FABRIZIO CASTELLI - O CAPO QUE ME REIVINDICOU
img img FABRIZIO CASTELLI - O CAPO QUE ME REIVINDICOU img Capítulo 1 Vendida!
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Capítulo 6 Desejo incontrolável img
Capítulo 7 Luz, caos e sombras img
Capítulo 8 Correndo perigo por ela img
Capítulo 9 Incerteza e desejo img
Capítulo 10 Não resisto img
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FABRIZIO CASTELLI - O CAPO QUE ME REIVINDICOU

Afrodite LesFolies
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Capítulo 1 Vendida!

Prólogo

"O homem que um dia me salvou foi o mesmo que, sem piedade, tentou me destruir, me quebrando em mil pedaços."

Beatrice Martini

Segurei o papel em minha mão, tremendo mais do que admitia para mim mesma. Era um destino cruel demais, um golpe sujo do universo: justo quando ele me dispensara, quando decidiu seguir sua vida como se eu fosse descartável, eu o carregava dentro de mim, uma lembrança doce e, ao mesmo tempo, cruel o bastante para abrir feridas que nunca cicatrizariam.

Mas eu não desistiria. Não podia aceitar que tudo havia sido um teatro barato, não após ouvi-lo jurar que me amava. Era essa esperança teimosa, quase insana, que guiava meus passos apressados pelos corredores silenciosos, consciente de que um único segurança poderia acabar com qualquer tentativa de explicação. Quando alcancei a porta de Fabrizio, senti um alívio amargo ao perceber que não havia nenhum tipo de vigilância, nenhum olho atento me impedindo de bater.

Toquei levemente.

A voz dele veio áspera, impaciente, carregada do tipo de irritação que já não se preocupava em ser escondida.

- Já disse que não quero ser perturbado, droga!

Passos pesados se aproximaram e, quando a porta se abriu, o impacto me acertou como um soco. Fabrizio estava visivelmente alterado, sem camisa, cabelos em desordem, o cheiro de álcool impregnado em cada centímetro dele. A surpresa que surgiu em seu rosto durou pouco; a irritação tomou conta, fria e venenosa.

- Beatrice, você não deveria estar aqui. Deixe-me em paz.

A crueldade naquelas palavras me atingiu como lâmina. Mesmo assim, eu precisava enfrentar aquilo. Precisava ouvi-lo, mesmo que me destruísse mais um pouco.

- Não posso ir embora, Fabrizio. Não sem resolvermos isso. Você me jurou amor, disse que estaria sempre ao meu lado...

Ele soltou um riso amargo, quase debochado.

- Pobre de você, acreditando nas palavras de um homem cujo único interesse era se divertir. Tivemos nossos momentos, mas isso acabou. Estou assegurando seu futuro e minha proteção. Muitas se contentariam com bem menos.

A maneira como ele cuspiu aquelas frases me deixou tonta. Era como se alguém tivesse arrancado o ar dos meus pulmões. Antes que eu conseguisse pensar, minha mão se ergueu sozinha e um tapa estalou contra o rosto dele. No segundo seguinte, eu já estava presa contra a parede do corredor, sentindo o hálito alcoólico, quente e agressivo, e vendo a fúria crescer em seus olhos claros.

- Saia da minha vida. Siga seu caminho. Acabou.

"Estou grávida."

Eu pensei, mas o que saiu da minha boca foi somente:

- Tenho algo importante para te dizer...

- Isso é irrelevante. Nada me fará mudar de ideia. Vá embora e me esqueça!

A voz dele subiu de tom, carregada de autoridade, como se eu fosse nada além de um problema menor a ser descartado. Enquanto ele bloqueava a porta com o corpo, meus olhos flagraram o que não deveriam: lingeries espalhadas pelo chão, marcas frescas em sua pele, arranhões que não eram meus.

Meu coração se partiu em mil pedaços e foi ali que entendi que ele não tinha somente me tirado da vida dele, ele tinha me substituído antes mesmo de eu conseguir respirar.

Não restavam palavras. Talvez ele já soubesse do filho que eu carregava e, por isso, tentava me expulsar com tanta urgência. Talvez fosse essa a verdadeira razão por trás de tamanha frieza.

Me afastei cambaleando, o peso do mundo esmagando meus ombros. As lágrimas escaparam sem controle enquanto eu corria pelo corredor, fugindo de mais uma humilhação. Só parei quando já estava do lado de fora, perdida na vastidão escura do estacionamento, onde o eco dos meus soluços se misturava ao vento.

Ali, segura apenas pela escuridão, toquei meu ventre ainda liso, ainda incapaz de denunciar a vida que crescia dentro de mim. Acariciei-o com cuidado, como se pudesse proteger aquela pequena existência do caos lá fora. Estava cansada de me render a dor, me render e esperar ser salva, daquele momento em diante eu mesma seguiria meus planos e me salvaria, protegendo quem precisaria de todo o meu amor.

Capítulo 1

Beatrice Martini

Dias antes...

O cansaço me destruía, caminhava lentamente, não queria voltar para casa. O cenário que veria era meu pai drogado, bêbado e com seus amigos de jogo, os mesmos que perdiam dinheiro como ele e eram viciados no que existia de pior. Mas eu precisava ajudar o meu irmão e a minha irmã mais novos, eles dependiam de mim. Ou teriam um fim trágico.

Abri a porta e o cheiro de mofo, cigarro e álcool me atingiu de maneira nauseante. Risadas e fumaça preenchiam o ambiente.

- Olha quem chegou, a princesinha da casa...

- Perdoe o que vou dizer, caro amigo, mas sua filha é uma delícia. - Um dos amigos de meu pai me olhou de maneira nojenta.

Não cumprimentei ninguém e segui para a cozinha; precisava preparar algo para que meus irmãos se alimentassem. Havia levado para casa o resto das verduras do restaurante em que eu trabalhava lavando pratos. Eram descartes e cascas de verdura que eu ganhava da cozinheira antes que o dono mandasse jogar tudo no lixo; ela me entregava e eu escondia na bolsa.

Peguei as panelas e comecei a lavar tudo, cortar os legumes e preparar o brodo para a sopa que faria.

- Foi mal-educado de sua parte não cumprimentar meus amigos. Cozinhe algo para todos, eles vão jantar conosco. - Meu pai me avisou sem esconder a raiva.

- O que tenho aqui será bastante apenas para as crianças, não vou dar alimento para estes marginais que você anda...

O tapa veio, como sempre. Mas, antes que ele continuasse, peguei uma faca apontando em sua direção.

- Puta ingrata, eu cresci vocês até aqui...

- Ei, não bata na garota. Deixe ela. Vamos para o cassino, hoje tem bebidas grátis e aperitivos para o jantar. - Um dos amigos de meu pai, que entre todos os canalhas que ele frequentava, parecia o mais aceitável.

Meu pai xingou, mas concordou saindo da cozinha. O homem se aproximou e se inclinou em minha direção, o que me fez dar um passo para trás.

- Calma, só quero te dizer uma coisa: fuja disto, garota. Se não fugir desta casa, vai acabar em um fim trágico.

Ele disse isso e saiu em direção à sala, o eco de suas palavras fazendo meu estômago revirar. Sabia que a situação estava complicada; havia procurado um serviço social, mas a ajuda não veio como eu esperava. Mas eu precisava fazer algo, já fazia meses que eu me sentia estranha, com a sensação de que algo ruim estava prestes a acontecer. Tentei afastar o medo e voltei a preparar o jantar. Minutos depois, meus irmãos entraram. Aquele era o meu momento feliz: poder cuidar deles, poder sorrir com eles. Era a minha única felicidade.

Dias depois...

A chuva naquela noite parecia estar cada vez mais forte. Depois de um dia exaustivo de trabalho, voltava mais uma vez para casa, esperava receber calor e conforto. Mas me deparei com meu pai na companhia de dois homens armados. Estava prestes a correr; sabia que meus irmãos estavam seguros na escola, mas eu, naquela situação, pensava na minha própria sobrevivência. Fui impedida de sair quando mãos grandes puxaram o meu braço e meu cabelo.

- Não tão rápido, belezura, temos uma conversa com o seu pai e envolve você.

- Eu não tenho nada a ver com os problemas dele...

- Sério mesmo? - Um deles perguntou, passando o cano da arma no decote do meu uniforme.

- Cale a boca, Beatrice, e aceite. Se não aceitar, vamos acabar todos mortos, inclusive seus irmãos. Você quer isso? - Meu pai, com o rosto cheio de sangue e visivelmente sob efeito de drogas, me advertiu.

- Não tenho dinheiro, posso tentar pedir um empréstimo no trabalho, mas...

- Se acalme, garota, você vai render mais de outro jeito. - O outro se levantou, apalpando a minha bunda.

Gritei e esperneei, me debatendo com os dois em meio às ameaças deles e também do meu pai. O homem que me criou, que eu carregava o sangue nas veias, foi o último rosto que vi quando senti uma agulha sendo espetada em meu braço. Antes de perder a consciência para o breu total, senti o tapa de meu pai e o escárnio dos homens que me seguravam.

Acordei em um quarto cheio de mulheres em roupas minúsculas, se maquiando, e na minha frente havia um homem que eu jamais havia visto. Não era um daqueles que me levou até ali.

- Já era hora, bela adormecida. Aqui todas têm que trabalhar. - Ele jogou algo no meu colo quando me sentei no sofá.

Eu ainda usava a roupa de uniforme e me sentia tonta, mas sabia que aquele homem não estava interessado em nada do que eu dissesse. Mesmo assim, tentei.

- Houve um engano, eu nunca trabalhei assim. Eu sei que meu pai tem uma dívida, posso trabalhar limpando o lugar ou no bar...

A risada dele foi assustadora e suas palavras cruéis.

- Com este corpinho e ainda virgem? Garota, eu vou ganhar muito mais do que com você esfregando o chão. Agora vista-se e vá para o palco.

Ele se levantou quando algumas das garotas saíam do que parecia ser o camarim de um puteiro. Eu fiquei por um segundo parada, olhando o tecido em minhas mãos.

- Ande logo, garota. Se não obedecer, pode ser pior. Entre no jogo e talvez algum cliente se envolva com você e te ajude a sair daqui. - Uma garota, que parecia ser pouco mais velha que eu, sussurrou, me ajudando a levantar e me levando para o banheiro.

- Sou Lia. E você...

- Beatrice.

- Se acalme, respira, você está pálida. Apesar de ser muito bonita, precisa de uma maquiagem.

Ela me ajudou a me vestir, rapidamente me passou um batom e soltou os meus cabelos enquanto eu não conseguia dizer nada e ela explicava como funcionava os programas com os clientes e o que eu ganharia.

- Eu... não vou conseguir... - O choro me fez engasgar.

- Todas viemos parar aqui por um motivo, mas aqui a maioria está por vontade própria. Mas sei que nem todas escolheram isso porque querem. No seu caso, foi pior: seu próprio pai te vender assim...

- Eu preciso sair daqui, tenho dois irmãos que precisam de mim...

- Então me escute. Enxugue as lágrimas, beba isto. - Ela abriu a bolsa retirando uma garrafa de metal e, antes que eu pudesse perguntar, ela empurrou em meus lábios. - Uísque. Não está batizado, tranquila. O álcool vai ajudar você a ter coragem. Escute o meu conselho e você vai conseguir sair daqui e salvar seus irmãos.

Ela sorriu para mim. Nem tive tempo de agradecer, pois alguém gritou o nome dela e eu fiquei sozinha diante do espelho. A lingerie era tão reveladora que eu mal conseguia acreditar que a estava usando. Mas, diante da minha situação desesperadora, a escolha da roupa era o menor dos meus problemas. A voz ameaçadora do meu algoz ecoou pelo quarto, fazendo-me tremer diante do espelho.

- Hora do show! - Ele disse, seu tom cheio de veneno. - Lembre-se de fazer tudo direitinho, satisfaça os clientes ou sua vida terá um fim quando a noite acabar.

Eu não me importava com as ameaças, mas os meus irmãos dependiam de mim e precisavam ser salvos. Encarei o homem nojento que agarrava meu braço com força e simplesmente assenti com a cabeça. Nós atravessamos um corredor sombrio até chegarmos ao salão principal.

Ele apontou para o palco com um olhar cruel e eu, hesitante, subi os degraus, juntando-me às mulheres nuas e seminuas que dançavam ao som da música alta e exibiam seus corpos de maneira sensual. As luzes estavam todas focadas somente no palco, enquanto o resto do ambiente permanecia mergulhado na escuridão.

Fechei os olhos e comecei a dançar, tentando ser tão sedutora quanto as mulheres ao meu redor. As poucas vezes que eu abria os olhos, não conseguia ver claramente os rostos das pessoas que me observavam. Passei a mão pelo meu corpo, ensaiando o movimento de tirar a lingerie, mas nunca realmente o fazia; precisava de tempo, mesmo sabendo que precisaria fazer isso em algum momento. Eu não tinha escolha.

Apertei o tecido entre os dedos enquanto rebolava, equilibrando-me nos saltos vertiginosos. A dor do murro que eu levara ainda latejava em meu rosto, um lembrete constante de que as consequências seriam ainda piores se eu não obedecesse. A maquiagem escondia as marcas físicas, mas a dor não me deixava esquecer o verdadeiro motivo pelo qual estava ali.

Quando terminei a minha dança, escorregando pelo ferro gelado no meio do palco, o barman acenou para mim.

- Ei, garota. Desça do palco, você tem um cliente - Ele disse, apontando para mim.

            
            

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