Capítulo 4 A história dos Clãs

ASTERVAN

O amanhecer mal toca as janelas enormes da mansão quando abro os olhos.

O lobo dentro de mim ainda está inquieto... desde ela. Aquele aroma. Aquela eletricidade.

Como se a Lua tivesse decidido me provocar pessoalmente. Lembro o uivo da noite anterior... lembro como o corpo dela se tensionou... lembro o sonho:

Ela de joelhos, o lobo se aproximando de seu pescoço, reclamando o que é seu.

Seu lobo interior rugiu sob sua pele.

- Não pode ser ela... - murmuro, tentando me convencer.

Mas no fundo, bem no fundo... eu temia que fosse. E isso me aterrorizava.

Sacudo os pensamentos. Me visto rapidamente. O conselho humano da BlackStar Luxury me espera, mas antes tenho outra reunião ainda mais importante: o Conselho do Clã Estrela Negra.

Meu Clã. Meu legado.

Desço as escadas de mármore. Nas paredes, os retratos dos Alfas anteriores me observam; todos homens marcados pela força... e pela tragédia.

Em cada um falta algo. Falta alguém.

Porque nenhum clã sobrevive sem sua Lua.

- Filho - a voz do meu pai ressoa desde o salão principal.

Alfa Magnus Deveraux.

Um homem que impõe respeito sem esforço.

Ao seu lado, minha mãe segura uma pasta com selos de alianças.

Seus olhos brilham com uma calma falsa.

- Está na hora de falar do seu noivado - diz ela, sem rodeios.

O lobo rosna dentro de mim.

- Não vou fingir um vínculo com alguém que não é minha Lua - respondo frio.

Meu pai aperta o punho.

- A linhagem está enfraquecendo, Astervan. Os clãs estão caindo. Ou já se esqueceu dos Lua Vermelha?

Olho para um dos vitrais do salão.

Nele está pintado o símbolo extinto: uma lua vermelha cortando a escuridão.

"Eles se extinguiram porque perderam seu Alfa.

Porque a herdeira... nunca despertou."

É o que dizem as lendas.

Uma criança nascida com uma marca que ardia como fogo lunar.

A última de seu sangue.

A chave do equilíbrio entre a matilha e a Lua.

Desaparecida. Morta. Esquecida... até agora.

Porque eu a vi. Eu a senti. Eu a toquei.

- A herdeira dos Lua Vermelha está viva - afirmo.

Minha mãe empalidece.

- Isso é impossível.

- Eu a senti - minha voz sai grave, quase um rosnado. - É ela. E eu vou encontrá-la.

O Conselho entra no salão: Betas em ternos escuros, Gammas atentos, Omegas silenciosos nas sombras.

Todos se curvam.

Me observam. Esperam ordens. Temem o que eu sei.

Meu pai toma a palavra:

- O Alfa teve... uma revelação. Se for verdadeira, pode mudar tudo.

E quando todos prendem a respiração, ele sentencia:

- Precisamos garantir que a herdeira dos Lua Vermelha não caia em mãos erradas.

Se ela realmente existe... há quem mataria por seu poder.

Meu olhar se torna feroz.

Eu preferiria morrer do que permitir que alguém a toque.

O fogo no meu peito ruge. Meu lobo também.

Ela é minha.

E o mundo inteiro vai saber disso.