sem ter explorado cada canto, a grandiosidade sugeria um luxo ao qual eu jamais havia sido acostumada, um contraste marcante com tudo o que eu conhecia.
- Aqui, vista isto. Amanhã Maria vai te ajudar com a questão de roupas femininas. O banheiro fica ali, dentro do armário encontrará itens de higiene novos, use o que precisar. - Ele apontou a porta próxima à janela quando peguei a camiseta de suas mãos.
- Obrigada.
- Não me agradeça, sou parte do seu problema. Durma bem, amanhã conversaremos mais.
Ele se aproximou e deu um beijo no meu rosto, mas ficou por alguns segundos olhando meus lábios e eu queria ser beijada por ele novamente. Tudo era surreal, Fabrizio ainda era um estranho, eu não sabia muito sobre ele, mas estranhamente me sentia segura ao seu lado.
Ele saiu do quarto e eu fiquei por um minuto tocando meu rosto onde seus lábios estiveram, um pensamento quente passou em minha mente lembrando cada parte do meu corpo onde seus lábios estiveram.
Qual seria o plano dele? Me manteria ali até quando? Até quando eu poderia me sentir segura sob sua proteção? Mas a pergunta que mais se destacava na confusão dos meus pensamentos era: ele transaria comigo novamente?
Fui para o banheiro, tirei a sua camisa, que ainda possuía o seu perfume, alisei o tecido e o levei ao meu nariz mais uma vez.
Deixei-a sobre a bancada e segui para a ducha; a cada gota que escorria pelo meu corpo, eu revivia os momentos na cama com aquele homem. Eu sempre ouvira sussurros sobre a família Castelli, a linhagem mais temida da máfia italiana, mas nunca havia visto nenhum deles de perto. Agora eu sabia exatamente quem ele era o príncipe da máfia em carne e osso, e era impossível ignorar o fato de que aquele homem poderoso tinha me reivindicado, tornando-se, à força do destino, o meu guardião obscuro.