Senti o gosto de cobre na boca.
"Sua rata civil", Lola cuspiu, o rosto contorcido em um triunfo feio.
"Você acha que mostrar um crachá de plástico me assusta? Você é uma empregada de luxo que acha que tem chance com o Príncipe."
Ela pegou o celular.
"Quer ver o que o Dante realmente pensa de você?", ela perguntou, sua voz subindo para um grito estridente. "Ei! Todo mundo! Olhem isso!"
Ela balançou o celular para a equipe da recepção, para os seguranças, para suas amigas.
"Olhem o que meu noivo diz sobre a perseguidora dele!"
Ela enfiou a tela a centímetros do meu nariz.
Era uma conversa com Dante.
*Dante: Aff, tenho que ir pro escritório mais cedo amanhã. A Seraphina errou nos registros de expedição de novo.*
*Lola: Por que você não demite ela logo, amor?*
*Dante: Ainda não posso. Ela é uma mula de carga. Faz todo o trabalho chato que eu não quero fazer. Ela é útil, como um grampeador. Mas, meu Deus, ela me entedia até a morte. Você é meu verdadeiro alívio, amor. A única mulher que me faz sentir vivo.*
Eu encarei as palavras.
*Como um grampeador.*
Passei sete anos limpando os pecados dele.
Eu reescrevi livros contábeis para manter os investigadores da força-tarefa contra o crime organizado cegos. Negociei com sindicatos corruptos para manter seus caminhões em movimento. Fiquei entre ele e a prisão federal todos os dias.
E para ele, eu era material de escritório.
Algo dentro do meu peito - aquela criatura suave e esperançosa que eu nutri desde a faculdade - não apenas se quebrou. Desintegrou-se.
Virou cinza fria.
"Viu?", Lola riu, puxando o celular de volta. "Ele te mantém por perto porque você é uma mula. Mas ninguém quer casar com a mula."
A recepcionista, uma garota que ajudei a conseguir licença-maternidade no ano passado, cobriu a boca para esconder uma risadinha.
"Ela realmente achou que tinha uma chance", sussurrou Bella, alto o suficiente para a última fileira ouvir. "É meio triste. Ela não entende o estilo. Ela não é... material para mulher de mafioso."
Elas estavam gravando agora. Três ou quatro celulares apontados para mim, capturando minha humilhação para os stories do Instagram.
"Segurança!", Bella gritou, apontando um dedo com unhas feitas para a porta. "Joguem esse lixo para fora! Ela está assediando a futura esposa do Don!"
Dois guardas deram um passo à frente, hesitantes.
"Senhorita Vitiello...", um começou, usando o sobrenome falso que eu usava no trabalho. "Talvez a senhora devesse ir."
Toquei minha bochecha. Estava latejando no ritmo do meu coração.
Olhei para Lola.
"Você tem certeza que essas mensagens são verdadeiras, Lola?", perguntei suavemente.
"Claro que são verdadeiras!"
"Porque sete anos atrás", eu disse, minha voz perigosamente firme, "Dante ficou sentado do lado de fora do meu dormitório por três semanas implorando por um encontro. Ele me perseguiu, Lola. Eu não o persegui."
Lola revirou os olhos. "Isso foi na faculdade. As pessoas fazem experiências na faculdade. Ele cresceu. Percebeu que precisava de uma Rainha, não de uma funcionária."
"Uma Rainha", repeti.
"Sim", disse Lola, invadindo meu espaço pessoal até que eu pudesse sentir o cheiro de seu perfume caro. "E você está invadindo o meu reino."